Os "cult-movies" que os americanos curtem
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de janeiro de 1990
Vai demorar, mas ainda chegaremos lá: a edição em vídeo de filmes que mesmo nos Estados Unidos ficaram na categoria de cult - isto é, fracassos em seus lançamentos comerciais, revalorizados depois. Ou então obras-propostas que mesmo no lançamento já chegaram com o estigma do fracasso financeiro. A Mystic Fire Vídeo, por exemplo, anunciou na edição de dezembro na sofisticadíssima "Première" - edição americana (160 páginas, US$ 2,50) o lançamento de três das mais audaciosas transposições literárias feitas por Joseph Strick - "Ulysses" e "Retrato do Artista Quando Jovem", baseados em textos de James Joyce (US$ 29,50 cada), mais "O Balcão", de Jean Genet - que, aliás, em 35mm, chegou a ter algumas projeções no Brasil.
Kenneth Anger, 68 anos, que foi ator na infância (em 1935, apareceu como um duende na versão que Max Reinhardt (1873-1943) realizou de "Sonho de Uma Noite de Verão") e ficou famoso como crítico e, especialmente, pelos dois volumes de "Hollywood Babylon" (com estórias tão escabrosas sobre astros & estrelas, que o livro foi proibido de lançamento nos EUA por mais de 10 anos) é autor também de filmes experimentais.
Na recente mostra "Uma história da Vanguarda Cinematográfica nos EUA", organizada pela National Federation of Arts/USIS, que o Museu da Imagem e do Som promoveu em novembro último, dois de seus curtas aqui chegaram: "Scorpio Rising" e "Fireworks". Lélio Sotomaior, crítico e vanguardeiro, deslumbrou-se com este material. Outro cinéfilo entusiasta, Osval Siqueira Filho (Tionkim), na Alemanha, viu uma série de filmes de Kenneth Anger - a coleção "Magic Lantena Cycle", 4 volumes (US$ 29,50 cada), com oito títulos, que a Music Fire Vídeo está distribuindo internacionalmente. A mesma distribuidora colocou dois outros clássicos cult: "The Last of England", de Derek Jarman e "Flesh, Trash and Heat", produzido por Andy Warhol e dirigido por Paul Morrissey.
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Anunciado pela Warner para lançamento no Brasil ainda neste semestre, "Batman" já está à venda nos EUA por US$ 24,98, depois de ter faturado US$200 milhões nas telas. O vídeo de "A Pequena Vera", que fez de Natalya Negoda a primeira sex symbol do novo cinema russo - e que até ontem estava em exibição no Cine Ritz - chegou supervalorizado em vídeo nos Estados Unidos: a Walter Bearer Films lançou-a em versão original, com legendas em inglês, por US$ 89,95 - uma nota preta mesmo para consumidores americanos. "Oito e Meio", 1963, de Frederico Fellini, em edição da MPI Home Vídeo, custa US$ 59,95. Já "Como Matar Seu Chefe" (9 to 5), comédia com Dolly Parton, Lily Tomlin e Jane Fonda, em edição da CBS/FOX Vídeo (empresas que ainda não entraram no mercado nacional) é oferecida por apenas US$ 19,98 (mais ou menos NCz$ 600,00, no mercado paralelo).
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Um vídeo que colocará água na boca do colecionador e especialista em cinema japonês Valêncio Xavier, diretor do MIS: "Os Sete Samurais", 1954, de Akira Kurosawa, acaba de sair no mercado americano a US$ 39,98. Valêncio já separou os dólares para importá-lo pelo primeiro portador que se disponha a trazê-lo dos Estados Unidos.
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VídeoNotas
Já que não adianta sonhar em dólares e com os lançamentos americanos, vamos às novidades deste início de ano. A começar pela Warner Home Vídeo, que está botando para quebrar em termos de edições. Neste último pacote, ela trouxe dois filmes interessantíssimos: "Bananas", 1971, de Woody Allen - da fase em que ele ainda não havia obtido a consagração de grande observador do american way of life. Para os fãs dos Beatles, sai o lisérgico desenho animado de longa-metragem "Yellow Submarine", de George Dunning. Uma viagem musical pelos anos 60 ao som das belíssimas canções de Lennon e McCartney.
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A Warner Home Vídeo traz agora em vídeo um dos filmes polêmicos do ano que passou: "Brinquedo Assassino" (Child's Play), de Tom Holland. Houve quem o adorou (como o crítico Wilson Cunha, que o incluiu em sua lista dos melhores este filme de suspense e terror). Mas, para muitos, merecia a premiação de pior filme do ano. Portanto, a ser conferido pelos espectadores que não o viram em seu lançamento no Cine Condor.
Mediocridades comerciais da MGM, agora em vídeo: "Clube Paraíso", de Harold Ramis, que apesar do bom elenco (Robbin Williams, Peter o'Toole) é uma perda de tempo. "Loucademia de Polícia 6: Cidade em Estado do Sítio", de Peter Bonerz, uma das melhores bilheterias do ano passado, também já está em vídeo.
Cuirosidade: Carl Reiner ("Cliente Morto Não Paga") com uma comédia que não havia chegado nos circuitos: "Bert Rigby na trilha da fama" (Bert Rigby, You're a Fool). Uma comédia musical, com os desconhecidos Robert Lindsay e Robbie Coltrane, que tenta homenagear alguns mitos dos anos de ouro do musical - a começar por Fred Astaire e Gene Kelly.
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