As revistas alternativas e especializadas em ascensão
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de fevereiro de 1992
Enquanto o mercado tradicional de revistas afunila-se cada vez mais em torno de poucas publicações de interesse geral e há uma segmentação por especialidades, as publicações regionais - que durante décadas, até os anos 60, traduziam um jornalismo de valor praticamente desapareceram. A época de publicações como a "Revista do Globo", em Porto Alegre, "Alterosa", em Belo Horizonte e a "Panorama", que em Curitiba (após ter sido fundada em Londrina, pelo professor Adolfo Soethe) chegou a atingir quase 40 mil exemplares, parece ter passado.
Apesar de hoje quarentona, "Panorama" ainda tentar resistir aos novos tempos e em algumas cidades existirem esforços admiráveis, como o que fazem os jornalistas Deoclides Rodrigues e Heinz Schmidt em Cascavel ("Oeste", circulando regularmente desde 1984), fazer revistas mensais ou bimestrais é uma aventura comercial (*).
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Assim, os esforços editoriais que ocorrem para colocar idéias e informações em publicações que reflitam aspectos regionais da cultura e realidade brasileira devem merecer aplausos, especialmente quando de parte de jornalistas ou instituições que buscam este caminho. Mesmo em Brasília, oficialmente a sede do poder, com um mercado jornalístico dos mais privilegiados (em termos de remuneração aos profissionais das grandes sucursais da imprensa nacional) manter a periodicidade de duas publicações locais vem sendo um desafio. De um lado, o poeta e jornalista Luís Turiba tenta fazer da intelectualizada "Bric à Brac" uma revista cultural de padrão de primeiro mundo, assemelhando-se a melhor revista sobre artes gráficas do Continente - e uma das 4 mais importantes do mundo - a "Gráfica", que o heróico Oswaldo Miranda Jr., apoiado publicitariamente pelos seus companheiros Orestes Wosthoff e Carlos Alberto Costa vem se empenhando em manter há 7 anos.
Jornalisticamente, numa linha up to date e com relativa independência, há quase um ano que um dos mais conhecidos repórteres políticos, Oliveira Bastos (ex-sócio da curitibana Filomena Gebran e de Sebastião Nery hoje adido cultural do Brasil em Paris) na polêmica "Politika" (**), fundou "Excelência", publicação mensal, em papel da melhor qualidade e que tendo um corpo de colaboradores que inclui profissionais como Luís Guttemberg, André Stumpf, Maria do Rosário Caetano, Carlos Chagas, Waldomiro Cecon, Tete Catalão, Wladimir de Carvalho, Reynaldo Jardim, Luís Turiba etc., apresenta material de primeira qualidade. Tanto é que, mesmo que timidamente, começa a se expandir nacionalmente, já sendo possível encontrá-la em algumas bancas mais bem fornecidas em Curitiba.
Voltada especialmente a área ecológica - um setor que tem provocado o aparecimento de várias publicações - "Alternativa", com o título de "Educação-Universidade Hoje", editada por Neuma Dias e patrocínio da Universidade Federal da Paraíba, revela um bom nível de reportagens. Em seu número 2, por exemplo dedicou extensa matéria colorida ao Vale dos Dinossauros, existente na bacia do Rio do Peixe, em matéria pesquisada por Alex Santos, que também abordou o mesmo tema, ainda mais amplamente no suplemento "Correio das Artes" do jornal "A União", de João Pessoa.
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A ecologia - que agora ainda mais impulsionada pela ECO-92 se afigura como assunto do momento - já possui uma bibliografia crescente, destacando-se várias publicações. Uma das mais recentes, foi a iniciativa do agrônomo paranaense Luiz Renato Munhoz em criar a "Ecos-Revista Ecológica, de Cultura e Idéias", que nascendo modestamente (formato 23x32, 12 páginas, impressão em 2 cores), pretende uma vida regular, aglutinando colaborações de ecologistas interessados de nosso Estado.
Já o arquiteto Aldo Matsuda, de um projeto inicialmente restrito a uma edição comemorativa aos seus 25 anos de formatura, acabou transformando "Idéias & Perspectivas" numa publicação trimestral, cujo segundo número, com bom nível gráfico e redacional, circulou em dezembro. Há promessas do editor de manter a regularidade e ampliá-la para assuntos culturais, a exemplo do que aconteceu com a histórica "Módulo", fundada nos anos 40 por Oscar Niemeyer e que já teve várias fases.
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Notas
(*) Existem pelo menos uma dezena de outras revistas editadas no Paraná, desde publicações sociais ("Sucess", "Charm") até publicações específicas dirigidas, que aqui deixamos hoje de citar por falta de espaço.
(**) Na linha alternativa ("Pasquim", "Opinião", "Brasil Urgente" etc), "Politika" circulou por pouco mais de um ano, entre 1971/71.
LEGENDA FOTO - Revistas como a "Good Year" e a recém-lançada "Hit" - uma espécie de "Billboard" nacional - tem público específicos.
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