Rubens, um militar que ajudou o nosso cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de julho de 1991
Homem que sempre diversificou suas atividades, voltando inclusive ao lado cultural, o coronel Rubens de Moraes ainda não se animou - apesar de solicitações e apelos recebidos - a escrever a história da Polícia Militar do estado do Paraná, que no próximo dia 10 de agosto estará comemorando 137 anos de fundação. Afinal, a bibliografia sobre a corporação militar do estado é mínima - existindo apenas um (hoje raro) livro de Carlos Bardelli e anotações esparsas. Está na hora dos imensos arquivos em que se registrou a vida da Polícia Militar ganharem uma edição de acesso ao público, mostrando a sua presença na vida paranaense - inclusive por uma questão de melhor imagem, já que se ao longo deste quase século e meio aconteceram atos desagradáveis, a contribuição da PMEP também [tem] sido positiva na comunidade.
Rubens Mendes de Moraes é um dos oficiais mais preparados para ao menos orientar uma pesquisa [a] respeito, pois entrando na corporação como soldado, em 2 de março de 1942, ali permaneceria por 31 anos - sendo reformado no posto mais alto, coronel combatente, em 26 de setembro de 1973. Foi o mais jovem oficial a atingir o coronelato - recorde inclusive nacional e também a assumir, em algumas ocasiões, o comando da corporação. Chefe-de-gabinete e secretário interino da Segurança Pública no governo Paulo Pimentel, quando o coronel Julio Werner ocupou aquela pasta, diretor da Polícia Civil nos governos Leon Peres e Pedro Parigot de Souza, Rubens sempre se caracterizou pela diplomacia e bom senso nas múltiplas funções exercidas. Ao longo de um depoimento sobre sua vida para o projeto Memória Histórica do Paraná, [ao] lado da esposa Esther e filhas Judimar, Josemar e Jucimar, genros e sete netos - Rubens falou sobre suas diferentes atividades.
Por exemplo, entre os anos de 1966/69, Rubens ajudou a realizar no Paraná ao menos três filmes: "O Diabo de Vila Velha", do produtor Nelson Teixeira Mendes, que teve entre seus diretores o catarinense Ody Fraga (1927/87), José Mojica Marins e até Alfredo Palácios, teve seqüências de ação por ele dirigidas - participando também como ator.
Entusiasmado com a experiência, Rubens associou-se a um veterano ator da Atlantida, Eugênio Contim (que havia feito uma ponta em "Ganga Bruta" de Humberto Mauro) e durante quatro meses acompanhou na Ilha do [Mel] e Paranaguá as filmagens de "Maré Alta", que também acabou como um produto híbrido, ao qual juntaram-se Contim (hoje, aos 84 anos, vivendo no Rio de Janeiro), o ator Egydio Eccio (1927-1979), Pena Filho e, especialmente José Vedovato (1921-1982) - que, radicado em Curitiba, rodaria posteriormente "...e ninguém ficou em pé", bang-bang com locações em Campo do Tenente "Inocentes ... porém valentes".
Filmes primitivos em seu resultado final - mas realizados com honestidade, idealismo e entusiasmo - estas obras, hoje praticamente perdidas (cópias incompletas tem sido, eventualmente exibidas em sessões especiais) mostram uma fase de nosso cinema.
Em sua dimensão de militar, advogado - da turma de 1954 da UFP (posteriormente se formaria também em Ciências Econômicas/ Ciências Autuariais e Educação Física), radiamador desde 1956 (prefixo PY5IM), e poeta, apreciador do cinema e música, Rubens Mendes de Moraes - que apesar do nome pomposo é filho de família humilde - tem uma presença importante em nossa vida - justificando a seu bonito depoimento ao projeto que vem preservando, em audio e vídeo, aqueles que ajudaram a fazer o nosso Estado.
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