Roberto matou Carmina mas revive o conjunto
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de março de 1985
Carmina morreu. Viva o renascimento do conjunto Roberto de Regina. Entre a mágoa de não estar recebendo o apoiamento que merecia, por parte da Fundação Cultural, e o eterno otimismo de quem sempre busca fazer de cada dificuldade uma nova realização, Roberto de Regina, maestro, cravista e o maior curtidor da música antiga neste País, decidiu ressuscitar o conjunto com o seu nome, criado nos anos 60 e que gravou meia dúzia de históricos elepês na CBS, inclusive a série "Cantos e Danças da Renascença", até hoje garimpado pelos colecionadores.
Responsável pela criação e consolidação da Camerata Antiqua, de Curitiba, fundada há 14 anos, Roberto de Regina, médico anestesista do INPS, que se tornou especialista em música antiga quase que por acaso, tem dividido a vida entre um sítio no Estado do Rio, e Curitiba onde tem grandes amigos.
A Camerata sofreu muitas transformações nestes anos. Paulo Bosisio, músico carioca, passou a dividir a regência e trouxe uma nova filosofia com a qual Regina não concorda. Com 14 dos integrantes da camerata e coral, Roberto formou um grupo irreverente - o Carmina - que, utilizando a música e a farsa, fez, há algum tempo, um aplaudido e original espetáculo intitulado "Escândalos no Castelo de Madame Champignon".
Agora, o segundo espetáculo, nessa linha de irreverência ("uma mistura de Mel Brooks, Ionesco e os Trapalhões, - e eu admiro a todos", diz Roberto), será nesta segunda-feira, 25, no Auditório Salvador de Ferrante, com "A Estrepolias de Terezica", em homenagem ao 3º centenário do nascimento de Bach. Há humor, mímica e música, não só de Bach, mas também alguns cantos do "Cancioneiro de Upsala".
- Tudo muito irreverente - frisa Roberto.
Sua amiga Maria Clara Machado deveria participar do espetáculo, mas, devido a problemas de produção, não virá. Talvez venha Maria Fernanda, atriz, filha da poetisa Cecília Meireles, e que aceitou participar do projeto pela estima que tem por Roberto de Regina, já que o cachê que receberia(a?) é quase simbólico.
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O nome Carmina, que Roberto havia escolhido para definir seu novo grupo, foi abandonado. Explica:
- Parece que deu azar...
Em compensação, uma fã apaixonada do maestro, a elétrica e sensualmente simpática Stela Maris, passou a cuidar agora da administração de seu conjunto. Entusiasmada, Stela Maris garante que agora as coisas vão funcionar melhor.
- Afinal, o talento de Roberto precisa ser mais valorizado.
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Roberto de Regina tem idéias muito próprias sobre a tão decantada desestilização cultural curitibana. A propósito conta uma elucidativa estória: há algum tempo conseguiu convencer a diretora do grupo escolar João XXIII, no Portão, de que ao invés de ser levado àquela unidade de ensino apenas a roda de samba oferecida pela Fundação Cultural, seria interessante uma apresentação da Camerata. A professora resistia, alegando que as crianças "não iriam gostar". Afinal, concordou com a apresentação. Resultado: após a Camerata ali ter feito uma apresentação, os alunos que se formariam em 1984, foram procurar o maestro para pedir uma apresentação especial na festa de entrega dos diplomas. Com um argumento que fez Roberto quase chorar:
- Foi uma das coisas mais bonitas que já ouvimos.
Portanto, em nome da desestilização, não se deve discriminar a Camerata. Muito pelo contrário: ela deve ter seu lugar na programação desta cidade.
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