Transportadora prejudicou a retrospectiva de cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de maio de 1986
Se o fato acontecesse nos Estados Unidos, possivelmente a indenização seria tão elevada que a Cinemateca teria condições de sobreviver, autonomamente, por mais de cinco anos com a melhor programação. Como estamos no Brasil, tudo não passará, no máximo, de um ofício que o presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Carlos Frederico Marés de Souza, endereçará à direção da Kwikasair Encomendas Urgentes Ltda., pedidos de desculpas e esfarrapadas justificativas da empresa. E tudo bem!
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Mas não deveria ser assim! No mínimo, um processo caberia no caso. Pelo menos, caso não haja uma forte - e à primeira vista, parece não existir - explicação.
Negócio seguinte! Francisco Alves dos Santos, coordenador da área de cinema da FCC, organizou - em colaboração com Homero Carvalho, presidente local da Associação Brasileira de Documentaristas - amplo programa para mostrar a evolução do Cinema Documentário no Brasil, que se estenderia dos dias 25 a 31 de maio. Contatou as cinematecas do Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro e a Fundação Cinemateca Brasileira, em São Paulo, para o envio de filmes de curta, média e longa-metragens realizados em diferentes épocas - e que têm cópias depositadas nessas instituições.
Na segunda-feira, 25, a retrospectiva começou capenga, com ausência de muitos filmes. A desculpa foi de que o feriado de Corpus Christi, havia prejudicado os serviços. Passaram-se horas, dias e nada: os filmes não chegaram - ou chegaram com atraso. Resultado: praticamente nenhum dos vários programas - amplamente divulgados na imprensa (inclusive em nossa coluna) foi cumprido. Muitas sessões foram canceladas e outras tiveram os filmes substituídos na última hora. Resultado: o (pequeno) público que compareceu se irritou, reclamou e houve prejuízos de ordem moral, cultural e profissional. Razões mais do que suficientes para tanto os espectadores exigirem explicações firmes, como a Fundação Cultural processar a quem de direito fez com que uma promoção séria e bem intencionada viesse a fracassar no seu conjunto.
Vamos ver o que vai acontecer? Se haverá coragem da FCC em levar a questão adiante ou prevalecerá política de panos quentes?
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