Tim Maia, o canto gordo e com vigor
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de novembro de 1985
Uma personalidade ( o termo é esse mesmo) da MPB que ainda não foi devidamente entendido - embora, finalmente, alguns críticos comecem a valoriza-lo é Tim Maia, Gordo, briguento, místico, sua carreira tem sido das mais atrapalhadas. Fez parte da pré -Jovem Guarda , amigo de Roberto e Erasmo Carlos; viveu nos Estados Unidos, de onde saiu devido a problemas com drogas. Com "Primavera "(Casiano), foi a grande revelação do mivimento Soul no início dos anos 70 e chegou a fazer alguns Lps pela-Polygram.
Místico, chegou a criar uma "Sociedade Racional"pela qual fez um dos primeiros LPs, independentes, antes mesmo que antonio Adolfo viabilizasse esta forma. Deu nova parada e voltou há 3 anos com um disco pela lança, de Jairo Pires e José victor, mas logo brigaria com estes produtores e também com a Polygram, que distribuia o LP.
No ano passado foi contratado pela RCA e estourou com um compacto simples: "Leva"e "Bem Vinda", produzido pela Vitória Régia, sua própria empresa. Em julho último, finalmente, saiu seu novo Lp. Um disco vigoroso, forte e até irônico, no qual Tim Maia explode talento e criatividade, mostrando seu vozeirão.
Um de seus admiradores Luiz Chagas, em artigo na "Folha de São Paulo", escreveu com uma certa irônia: Ö gigante debulhador, está de volta, o que significa que mais uma vez é hora de o pessoal da imprenssa se debruçar sobre o Aurélio em busca de adjetivos novos e de bom gosto, pois falar de um disco novo do Sebatião não é mole não. Irritado, exigente, com um vozeirão proporcional ao seu tamanho, o grande Tim ocupa um lugar à parte na nossa música. Vária lendas cercam o seu nome, desde a que diz que ele costuma dar uns tapas na nuca dos músicos que não seguem seus arranjos, até a que estaria acabando, à morte, essas coisas todas tão comuns na vida das estrelas".
Satiricamente, o próprio Tim (em parceria com Lincoln Olivetti) procura dar uma resposta às fofocas a seu respeito. Em "A Grande Família da Comunicação (A Nossa Família)" ele fala de comunicadores, políticos e colegas.
"Leva", o compacto, vendeu 220 mil cópias. Nesse novo disco, Tim deixou os arranjos nas mãos de Lincoln Olivetti, tecladista e arranjador dos mais comerciais, mas que graças à presença forte de Tim não caiu no esquemão disgestivo de sempre. Tim é mais cantor do que compositor : apenas 3 faixas ("A Nossa Família", "Acredito" e "Você Tem que Saber") são de sua autoria. As demais, são de outros compositores, entre gente nova - como Valmir ("Bem-Vinda"), Luiz Mendes Jr. ("Você me Enganou"), Bastinho Calisto-Reginaldo - Camarão ("O Adeus de quem tanto amei"), Betão-Divino ("Pense Bem") e nomes já consagrados como Micheal Sullivan-Paulo Massadas (o êxito "Leva"), Ronaldo Bastos - Fernando Gama ("Uma estrela a mais") e Ed Wilson-Carlos Colla ("Pede a ela").
Tim Maia tem uma coisa que falta na maioria dos artistas: personalidade. Vocal e pessoalmente, é uma presença que se impõe. Pode-se discordar de seu estilo, críticar seu repertório, mas é inegável que ele marca a sua presença. Isto faz com que seja uma personalidade forte. Mas nem por isto assimilada como (ele) gostaria.
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