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Aramis

Veiga póstumo e o lp histórico da Tropicalia

Felizmente as gravadoras estão dando atenção a importância de reeditarem discos importantes, que marcaram determinadas fases de nossa música mas que, por diversas razões, desapareceram das lojas. Com maior ou menor organização, as fábricas procuram recolocar nas lojas aquelas gravações que podem motivar novas faixas de colecionadores - ou serem readquiridas pelos que já possuíram os lançamentos originais, mas que, de tanto ouvirem, acabaram "gastando" as faixas. João Luiz Ferreti, um dos mais organizados pesquisadores e produtores de reedições, marcou a década de 70 com um trabalho dos mais sérios, produzindo mais de 300 reedições antológicas do excelente acervo da Continental que, existindo há 50 anos, dispõe, obviamente de um tesouro em termos de registros sonoros. Ao deixar a Continental, com a reestruturação daquela fábrica, Ferreti tem feito alguns trabalhos avulsos - para a RGE, na série "Retrospecto", iniciada com uma coletânea de gravações de Geraldo Vandré - e já com 3 outros volumes lançados, mas ainda não divulgados, ou então para a K-tel, nova etiqueta que está comprando tapes de outras fábricas e reeditando-os. Assim é que a K-tel recolocou nas lojas, na série "Aplauso", uma montagem dos dois discos que Elis Regina fez na Continental em 1962, um disco com registro de Cyro Monteiro (1913 - 1971), afora o primeiro disco de Belchior - feito em 1974, na Chantecler ("A Palo Seco"), mas que também foi relançado pela própria etiqueta do Galinho. Outras reedições devem aparecer, incluindo um de Jorge Veiga (1919 - 1979), o chamado "caricaturista do samba", criador de um estilo descontraído de interpretar sambas simples - e que há pouco mais de um ano, fez o roteiro Sul do Projeto Pixinguinha. A CBS, que também dispõe de excelente acervo, reeditou 12 registros deste cantor em "O Eterno Jorge Veiga", com produção de Eduardo Athayde, arranjos e regências de maestro [Pixinguinha]. É um disco interessante, especialmente para quem não acompanhou o período de maior glória de Veiga, nos anos 40/50, da Rádio Nacional. A maioria das músicas são bem humoradas, maliciosas, dentro do estilo caricatural que valeu a Veiga o seu cognome artístico: "Café Society" (Miguel Gustavo), "O Intrujão" (Eda Reis), "Faustina" (Gadé); "Fizeram Muamba"..." (Amado Alves), "Confissões de Boemio" (Rouxinol), "Recado que a Maria Mandou" (Haroldo Lobo/ Wilson Batista) e "Almerinda" (Bidu Reis). Mas o disco marca também pela presença de Veiga como compositor, obviamente com diferentes parceiros: Newton Teixeira/ Black Out ("Casa Que Tem Cachorro"), Zé do Violão ("Sambista no Céu"), Gordutinha ("Festival de Bolachadas") e Marinho da Muda ("Boi Com Abóbora"). Em sua "Fora de Serie", a Polygram vem relançando discos dos mais importantes, com a vantagem de serem produções que chegam as lojas a preços bem mais econômicos. Neste final de ano, mais um pacote com 5 relançamentos de importância. Um deles, "Muito à Vontade", com o pianista e compositor João Donato, já registramos há duas semanas, por sua importância. Os quatro outros são representativos de várias fases e gêneros. Destes, o mais importante é realmente "Tropicalia" produção de Rogério Duprat no explosivo ano de 1968 e que foi o registro mais representativo do tropicalismo. Disco referencial, de citação obrigatória em qualquer estudo da MPB da década de 60, neste elepe foram feitas experiências avançadas - polêmicas para a época, hoje aparecendo um tanto ingênuas. A irreverência a partir da capa e a reunião de nomes dos mais expressivos fazem de "Tropicália" (Fontana, 6485121), um disco cujo reaparecimento deve ser saudado com o maior destaque. Gil, por exemplo comparece nas faixas "Miserere Nobis" (parceria com Capinam), "Geleia Real" (parceria com Torquato Neto), "Bat Macumba" (parceria com Caetano Veloso) e, ao lado de Caetano Veloso em "Três Caravelas" (Las Três Carabelas, de Algueró Jr / Moreau, versão João de Barro), "Parque Industrial" (Tom Zé) e "Hino do Senhor do Bonfim" (João Antonio Wanderley) - nestas duas somado a Gal e os Mutantes (então em sua formação