Sade denuncia a violência e abandono do setor histórico
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de janeiro de 1992
Jorge Carlos Sade é daquelas pessoas que não esconde suas opiniões e pontos de vista. Artista plástico e marchand-de-tablaux pioneiro no Paraná em termos realmente profissionais - foi quem idealizou e fundou a Acaiaca, primeira galeria de artes plásticas que, desde a experiência idealista de Ennio Marques, Loio Pérsio e Manoel Furtado nos anos 50 ("Cocaco", Rua Ébano Pereira) marcou uma evolução em nosso mercado de artes plásticas.
Polêmico e corajoso, Sade não teme poderosos de ocasião ou abastados pela fortuna em suas denúncias. Cada vez que vê necessidade de denunciar as maracutaias e incompetências oficiais diz, assina e garante o que pensa.
Fez assim ao denunciar o golpe da famosa Collector's, uma arapuca com ramificações internacionais montadas por um malandro paulista (José Paulo Domingues) entre 1970-72, alertou sobre a falsificação de obras de Emiliano di Cavalcanti, que estavam sendo vendidas em 1974 em Curitiba e, que em muitas ocasiões, foi a única voz solitária e principalmente, corajosa que teve a honestidade de denunciar a nudez do rei. Naturalmente, como toda pessoa independente e coerente, Sade tem amigos que o admiram em sua dignidade mas também desafetos medíocres, invejosos e incompetentes que o temem por sua disposição de não se vergar a bajulação e aos interesses momentâneos.
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Curitibano que ama sua cidade, instalou a Acaiaca na praça Garibaldi, em 31 de maio de 1974, em pleno setor histórico-tradicional - quando então em sua primeira administração, o prefeito Jaime Lerner sonhava em ali desenvolver um comércio de animação da cidade. Colaborando com o então jovem prefeito, Sade, através de muitas promoções, transformou a Acaiaca num centro cultural alternativo, com vernissages marcantes, eventos paralelos e movimentando-a aos domingos pela manhã, sendo responsável por muito do sucesso da Feira de Arte e Artesanato, que a pintora Iara Strobel - é bom lembrar - organizou pioneiramente em 1971. Sade, idealisticamente, nunca pediu nada a ninguém - muito menos a Prefeitura - mas hoje é, como muitos outros curitibanos saudosos dos ideais de 20 anos passados, uma pessoa decepcionada pelos caminhos da incompetência, politicagem e mesmo desrespeito à cidade que marcam, ao menos no setor Histórico-Tradicional, o que ali vem acontecendo - até agora sobre olhares condescendentes do prefeito Lerner, naturalmente preocupado com "projetos" que, em sua visão política, "merecem" maior prioridade.
Assim, a carta que Jorge Carlos Sade, como cidadão, contribuinte e animador autêntico da vida curitibana, em termos culturais, nos endereçou - com cópias distribuídas a outros homens de comunicação e seus amigos - é mais um documento que precisa ser divulgado e pensado. Curitiba, é realmente uma bela cidade, hoje famosa internacionalmente graças a Lerner, nem por isto deixa de ter problemas que precisam ser corrigidos. Não é a unanimidade burra, que só sabe aplaudir e bajular os atuais donos do poder, que corrigirá as deficiências existentes. São pessoas como Jorge Carlos Sade, em sua coragem e honestidade, que também devem serem ouvidos. Embora, neste época de puxa-saquismo oficial, ele - como a todos que não estejam no cordão da bajulação oficial - possam serem vistos como "inimigos". Quando, na realidade, a verdade é bem outra: Os Inimigos são os hipócritas que rodeiam Lerner em busca de empregos, mordomias e "apoiamento" político.
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