Reedições com marketing
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de abril de 1989
Há mais ou menos 10 anos, Guto Graça Mello, na época diretor artístico da Sigla/Som Livre, comentando seu projeto de fazer da etiqueta uma presença vigorosa na MPB, a definia apenas "como uma etiqueta-marketing". Passados 10 anos e dentro das leis do mercado, a Sigla transformou-se cada vez mais em etiqueta-marketing, dispensando seu elenco (que, em certa época, chegou a ser expressivo) e se utilizando apenas de fonogramas de todas as outras gravadoras - já que a força de divulgação que a Rede Globo garante, compensa a cessão das faixas por outras fábricas.
Apostando no certo, a Sigla está entre as que mais vende. São discos descartáveis mas que atingem um universo fiel, motivado pela comunicabilidade das montagens. Por exemplo, de seu pacote mais recente estão o público de Xuxa (que com seus 3 elepês já vendeu quase 4 milhões de cópias) foi produzido "Aos Baixinhos com Carinho", reunindo 12 faixas de apelo infantil - desde trabalhos de qualidade como "Aquarela" (Toquinho) e "Circo" de Sidney Miller até "O Carimbador Maluco" (Raul Seixas), passando por hits do passado ("Papai Walt Disney") ou produções extremamente comerciais, além do antigo Trem da Alegria ("Uni, Duni, Tê") ou do Balão Azul (com a participação de Moraes Moreira e Baby Consuelo), que, em outras épocas, ocupou o espaço em que hoje Xuxa reina (mas que está deixando para a sua xiquita Andréa).
A imagem de Chacrinha (Abelardo Barbosa, 1918-1988), ajuda a vender e assim "14 Inesquecíveis Sucessos do Velho Guerreiro" reúne uma geléia geral que vai desde Clara Nunes ("Morena de Angola") até Blitz "(Você Não Soube Me Amar"), entre os já desaparecidos, passando por Tim Maia ("Primavera"), Elba Ramalho ("Banho de Cheiro"), Caetano ("Alegria, Alegria"), Gilberto Gil ("Aquele Abraço"), Alcione ("Não Deixe o Samba Morrer"), nesta miscelânea selecionada por Leleco Barbosa/Heleno Oliveira, este um experiente homem de vendas e que, portanto, deve saber do que o povo gosta.
Outra misturada é "Sempre Sucesso", reunindo basicamente fonogramas da própria Sigla - e que mostra o bom elenco que já chegou a possuir: Luiz Melodia ("Juventude Transviada"), Djavan ("Fato Consumado"), Fafá de Belém ("Filho da Bahia"), Francis Hime ("Trocando em Miúdos"), Rita Lee ("Ovelha Negra"), Ruy Maurity ("Nem Ouro, Nem Prata"), Wando ("Minha Liberdade"), entre outros. Um segundo volume de "Super Sucesso" reúne novamente faixas com Rita Lee e Wando, do instrumentista Marcio Montaroyos, do grupo Azymuth, da afinada Marília Barbosa e até - pasmem - a hoje internacional Sônia Braga dando uma de cantora em "Sou o Estopim". Na mesma faixa, só que este com gravações mais recentes, "A Super Parada de Ouro" reúne Lulu Santos ("Satisfação"), Fábio Jr. ("Felicidade"), Os Paralamas do Sucesso ("Uns Dias"), Ed Motta e Conexão Japeri ("Vamos Dançar"), Engenheiros do Havaí ("A Revolta dos Dandis"), Pepeu Gomes ("Pedro Não é Gente Ainda") entre outros descartáveis sucessos.
Finalmente, um elepê com faixas de três artistas de maior solidez: Djavan ("Flor de Lis", "E Que Deus Ajude", "Samurai" e "Fato Consumado"), Ivan Lins ("Vitoriosa", "Madalena", "Sede dos Marujos", "Luas de Pequim") e Moraes Moreira ("Pombo Correio", "Lá vem o Brasil descendo a ladeira", "Espírito Esportivo" e "Pedaço de Canção").
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