"Scheherezade", um clássico da Rússia.
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de setembro de 1985
Ao contrário da Polygram e CBS, a RCA é econômica em suas edições de música erudita. Embora nos Estados Unidos disponha de um acervo imenso dentro do prestigioso selo Red Seal no Brasil, seus lançamentos nesta área são, infelizmente, restritos. Por isto, é importante quando faz edições. Recentemente tivemos o lp do flautista James Galway e o pianista Phillip Moll, interpretando peças de Schubert.
Alguns meses antes, com a Orquestra da Filadélfia, sob regência do maestro Eugene Ormandy (falecido recentemente) havia saído a "Scheherezade", suite sinfônica, opus 35, de Nicolai Andreievitch Rimsky-Korsakov (1844-1908), tendo como solista de violino Norman Carol.
Trata-se de uma obra importante, representativa do trabalho de Rimski-Korsakov, com que a música russa, nos tempos dos Czares, atingiu o máximo de seu desenvolvimento artístico. Korsakov fazia parte do grupo "Os cinco", que procurou dar um cunho puramente nacional à música de seu país. "Scheherazade" foi dedicado ao crítico Vladimir Vassilievitch Stassow (1824-1906), que foi quem denominou de "Koushka", isto é, "Os Cinco", ao grupo que se propunha reformular inteiramente a música na Rússia. E que eram, além de Korsakov, Cesar Antonovitch Cui (1837-1910), Alezandre Bordoin (1833-1887) e Modest Petrovich Mussorgsky (1839-1881).
"Scheherazade" foi composta por desfastio, pois desde a morte de Borodin, andava Rimski-Kosakov às voltas com os manustritos confusos e incompletos que deixara o amigo, do "Principe Igor". Se esta ópera - sua maravilhosa música, hoje existe, assim como Boris Gordunov", de Mussorgsky, deve-se ao árduo trabalho de Rimski-Korsakov a procurar reunir e dar sequência aceitável ao trabalho disperso dos dois amigos.
"Sheherazade" foi composta em 1888, sendo que sua estréia aconteceu a 15 de dezembro daquele ano. De uma forma geral, o tema é de sabor fortemente oriental, extraído das "Mil e uma Noites".
O próprio Rimski-Korsakov assim definiu a obra:
- " Tudo que desejei foi que o ouvinte, caso tenha gostado de minha peça como música sinfônica, tivesse a impressão de que ela é fora de qualquer dúvida, uma narrativa oriental de numerosos e diferentes contos de fadas, verdadeiramente maravilhosos".
A obra é dividida em quatro movimentos: 1) O mar e o navio de Simbad; 2) A história do Príncipe Kalender; 3) O jovem Príncipe e a Princesa e 4) O Festival de Bagdá.
Nesta gravação, toda gama extremamente colorida da orquestração de Rimski-Korsakov é "admiravelmente realçada pela Orquestra da Filadélfia, regida por Ormandy. Norman Carol faz o solo de Violino do lll movimento, "dando-nos idéia perfeita da sultana Scheherazade ", como disse o musicólogo Carlos Gonzáles, acrescentando ainda: "A explicação que o próprio Rimski-Korsakov fez procurando retirar toda a idéia de uma música programática veio muito tarde. Ninguém mais a ouve sem praticamente "visualizar" a ação que a música descreve e quanto mais a ouvimos, mais admiramos o grande poder descritivo que a orquestra de Ormandy explora em todo seu colorido".
Enviar novo comentário