original: os irmãos Sérgio e Arnaldo Baptista e Rita Lee). Caetano dá a sentida - e antologicamente respeitosa interpretação ao clássico "Coração Materno" de Vicente Celestino e as suas composições "Baby" (dividida com Gal Costa) e "Enquanto Seu Lobo Não Vem". Os Mutantes interpretam "Panis et Circenses" (Gil/ Caetano), Gal canta "Mamãe Coragem" (Caetano/ Torquato) e Nara Leão interpreta a belíssima "Lindonéia" (Caetano). Enfim, um momento de transição musical, num ano dos mais explosivos - na política, na música, no mundo. Na década de 60, Ataulfo Alves (1909-1969) fez uma série de discos na Polygram, um dos quais foi "Eternamente Samba", onde havia a participação especial de Carmem Costa - esta grande, injustiçada e esquecida cantora - e Ataulfo Alves Jr, que agora vem fazendo sua carreira-solo na WEA, após ficar preso por algum tempo na RCA Victor. Gravado em 1966, "Eternamente Samba", abre com polêmica entre Ataulfo Alves e Mirabeau (na época marido de Carmen Costa) e do que resultou músicas como "Pois É", "Sai do Meu Caminho", "Duro com Duro", "O Vento Que Venta Lá" e "Na Ginga do Samba" - todas de Ataulfo - e "A Morena Sou Eu" (Mirabeau - Milton de Oliveira) e "Conte o Caso Direito" (Vladimir - Nilton Carudo). Com a participação de Carmen Costa e o regional do Caçulinha, este pot-porri ocupa 8:02" e já vale pelo disco, mas que tem ainda outros momentos marcantes da obra de Ataulfo, como "Vassalo do Samba", "Gente Bem", "Quantos Projetos" (parceria com Antonio Domingo), "Laranja Madura" e "Lenço Branco". Faixas de outros autores também foram incluídas como "Madame Fulano de Tal" (Cyro Monteiro/ Dias da Cruz), "Destino da Madeira" (Adelino Alves / Vargas Jr) - com interpretação de Ataulfo Jr, "Caco Velho" (Ary Barroso) e "Favela" (Hekel Tavares - Joracy Camargo). Um dos projetos mais importantes da Polygram, que infelizmente não teve continuidade foi a Coleção Pesquisa da Música Brasileira, com registros de sentido antropológico-musical. Em 1969, saiu nesta coleção "Capoeira Angola", com o falecido mestre Pastinha e sua Academia, de Salvador, interpretando temas da música afro-brasileira, tão necessária de ser preservada. Na época, o disco passou desapercebido, sendo retirado de catálogo. Agora, relançado (Fontana, 6485119), mereceria vir acompanhado de um texto explicando sua importância - já que se trata, realmente, de um documento de uma forma musical de origens africanas, perpetuada na Bahia - e às vésperas de desaparecer. Finalmente, temos "Asa Branca", com o Quinteto Violado, lançado em 1972, onde o grupo formado por Luciano Pimentel, Fernando Filizola. Toinho Alves, Marcelo Melo e, na época, o flautista Sando, iniciava uma trajetória que se mantém até hoje - e que terá [seqüência] na década de 80, já contratado pelos Discos Bandeirantes, onde começa em breve a fazer um novo disco. Nesta produção de 8 anos passados, o Quinteto Violado referenciou aos mestres do baião, com três regravações: "Asa Branca" (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira), "Vozes da Seca" (Gonzaga/ Zé Dantas), "Baião da Garoa" (Gonzaga/ Herve Cordovil), e "Acaua" (Zé Dantas). As demais composições são dos próprios integrantes do quinteto: "Freviola" (Marcelo), "Santana" (Filizola), "Reflexo" (Luciano/7 Filizola/ Toinho), "Imagens do Recife" (Deda/ Marcelo/ Toinho), "Roda de Ciranda" (Marcelo7 Toinho), "Agreste" (Filizola/ Sando) e, por último, aquele que é, em nosso entender, o melhor trabalho do Quinteto Violado: a adaptação que Toinho e Marcelo fizeram em 1970 sobre a "Marcha Nativa dos Índios Quiriris".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
33
06/01/1980
Eu, como Grande Apreciador das Musicas Brasileira, Tais como Ataulpho Alve - Eternamente Samba, Noca, Poly, Saia Amarela, Jakson do Pandeiro, Trio Nordestino, Vilamar Damaceno e Musicas Harponicas e etc. procuro no comercio e não encontro eu acho que como ouvite deste tipo de musicas, existem milhões de Brasileiro procurado e não encontra, pergunto? onde estão este acevovos musicais ou estão nos baus das gravadoras ou nos idiotasdos seus representantes que não conhece musicas.

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