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Aramis

Os filmes de Babenco e Andrei, com retrospectiva brasileira

Inesperadamente, um dos 10 melhores filmes do do ano estreou na cidade: "Ironweed", de Hector Babenco - até agora só lançado em São Paulo e que há exatamente uma semana, teve uma mostra hors-concours, no cine Art Copacabana, durante o V Fest Rio. Hector Babenco, presidente do júri de longa-metragem do Festival, ao final da sessão recebia os mais entusiásticos abraços: realmente, este seu filme rodado no ano passado nos Estados Unidos é um pequena obra-prima - um testemunho sensível sobre perdedores da sociedade capitalista, numa história admirável, com dois dos maiores intérpretes do cinema - Jack Nicholson e Merryl Streep e tendo no elenco de apoio, entre outros, a envelhecida Carol Baker - (que diferença da "Baby Doll" que Kazam revelou há 32 anos passados?) e o cantor-compositor-ator Tom Waitts. A estréia de "Ironweed" no Astor, ontem, é o grande acontecimento cinematográfico neste final de ano - que com "A Última Tentação de Cristo" de Martin Scorcese, nos cines Lido I e Palace-Itália, já tinha reaquecido o interesse do público. A boa programação - Após a overdose visual do FestRio - com mais de 170 fimes nas várias mostras e pelo menos 30 ou 40 filmes importantes de serem vistos (alguns, felizmente já negociados para lançamento no Brasil, conforme registraremos amanhã em nossa coluna "Tablóide") é salutar ver que a programação local também está boa. É lamentável, entretanto, que a cópia autêntica de "Laranja Mecânica" de Stanley Kubrick - sem a violentação das bolinhas pretas que a censura impôs para liberar o filme, ainda no tempo da ditadura - tenha permanecido apenas uma semana em cartaz no Bristol. "Coração Satânico", de Alan Parker - com Robert de Niro, Charlotte Rampling e Mickey Rouke - é um filme excelente, admirável trilha sonora (editada no Brasil pela WEA) e um tema fantástico - mas bem que se poderia ter dado mais uma semana para "Clockwork Orange", o filme que Kubrick realizou em 1971 e que permanece como um dos pontos mais altos de sua brilhante carreira. Mais lamentável ainda é que Francisco Alves dos Santos não esteja vigiando melhor o seu "assessor" que programa de forma infeliz algumas das salas da fundação. Pois este "assessor" que há alguns meses criou um incidente com a Columbia e se recusou, na época em que o belíssimo "Nunca Te Vi... Sempre Te Amei", de David Jones, fosse exibido em salas da Fundação, agora programou esta premiada obra para o distante cine Guarani. É bom que se leve filmes de arte naquele distante cinema - (que, por sinal, tem ainda uma freqüência fraquíssima) - mas é injusto que não se reprise um filme como este em algum dos cinemas centrais da Fundação, que com 4 ótimos espaços pode ter o melhor circuito da cidade. Ainda bem que o prefeito eleito Jaime Lerner sempre foi um apaixonado pelo cinema arte e, ao contrário do que acontece atualmente, a área de lançamentos cinematográficos terá a sua especial atenção - evitando-se que ocorram fatos como este (aliás, é bom lembrar que até hoje "Ao Redor da Meia Noite", de Bertrand Tavernier, não foi reprisado nos cinemas da fundação, embora existisse disposição da Columbia em ceder cópias). Para compensar erros de lançamentos como programar "Nunca Te Vi... Sempre Te Amei" no Guarani - ou desprezar "Ao Redor da Meia Noite", Alves também faz esforços para mostrar o cinema nacional. Neste finalzinho de ano em que se comemorou os 90 anos do cinema brasileiro, finalmente chega na tela do Groff uma mostra retrospectiva, iniciada com filmes pioneiros. Outras opções - No Condor, prossegue em exibição um thriller a ser verificado: "Fuga à Meia Noite", de Martin Brest, com Robert De Niro, Charles Grodin, John Ashton e Dennis Farina. No Luz em lançamento, "A Banda do Paraíso", de Frank D. Gilroy - elenco desconhecido (Wayne Rogers, Cleavon Little, Andrew Duncan e Merry Matz). A verificar. E no Ritz, uma estréia importante - mas que também é feita sem melhor promoção - correndo o risco de fracassar: "Sede de Amar", do russo Andrei Konchalovsky, com Alan Bastes, Julie Andrews e Max von Sydon. Konchalovsky é russo, mas radicado nos EUA, onde tem feito bons filmes ("Os Amantes de Maria"). Seu último filme, "Asia's Happiness", é o mais importante de 1988, na listagem que Klaus Eder, crítico alemão e secretário-geral da Fipresci, nos forneceu para o nosso suplemento de final de ano sobre os melhores do ano. E que este ano, além da crítica nacional, terá a participação de seis críticos internacionais, reunidos no Rio de Janeiro, de segunda a quarta-feira, no seminário promovido pelo FestRio - e no qual tivemos a honra de participar como um dos cinco brasileiros convidados para fazer exposições. LEGENDA FOTO - Merryl Streep está excelente em "Ironweed", de Hector Babenco - lançamento do cine Astor. o melhor filme da temporada e, seguramente, estará entre os 10 mais importantes do ano.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
02/12/1988

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