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Aramis

A revisão da história nas imagens de "Jango"

Se os raros petebistas da cidade não estivessem tão desestruturados na crise em que vive o agora desativado diretório regional, da qual nem o histórico e simpático Mathias Junior consegue se salvar, e o PMDB tivesse maior preocupação cultural do que a fome pelo poder e a glória, talvez a estréia de " Jango ( Cine Lido I, amanhã, 5 sessões ) pudesse motivar as lideranças ( sic ) que conviveram nos anos de JG deste lançamento, a promover debates que seriam bastante oportunos. xxx Mesmo estreando sem maior promoção até ontem ainda não se tinha a confirmação da vinda do diretor Silvio Tendler a exibição de "Jango" é um evento dos mais importantes numa semana repleta de bons programas cinematográficos : " A Próxima Vitima" ( Groff), "O Reencontro" ( Astor ), " Ser Ou Não ser" (Plaza ) e, especialmente. " Casanova e a Revolução" ( Italia ). Some-se ainda a temporada de "Xandu Quaresma", de Chico de Assis, com Antonio Fagundes ( auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, até domingo, 21 horas ). Desde que teve sua primeira exibição justamente a 13 de março último,nos 20 anos do histórico "comicio das reformas" "Jango" vem recebendo elogios, lotando cinemas, e especialmente emocionando o público. A exemplo do que conseguiu em " Os Anos Jk", Silvio Tendler resgatou uma parte da história do Brasil, proporcionando que toda uma geração pudesse conhecer melhor o que de fato ocorreu no Brasil nestas três últimas décadas, na qual o arbitro, a violência e o autotarismo, insistiram em excluir da realidade a participação de personagens notáveis. Deliberadamente apaixonado mas com a honestidade dos que amam. Silvio tendler fez um entenecedor filme sobre João Goulart, focando não só em sua vida, mas colocando toda a estrutura de repressão que mergulhou a América Latina na mais brutal represão militar a partir dos anos 60. xxx No XII Festival do Cinema Brasileiro, em Gramado ( 9 a 15 de abril ), " Jango " foi filme que provocou maior emoção no Público. Centenas de espectadores deixaram o cine Embaixador com lágrimas nos olhos e a atriz. Norma Benguel, ela própria vitima da repressão nos anos 60, exclama: " É uma tragédia tropical ! E Pela primeira vez vemos a história contada de nosso lado". No debate que aconteceu no dia seguinte, auditório do hotel Serra Azul, os elogios a obra de Silvio Tendler foram unânimes. Mesmo os mais radicais críticos, reconheciam a importância deste filme realizado com base em cine-jornais, forografias e depoimentos, num trabalho de verdadeira arqueologia cinematográfica, considerando a falta de material disponivel apesar dos fatos terem ocorrido há relativamente poucos anos. Produzido em regime de cooperativa, com a participação direta de Denise Goulart e do jornalista Raul Ryff ( secretário de imprensa de Goulart ), " Jango "emociona da primeira a última cena, por trazer sequências de uma história recente e brutal. Compromissos de distribuição assumidos por Tendler com os circuitos de exibição, os impediram de fazer o lançamento do filme no cine Groff, como havia prometido ao programador francisco Alves dos Santos.Afinal.Tendler teve a colaboração do ex-diretor da Cinemateca do Museu Guido Viaro, Valencio Xavier, como consultor de imagens inclusive recuperando algumas sequências ( como a de Jango e Ney Braga, em seu primeiro governo, num comicio do Interior do Paraná ) do acêrvo da CMGV. As fotos de cena também foram feitas por um paranaense, o fotografo Américo Vermelho. xxx " Jango" é um documentário emoção, que traz com extrema sinceridade um periodo da vida brasileira. Premiado como melhor filme, no juri popular, de Gramado, a maior láurea, entretanto, é a que vem conquistando: casas lotadas em todas as sessões. Vamos ver se em Curitiba acontece o mesmo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
11/05/1984

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