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Aramis

Revolução de 30 na revisão de Joffily

Pouco a pouco, o exemplo do historiador Hélio Silva, em remexer na História do Brasil neste século, fazendo revelações importantes - e que ajudam a melhor entender certos fatos atuais, vai sendo acrescida de novos - e importantes - depoimentos. Memórias, pesquisas, ensaios, teses, depoimentos etc. - vêm sendo escritos por pessoas que, de uma forma ou de outra, têm alguma contribuição a oferecer para o melhor compreensão de nossa vida política e econômico-social. E no final de dezembro, um empresário radicado em Londrina, José Joffily, 65 anos, para muitos identificado apenas como um dos sócios de uma empresa de defensivos agrícolas, tornou-se noticia nacional com o lançamento, dia 11 de dezembro, no Rio de Janeiro, e dia 20, em Londrina - de "Revolta e Revolução" - Cinqüenta Anos Depois" (Editora Paz e Terra, 435 páginas, Cr$ 330,00). O livro de Joffily aparece as vésperas do ano em que se comemorará o cinqüentenário da revolução de 30 - que eclodiu 3 meses após o presidente da Paraíba, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque (Umbuzeiro, PA, 1878 - Recife, PE, 1930) ter sido assassinado a 27 de julho, na Confeitaria Glória, em Recife, pelo advogado João Duarte (e este crime político foi um dos fatores que levaram a revolução de 30, já que João Pessoa era candidato a vice-presidência da República, na chama Aliança Liberal, de Getúlio Vargas, derrotada nas eleições pela chapa oficial, liderada pelo presidente de São Paulo, o perrepista Júlio Prestes). Deputado federal em quatro legislaturas, pela legenda do PSB, cassado em 1964, Joffily, paraibano de Campina Grande, tinha 16 anos na época dos acontecimentos e, como soldado e estudante, os acompanhou de perto. Pode, assim, somado a passagem dos 50 anos dos fatos - e um amadurecimento político - social - ideológico, escrever o mais profundo estudo sobre este episódio, tão importante quanto desconhecido da História do Brasil. Em recente entrevista (suplemento "Livro", "Jornal do Brasil", 8/12/1979), o autor disse ao jornalista José Neumanne Pinto que "a História nasce do livre debate das idéias. Por isso escrevi um livro tão polêmico". Recorrendo a dezenas de ilustrações, reproduzindo em fac-simile numerosos documentos, além de algumas fotos inéditas, Joffily busca demonstrar o erro básico do maniqueísmo com o qual a Revolução de 1930 tem sido colocada pelos historiadores oficiais: até agora, todos os depoimentos sobre esse fato ocorrido há meio século, foram marcados pelo triunfalismo dos "liberais", vencedores, ou pelo ressentimento dos perrepistas derrotados. O ex-deputado federal Joffily, no livro que define com "a tentativa mais imparcial possível", registrada no Brasil no final da década de 20 e início dos anos 30, busca, entre outras diversas teses, provar que a Revolução de 1930, ao contrário do que se tem dito tantas vezes, não foi um conflito entre o capital modernizador, urbano e o tradicionalismo dos latifundiários, mais simplesmente uma disputa interoligárquica pelo Poder. Essa tese é também defendida por historiadores como Sérgio Buarque de Holanda e Boris Fausto. Mas Joffily acrescenta que a revolução não foi traída, como pretende Hélio Silva "Graças, porém, aos movimentos populares que acabaram participando da luta, foram alcançadas conquistas políticas e sociais inegáveis, como o voto secreto, o voto feminino, a jornada de 8 horas de trabalho, a regulamentação das férias e a estabilidade no emprego". Aspectos econômicos - dos interesses das oligarquias de Pernambuco (família Pessoa de Queiroz, até hoje das mais poderosas em Recife) e mesmo a interferência de grupos estrangeiros -, os documentos mostram que as Empresas Elétricas Brasileiras de capital americano, presididas na época por Paul McKee, deram dois mil contos de réis aos revolucionários mineiros (feita a correção monetária, o autor calcula que isto corresponderia a Cr$ 64 milhões) e são dados novos para melhor entendimento desse episódio de nossa história, importante - como lembrou Domingos Pellegrini Jr., escritor e jornalista de Londrina, por fazer uma esclarecedora revisão / reavaliação, já que entre os jovens "grassa uma grossa ignorância em relação aos acontecimentos de 30". Afinal, Joffily aponta em seu livro - que chega a ser bem humorado e ao mesmo tempo trágico levantamento - aquilo que os livros de História, adotadas pelas redes de ensino, nunca aprofundaram, limitando a poucas linhas e muitos preconceitos. E, entre os intelectuais, graças à convicção de que a Revolução de 30 não foi verdadeiramente uma revolução mas um simples "rearranjo institucional", interoligárquico, ou seja: uma disputa de poder e um reacomodamento de posições entre a oligarquia rural e a noca burguesia industrial - comercial. Finalmente, entre o povo - especialmente na Paraíba - grassa ainda hoje uma idolatria por João Pessoa, o governador paraibano, cujo assassinato precipitou a revolta contra a República Velha. O secretário Luís Roberto Soares, da Cultura - apaixonado estudioso de ensaios de história e sociologia, que aproveitou a folga de fim de ano para a leitura do livro de Joffily, bem que poderia convidar o autor para vir a Curitiba, não só para aqui lançar o seu livro, como fazer alguma palestra sobre este aspecto atual, passado a 50 anos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
10
06/01/1980

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