A Banda de Pau & Corda e a Fazenda Modelo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de setembro de 1976
Depois que o Quinteto Violado foi lançado nacionalmente por Roberto Santana, em 1972, trazendo uma forte - mais revisitada - música nordestina, outros grupos instrumentais-vocais de Pernambuco também tiveram a sua vez, destacando-se dois deles. O Quinteto Armonial (que nos dias 20 e 21 esteve no Paiol, em promoção da Aliança Francesa), lançado por Marcus Pereira (o segundo elepê está sendo lançado agora) e a Banda de Pau & Corda, que com o seu primeiro elepê colocado nacionalmente em fins de 74, pela RCA Victor, conseguia em poucos meses um destaque nacional, fazendo com que seus seis integrantes, jovens estudantes de Recife, deixassem o trabalho de sentido amadorístico e começassem a fazer apresentações regulares, apesar de não disporem do mesmo agressivo esquema dos Violados (que, nos últimos 3 anos, tem percorrido todo o Brasil com bons espetáculos montados). Também como os Violados, que em relação ao seu primeiro lp (Philips, 6349031, julho/72), viriam ter trabalhos com desníveis em seus elepês (acompanhados dos shows, no teatro) seguintes (" Berra-Boi", 1973; " A Feira", 1974; e " Folguedo", 1975), também a Banda de Pau & Corda saudada com elogios unânimes na estréia, teve restrições em seu segundo elepê (" Vivência"0, lançado há mais de um ano. Entretanto, com " Assim... Amém", o sexteto mesmo não tendo chance de apresentar um trabalho com tema único (como é o caso da " Missa do Vaqueiro"), mostra uma preocupação musical consciente, dedicando a maioria das faixas a composições do líder Waltinho (violão, voz, percussão e arranjos), que tem como letrista o seu companheiro Sergio Andrade (voz e percussão) nas faixas " Areia", " Me Diga Homem", " Atrás da Morte", e com Roberto Andrade (bateria e voz) as faixas " Telha Nua", " Réis com Reis" e " Ceticismo", com ª Sacramento, Walinho dividiu uma das faixas mais curiosas do elepê " Homenagens aos Sobas" (Maracatu), enquanto que duas das outras fortes faixas dos discos, são de outros autores: " Festa da Apartação" (Bubuska-Pazita) e a comunicativa " Ciranda Azul" (José Generino-Luis Otávio). O que nos parece de maior validade neste terceiro lp da Banda de Pau & Corda (" Assim.. Amém", RCA Victor, 103.175, setembro/76) é o despojamento dos arranjos, com o grupo valorizando os instrumentos simples - belíssimos os solos de flauta de Beto Johnsson e de viola de Nelsinho - conscientes de que na autenticidade regional, estão sendo mais universais do que com todas as concessões e piruetas que tanto as fazem.
No ano passado, um outro conjunto pernambucano, na linha dos Violados & do Pau e Corda, foi lançado nacionalmente pela CBS: o Concerto Viola, formado por Barret, Sergio, Zuza, Dino, Gabira e Jeffinho, bem intencionados, mas prejudicados infelizmente por uma falta de maior impacto regional em suas composições e mesmo de raízes harmônicas. Agora, com " Terra Boa" (CBS, 137949, setembro/76) temos um novo grupo vocal-instrumental, o Fazenda Modelo, que embora a respeito do qual não se disponha até o momento (21/09/76) maiores informações, pode se afirmar de se tratar de brasileirissimos jovens, preocupados em valorizar a autêntica forma de canção rural brasileira, tão marginalizada pelas ditas elites brasileiras, para expressar as suas criações. Com exceção do sucesso do cearense Ednardo ("Pavão Mysteriozo") e de uma longa reverência a Luiz Gonzaga, com a inclusão de trechos rápidos de 11 de seus maiores sucessos (" Asa Branca", " Chofer de Praça", " 17 e 700", " Baião", " Embalança", " Calango da Lacraia", Derramando o Gas", " Forró no Escuro", " Siri Jogando Bola", " A Volta da Asa Branca" e " Assum Preto"), todas as demais composições são dos próprios integrantes do Fazenda Modelo. Que, dão um exemplo de "country": ao invés de simíescas imitações dos caipiras de Nashville & adjacências (válidos, mas para a realidade americana), Beto Prado (violão, baixo, viola de 12 e 10 cordas, guitarra e harmônica), Carlos Papel (violão, vocal), João Guimarães (bateria, percussão), Preguinho (percussão) e Kátia (vocal/ Percussão) mergulham em nossa realidade cabocla, retirando da temática rural os temas para 11 músicas da maior força. Pode-se gostar ou não das músicas apresentadas pela Fazenda Modelo, mas é inegável a honestidade e sentido de amor a cultura popular, sem macaquices , assumindo o canto do povo do Interior, presente em faixas como "Roça", "Cambori", "Terra Boa", "Véio Chico" , "Cumpadre Mané Vito" e, principalmente, "Sete Léguas". Num momento que a música rural brasileira necessita, urgentemente, uma revisão, o trabalho do deste septeto nos parece da maior honestidade e oportunidade. E o elepe em que são apresentados já mostra os bons ventos que começam a soprar na CBS , com a contratação de Jairo Pires para sua direção artista : uma detalhada contracapa, produção esmerada, valorizada pela participação de quatro excelentes músicos - Copinha e Jorginho nas flautas; Waltel Branco na guitarra havaiana e Moacir Freitas no oboé . Waltel e Orlando Silveira, alias, são os responsáveis pelos arranjos das faixas "Pavão Mysteriozo" e "Obrigado, Luiz Gonzaga", enquanto que as demais ficaram a cargo dos próprios integrantes da Fazenda Modelo.
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