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Aramis

Samba

É sempre estimulante observar que apesar dos pesares que a mais supérflua música pop constitui nestes tempos em que é difícil ser brasileiro em termos de emepebe, é possível encontrar elepes com diferentes manifestações de Samba - em diversas fases e estilos. Embora rapidamente, eis aqui alguns registros do que tem aparecido na praça. ALUISIO MACHADO - De vez em quando a CBS surpreende com lançamentos de boa MPB, embora este campo pouco interesse seus dirigentes, mais preocupados com sucessos comerciais como Roberto Carlos em termos nacionais ou Ray Conniff e Johnny Mathis na linha internacional. Pois a boa surpresa agora é Alcides Aluisio Machado, 36 anos, nascido em Campos, RJ, compositor desde os 16 anos (A Carta"). Membro da Escola de Samba Vila Isabel, amigo e admirador do grande Silas de Oliveira. Aluisio participou de espetáculos no Teatro Opinião, cantou com o Orfeão Portugal, disputou o I Encontro de Compositores e o título de Cidadão Samba, e agora ganha o seu primeiro lp, produção cuidadosa de Renato Barros. Boa voz, tranqüila interpretação, Machado mostra 12 composições, em apenas três com parceiros. São sambas gostos, bem humorados e que justificam a audição atenciosa deste novo compositor-intérprete. Confiamos em seu talento. Faixas: "Eu Me Perdôo", "Êh Menina", "Insinceridade", "Como É Que Pode", "Acontece Que Não Dá" (c/Zé Tinoco), "Saudade de Ter Saudades", "Aí Então...", "Vai Ficar Um" (com Archivaldo Gomes), "Apesar dos Pesares", "Cabeça e Espinha" (c/Darcy de Souza), "Causa e Efeito" e "Sou Gente Homem". JORGINHO DO IMPERIO - Filho do respeitadíssimo Mano Décio da Vila, o sambista Jorginho do Império já é um nome conhecido nos meios do sambão carioca. Assim, o seu lp de estréia na Phonogram (anteriormente já havia gravado vários discos na CBS), estava sendo aguardado com entusiasmo: "Viagem Encantada" (Polydor, 2451067). Produzido por Jairo Pires, o lp de Jorginho mostra uma série de sambas interessantes, em que se destacam não só a sua boa voz - com muito "swing", como também a participação de um excelente grupo de percussionistas - como Hermes, Ariovaldo, Doutor (repique), Carlinhos da Mocidade (surdo e repique), Marçal e Balthazar (tamborim), Nenem (cuíca), Testa (pandeiro), além do coro de Kojak, mais Zé Roberto nos teclados, Mamão na bateria, Alexandre no baixo, Manoel do Cavaco (cavaquinho), Menezes (bandolim e violão) e Glauco Villas Boas (violão). Faixas: "Na Beira do Mar" (Gracia do Salgueiro), "Eu Não Sou O Que Ela Pensou" (Jorginho Pessanha /Setembrino Coutinho), "Mas Como é Linda" (Padeirinho), "Não Mexe Não" (Darcy da Mangueira), "Folha Desabada" (Glauco Villas Bôas - Paulo Cesar Barbosa), "Choro em Verde e Branco" (Jorginho do Império - Gerson Alves), "Tempo de Criança" (Jorginho do Império - Ubirajara Dias), "Benedita" (Ubirajara Andrade), "Dinheiro Vem, Dinheiro Vai" (Noca - Vovó Ziza), "Samba Sem Cuíca" (David Lima), "Juca Operário" (Jorginho do Império - Ubirajara Dias - Jean Pierre), "Deixa o Carnaval Passar" (Totonho - Paulinho Rezende), "Rei Sem Saber" (Hélio Chilibri - Jeremias Ferraz), "Com Açúcar, Sem Mistério" (Jô Libra) e "Viagem Encantada" (Mano Décio da Viola - Jorginho Pessanha). GILSON DE SOUZA - "Pôxa" foi a música que lançou Gilson de Souza na emepebe neste ano de 1975; um belíssimo samba que lhe deu uma projeção nacional e que tem méritos de figurar, inclusive nas listas das melhores músicas do ano Compositor já gravado por Elza Soares ("Carnaval Não Envelhece") e Jair Rodrigues ("Orgulho de um Sambista"), Gilson, paulista de Marília, já foi lutador de box e professor de Educação Física, antes de se tornar um compositor e interprete profissional. Agora, sai o seu primeiro lp ("Pôxa", Tapecar, X-31, outubro/75), onde estão mais oito de seus sambas: "Dor de Poeta", "O Incomodado é quem se muda", "Se o amor for coisa certa", "Eh tata eh", "Canção pra quem vem", "Quem é de samba chora" (em parceria