Toscano, o maestro da nova Camerata Suzuki
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de janeiro de 1992
A mais nova Camerata da cidade - e uma das poucas em seu gênero em todo o mundo - começa a aparecer. Dia 22, quarta-feira, no auditório da Reitoria, a Camerata Suzuki, fará o seu quinto concerto em quase dois anos de existência.
Poucas apresentações, justificáveis não apenas pela dificuldade financeira - que assola todas as orquestras e outras formações eruditas do país - mas, principalmente, pelo rigor com que o maestro Thomas Toscano e sua assistente, a bela violinista Simone Savytzky, vem conduzindo esta formação que reúne 25 jovens - muitos quase crianças que através do método criado pelo japonês Shinichi Suzuki, 91 anos, em 1946, há quase 50 anos vem possibilitando um rápido e eficiente aprendizado de instrumentos de cordas por crianças, num sistema único.
Em Curitiba, onde sete professores de violino desenvolvem esta didática (*), o maestro Toscano, nova-iorquino, 40 anos a serem completados no próximo dia 31, encontrou "fértil talento para desenvolver um projeto que poderá ganhar projeção internacional", garante em seu português de quem vive há quase 10 anos em andanças entre Rio-São Paulo-EUA com passagens pela Venezuela.
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Formado em regência pela Universidade de Denver, 1974, com mestrado e doutorado na Nova Inglaterra (78) e Yale (86), respectivamente, Thomas acabou vindo para a Venezuela num programa desenvolvido em 1979, dali nascendo o desejo de chegar ao Rio de Janeiro, estimulado por alguns muy amigos - que lhe prometeram mil ajudas mas que nem mais estavam no Brasil. Com poucos dólares e uma maleta, Tedesco teve que usar toda imaginação para abrir o seu caminho e conseguir as primeiras oportunidades. Começou regendo a Orquestra Jovem Brasileira em Brasília em junho de 89 e chegando, mais tarde, a ter oportunidade de reger a Orquestra Estadual, em São Paulo, em maio do ano passado. Fundamental foi um bom relacionamento com o compositor Gerald Thomas, quando este montava em São Paulo "A Queda da Casa dos Ushers", em 1991 - baseado na obra de Edgar Alan Poe (1809-1849), em estréia sul-americana em São Paulo e Campinas.
Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas no competitivo mercado erudito brasileiro - na qual maestros disputam de todas as formas as raras orquestras que existem no país - Toscano preocupou-se em ampliar seu curriculum, estagiando com o maestro Carlo Maria Giulini, na Itália (1986), maestros Lukas Foss, Thomas Schemhorn, Otto Werner Mueller e, especificamente no Berkshire Music Center of Tanglewood, dirigido por Leonard Bernstein, convivendo com Seiji Ozawa, Colin Davis, André Previn, Gunther Schuller em temporadas de 1979/80.
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Atento a novos métodos, integrando-se a aberturas que lhe possibilitaram passar pela Orquestra Jovem de Brasília, Thomas entendeu as possibilidades do método Suzuki, de cujo encontro nacional de professores participou em Curitiba há 2 anos. Foi quando nasceu a idéia da formação de uma Camerata, que faria sua estréia em 13 de outubro de 1990, e que encontrou na professora Edna Ritzmann Savytzky e sua filha, Simone, 30 anos - que estudou violino na Universidade de Yale (84/85), e hoje é spalla da Sinfônica Paranaense, condições para criar uma Camerata que vem desenvolvendo um trabalho lento mas seguro. O jornalista Luiz Augusto Juk, pelo seu relacionamento na área empresarial, vem tentando ajudar o grupo, buscando patrocínios - que embora conseguidos parcialmente em várias empresas - ainda é insuficiente para proporcionar ao conjunto uma atuação mais regular.
Para o concerto do próximo dia 22, o solista é o jovem Luís Gustavo Surgik, considerado a maior revelação do violino nos últimos 2 anos, atualmente estudando em Moscou. Simone Savytzky garante que a vinda do jovem virtuose só foi possível "pela crise na ex-URSS" - "A passagem Moscou-Curitiba-Moscou, está custando US$ 100". Difícil acreditar, mas Luís Gustavo vem rever a família e mostrar sua arte junto a Camerata Suzuki, regida pelo maestro Toscano.
Nota
(*) O Método Suzuki foi introduzido no Paraná pela violinista Hildegard Martins e hoje é desenvolvido por mais de seis professores: a veteraníssima Bianca Bianchi (que nos anos 30 integrou o Trio Paranaense, ainda em plena forma aos 82 anos), Noema Cit, Hilza Bigarella, Edna, Simone e Vanessa Savytzky.
LEGENDA FOTO - Maestro Toscano, nova-iorquino, dirige a Camerata Suzuki, de Curitiba, que fará concerto quarta-feira, 22, no auditório da Reitoria.
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