Sequência frustrada
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de janeiro de 1975
Mais uma prova de que um dos piores vícios comerciais do cinema é dar sequência a um filme de sucesso é "paul e Michelle" (cine Lido, até sexta-feira em exibição). Apesar das adolescentes, ingênuas e românticas colegiais, com seus namoradinhos à tiracolo, estarem garantindo uma boa renda a esta produção distribuida pela implacável CIC/ Paramount - que só mantém um filme em segunda semana se a bilheteria fizer o astuto Paulo Fuks, o todo poderoso "godfather" da empresa sorrir bastante - o fato é que este filme já reune créditos para os bissextos críticos Arnaldo Fontana e Afonso Burigo a incluirem como um dos grandes "abacaxis" de 1975 - na lista dos piores do ano que agora inicia.
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Há quatro anos, o inglês Leuris Gilbert enternecia as platéias românticas deste mundo ocidental com a ingênua "love story" entre duas criançasc de 15 anos - Michelle Latour e Paul Harrison, incompreendidos pelos pais que se refugiam na cabana-atelier do pai da menina, na Camarga, uma das mais belas regiões da França. Ali vivem alguns meses até que Michelle dê a luz a uma menina. Paul é obrigado, então pelo "cruel" PAI A RETORNAR AO COLÉGIO DE FREIRAS. Embalado por uma suave trilha sonora de Elton John, "Amigos e Amantes" (Friends, 71), agradou a muitos. Decidido a faturar em cima do mesmo tema, Gilbert reinicia a "love story" com a decisão de Paul, já concluido o nível básico e às vésperas de entrar na Sorbonne, em reencontrar a abandonada Michelle. A busca não é demorada: em Nice, Paul vai achar sua bem amada e sua filhinha, Sylvie, vivendo com Gary Weston (Keir Dullea), um aeroviário de boas intenções. Uma sucessão de cliches toma conta do filme, sendo irreconhecível que o talentoso Lewis Gilbert que há 10 anos realizava um dos mais importantes filmes do cinema inglês ("Como Conquistar As Mulheres/ Alfine") seja o mesmo responsável por este calamitoso "Paul e Michelle".
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Além de repetir muitas sequencias de "Amigos e Amantes"- em mal colocados "Flash- backs"- Gilbert ainda secciona "Paul e Michelle" para poder voltar, logo, logo, ao mesmo tema. Se o francês François Truffaut, com o seu autobiográfico personagem Antoine Duinel conseguiu uma série de sensíveis comédias românticas ("Os Incompreendidos", 59; episódio de "O Amor aos 20 Anos", 61; "Beijos Proibidos", 68 e "Domicílio Conjugal", 70), Lewis Gilbert fracassa em sua tentativa de dar sequência a "Friends" e transforma "Paul & Michelle" em autêntica "picaretagem" adocicada. Com mel em excesso...
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