com Carvalho), "llusão Colorida" (em parceria com Newton Miranda e Veloso) e "Noite Vadia". De Adylson Godoy/ Antonio Queiroz, Gilson gravou "Só Deus Sabe", de Oswaldo Guilherme/ Aluysio Figueiredo, "É Manhã" e do santo Pixinguinha, o clássico "Gavião Calçudo", "Gilson de Souza está com dois destes sambas - "Pôxa" e "Quem É de Samba Chora", também no lp "Só Samba Quem Tem" (Tapecar, SS-009), onde o produtor Luiz Mocarzel reuniu outros bons sambistas do elenco da fábrica de Manolo: Noite Ilustrada ("Volta Por Cima" e "Bloco da Madrugada"), Zé Di ("Meu Recado" e "Alegria"), Candeia ("Acalentava" e "Brinde ao Cansaço"), Xangô da Mangueira ("O Velho Batuqueiro" e "Carolina Meu Bem"), além do novato Vicente ("Resto de Amor" e "Madrugada Azul"), todos compositores das músicas que apresentam. NOITE ILUSTRADA - O sambista Noite Ilustrada (Mario Souza Marques Filho, mineiro de Pirapetinga), é um caso a parte dentro da emepebe. Em 20 anos de carreira profissional - começou na rádio Porto Nôvo do Cunha, em sua cidade, mas só em 55 chegou a São Paulo - já gravou em praticamente todas as fábricas, lançou alguns sucessos, mas até hoje é um sambista marginalizado, que aceita apresentar-se em ambientes como o Restaurante Presidente, em Curitiba, onde ainda esteve recentemente. Em 1962, lançou o belíssimo "Volta por Cima" de Paulo Vanzolini, até hoje presente em seu repertório, como mostra na 3ª faixa de seu novo lp (Tapecar, LP-x-30, agosto/75), onde desfilam composições de diversos autores, como Talisma ("Dona da Casa Boa Noite"), Mano Décio ("Sambista Apaixonado"), Zé Pretinho da Bahia ("Não Posso Parar de Sambar"), além de das composições próprias ("Passista regra 3" e "Zombou de mim"). PARTIDO EM 5 - Quando insistimos em destacar o trabalho da Tapecar em favor do samba, o fazemos por realmente admirarmos o prestigiamento que a fábrica do espanhol Manolo vem dando aos nossos artistas populares. Por exemplo, outro grupo de sambistas autênticos que aparece por esta etiqueta é o chamado Partido em 5, liderados por Candeia, Velha, Casquinha, Wilson Moreira e Hélio Nascimento, todos já com uma obra respeitável. O volume 2 de "Partido em 5" (TC 52, setembro/75) foi saudado com entusiasmo por críticos com J.R. Tinhorão (JB, 16/9/75), que se entusiasmou, particularmente, com uma nova música de Candeia, "Luz da Inspiração" na opinião do radical analista "um samba que pode ser incluído, desde já, entre as melhores coisas que já se produziu em toda a história desse gênero musical popular". Antecedido de um discurso inicial em que Candeia fala que "Isto é samba puro. Samba sem populão. O samba inocente, simples como uma criança. Mas é Um samba do povo. Um samba que traz um ar de cume dos morros", os sambistas - acompanhados por bons instrumentistas - Anésio e Osmar no cavaquinho; Marçal, cuíca; Lula e Eliseu, tamborins; Dodó, pandeiro e Gordinho, surdo de marcação, o disco não tem faixas separadas - o que já demonstra a descontração com que foi produzido - pois isso eliminou, de princípio a chance de divulgação em rádio, mas em compensação, permitiu um encadeamento perfeito dos diversos temas - num clima alegre e feliz. Assim, temos neste importante lp de samba, as seguintes músicas, "puxadas" pelos integrantes do "Partido em 5": "História de Pescador" de e com Candeia; "Gato Escaldado Tem Medo de Água Fria" (Velha e Zuzuca) com Velha; "Sinal Aberto" de e com Casquinha; "O Jacaré de Olho Grande" de e com Anézio; "Continuo a Ser Flamengo", de e com Helio Nascimento; "Luz da Inspiração", de e com Candeia; "Chico Alegria, de e com Anézio; "Seção de Manjamento", de e com Wilson Moreira; "Vovó da Bahia", de e com Helio Nascimento; "Corda Avançada" (Casquinha / Dollino), com Casquinha; "Leão de Coleira", de e com Velha; "Cabelo Danado", de e com "Casquinha"; "Papo de Velha", de e com Velha e "Batuque Feiticeiro" de e com Candeia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
28
23/11/1975

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