A revisão da história nas imagens de "Jango"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de maio de 1984
Se os raros petebistas da cidade não estivessem tão desestruturados na crise em que vive o agora desativado diretório regional, da qual nem o histórico e simpático Mathias Junior consegue se salvar, e o PMDB tivesse maior preocupação cultural do que a fome pelo poder e a glória, talvez a estréia de " Jango ( Cine Lido I, amanhã, 5 sessões ) pudesse motivar as lideranças ( sic ) que conviveram nos anos de JG deste lançamento, a promover debates que seriam bastante oportunos.
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Mesmo estreando sem maior promoção até ontem ainda não se tinha a confirmação da vinda do diretor Silvio Tendler a exibição de "Jango" é um evento dos mais importantes numa semana repleta de bons programas cinematográficos : " A Próxima Vitima" ( Groff), "O Reencontro" ( Astor ), " Ser Ou Não ser" (Plaza ) e, especialmente. " Casanova e a Revolução" ( Italia ). Some-se ainda a temporada de "Xandu Quaresma", de Chico de Assis, com Antonio Fagundes ( auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, até domingo, 21 horas ).
Desde que teve sua primeira exibição justamente a 13 de março último,nos 20 anos do histórico "comicio das reformas" "Jango" vem recebendo elogios, lotando cinemas, e especialmente emocionando o público. A exemplo do que conseguiu em " Os Anos Jk", Silvio Tendler resgatou uma parte da história do Brasil, proporcionando que toda uma geração pudesse conhecer melhor o que de fato ocorreu no Brasil nestas três últimas décadas, na qual o arbitro, a violência e o autotarismo, insistiram em excluir da realidade a participação de personagens notáveis. Deliberadamente apaixonado mas com a honestidade dos que amam.
Silvio tendler fez um entenecedor filme sobre João Goulart, focando não só em sua vida, mas colocando toda a estrutura de repressão que mergulhou a América Latina na mais brutal represão militar a partir dos anos 60.
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No XII Festival do Cinema Brasileiro, em Gramado ( 9 a 15 de abril ), " Jango " foi filme que provocou maior emoção no Público. Centenas de espectadores deixaram o cine Embaixador com lágrimas nos olhos e a atriz. Norma Benguel, ela própria vitima da repressão nos anos 60, exclama:
" É uma tragédia tropical ! E Pela primeira vez vemos a história contada de nosso lado".
No debate que aconteceu no dia seguinte, auditório do hotel Serra Azul, os elogios a obra de Silvio Tendler foram unânimes. Mesmo os mais radicais críticos, reconheciam a importância deste filme realizado com base em cine-jornais, forografias e depoimentos, num trabalho de verdadeira arqueologia cinematográfica, considerando a falta de material disponivel apesar dos fatos terem ocorrido há relativamente poucos anos. Produzido em regime de cooperativa, com a participação direta de Denise Goulart e do jornalista Raul Ryff ( secretário de imprensa de Goulart ), " Jango "emociona da primeira a última cena, por trazer sequências de uma história recente e brutal. Compromissos de distribuição assumidos por Tendler com os circuitos de exibição, os impediram de fazer o lançamento do filme no cine Groff, como havia prometido ao programador francisco Alves dos Santos.Afinal.Tendler teve a colaboração do ex-diretor da Cinemateca do Museu Guido Viaro, Valencio Xavier, como consultor de imagens inclusive recuperando algumas sequências ( como a de Jango e Ney Braga, em seu primeiro governo, num comicio do Interior do Paraná ) do acêrvo da CMGV. As fotos de cena também foram feitas por um paranaense, o fotografo Américo Vermelho.
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" Jango" é um documentário emoção, que traz com extrema sinceridade um periodo da vida brasileira. Premiado como melhor filme, no juri popular, de Gramado, a maior láurea, entretanto, é a que vem conquistando: casas lotadas em todas as sessões. Vamos ver se em Curitiba acontece o mesmo.
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