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Quinteto Violado regravou "Missa do Vaqueiro" em CD

Em todos os terceiros domingos de julho, realiza-se, desde 1970, em um local ao ar livre do município de Serrita, a 553km de Recife, a Missa do Vaqueiro. É uma missa nordestina a que a população das redondezas, vaqueiros encourados à frente, comparece para um ato de fé - transformado a partir de 1976 em lazer e festa, hoje incluído nos roteiros turísticos - desde à noite de sexta-feira anterior a missa a fim de cultuar a memória do vaqueiro Raimundo Jacó, primo do grande Luiz Gonzaga, assassinado naquele local a 8 de julho de 1954. O ato religioso, oficiado em seus primeiros anos pelo padre João Canciou, ganhou de ano para ano uma tal dimensão de comunhão pública, "contra a maldade humana e as injustiças sociais" - como, há 15 anos, escrevia J. Ramos Tinhorão no "Jornal do Brasil", que o médico, poeta e compositor Jandini Filizola, da Caruaru, resolveu, em 1973, compor uma música para cada uma das partes. Assim a missa abre com a "Toada de Galo" (canto de entrada que nos primeiros anos ficou a cargo das vozes dos aboiadores), segue com "A Morte do Vaqueiro" (Nelson Barbalho/Luiz Ganzaga) e continua com uma composição de Filizola para cada parte seguinte da missa: Kyria Eleison, Gloria, o Credo, Ofertório, Sanctus Sanctus, Pai Nosso, Comunhão e Canto de Despedida. Em 1976, coincidindo com a invasão dos turistas no parque Estadual do Vaqueiro, onde a missa se realiza, a solenidade contou com a participação do grupo de músicos profissionais do Quinteto Violado - grupo instrumental-vocal surgido há 20 anos, em Recife e que com 16 elepês editados no Brasil, mais de cinco feitos no mercado internacional, se constitui num dos mais autênticos exemplos de preservação da música brasileira de raízes. Em julho de 1976, em seu quinto elepê para a Polygram, o Quinteto Violado gravou a "Missa do Vaqueiro", numa produção despojada - capa e encarte em papel sepia, com uma estrutura fiel a missa. Este registro permaneceu como um dos pontos altos dentro de sua respeitabilíssima discografia, na qual o Quinteto tem sempre valorizado os ritmos brasileiros e mesmo tentando propostas mais audaciosas como a gravação que fez da ópera "O Guarani" de Carlos Gomes (1986), numa adaptação sui generis. Passados 15 anos daquela gravação - e com poucas substituições em sua formação - embora Marcelo Mello e Toinho Alves continuem firmes na liderança, há 20 anos - o Quinteto Violado decidiu comemorar os 20 anos de carreira com uma regravação desta "Missa do Vaqueiro". Em Recife, em maio último, entraram em estúdios para uma produção dirigida por Toinho e Marcelo e que contou inclusive com a participação especial da mais admirável figura da Igreja - Dom Helder Câmara. Acrescido ao Quinteto, Marcelo no violão, viola e voz, Toinho no baixo, voz (e fazendo a narração), Ciano na flauta e violão; a participação afetuosa de Roberto Menescal na percussão e voz - esta gravação saiu em CD, numa produção independente do próprio Quinteto - que deixando a Polygram em 1979, tem feito produções independentes ou lançadas por outras etiquetas (como a Eldorado a RCA). As gravações da "Missa do Vaqueiro": a abertura original da "Toada de Gado" (Arlindo Marcolino) e "A Morte do Vaqueiro" (Barbalho/Gonzaga). Na abertura Apesar de algumas mudanças na estrutura musical - por exemplo, o poema "Vaqueiro, Meu Irmão Vaqueiro", com D. Helder Câmara, antecipa a "Toada de Gado" (Vavá Machado/Arlindo Marcolini), substituindo "A Morte do Vaqueiro" (Barbalho/Gonzaga) da gravação original. Basicamente a estrutura original com os nove temas de Janduy Filizola foram mantidos. O resultado é uma obra emotiva, integrada a cultura popular e que merecendo edição exclusiva em CD prova que o público do Quinteto Violado também sofisticou-se nestas duas décadas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
27/10/1991

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