Login do usuário

Aramis

Um calendário divulga as etnias paranaenses

Há seis meses, quando a diretoria da GM aprovou o projeto de produzir um calendário tendo as etnias como tema central, o jornalista Sergio Lopes de Brito, 32 anos, ex-"Folha de São Paulo", diretor de um estúdio de comunicação e propaganda - a Rascunho - chamou o fotógrafo Valdemar Lima Filho, 29 anos, e vieram ao Paraná. Não conheciam ninguém em Curitiba, mas bastou uma indicação para procurarem a sra. Ingeborg Rost, que as portas se abriram com a maior facilidade. No acolhedor ambiente do "Humel Humel", no Setor Histórico, foram feitas fotografias reunindo jovens vestidos em trajes típicos alemães, com um resultado que não se obteria nem no mais bem aparelhado estúdio profissional. Os diferentes grupos folclóricos contatados por Sergio se dispuseram a colaborarar para com as fotografias em qualquer hora - mesmo com atrapalhos profissionais aos seus integrantes - e uma produção que deveria se arrastar por semanas foi completada em menos de sete dias. xxx Em Caxias do Sul, ao chegarem ao Museu da Imigração Italiana, encontraram o local fechado. O guardião informou que o diretor estava numa reunião importante e que o Museu só reabriria dali a 2 dias. Sérgio foi procurar o diretor da entidade, expos o projeto que desenvolvia e a resposta foi surpreendente: entregando-lhes a chave do museu, o diretor disse: - "Desculpe mas eu não posso acompanhá-los. Entre lá e fotografem da melhor forma." xxx Emocionado com tal receptividade - apenas alguns exemplos da boa vontade que encontraram no Sul - Sérgio, o fotógrafo Valdemar e mais o designer Adir Withz Tavares passaram o fim-de-semana em Curitiba, entregando pessoalmente exemplares do Calendário GM-1986 a todas as pessoas e instituições que colaboraram no projeto. Anteriormente já haviam ido ao Rio Grande do Sul e Santa Catarina para, de viva voz, mostrarem o reconhecimento por tanta espontaneidade. - "Sinceramente, nunca pensei que numa época de violência, desconfiança e natural medo houvesse também ainda tanta confiança". Com o título de "Brasil de Todos os Povos", profundamente ilustrado com belas fotografias de Valdemar Roberto Lima Filho e textos objetivos e inteligentes, o calendário da GM teve sua edição de 120 mil exemplares esgotada em poucas semanas. Incluindo-se naquela categoria de calendários referências - hoje só produzidos por grandes empresas (a Philips, por exemplo, fez um belo calendário sobre as conquistas da Seleção Brasileira de Futebol, com texto de Armando Nogueira), o projeto da Rascunho, pequena agência de comunicação e propaganda de São Paulo, encontrou um resultado tão positivo que já há estudos para novos trabalhos em 1986. Focalizando as etnias que formaram o Brasil - especialmente na colonização no Sul - o Calendário transformou-se, assim, num veículo de grande força em termos de divulgação, através dos textos esclarecedores e, especialmente, nas ilustrações. Fundamental para a elaboração do trabalho foi a colaboração do professor e pesquisador Edwino Donato Tempski, um dos primeiros historiadores contatados em Curitiba. No restaurante Madalosso, em Santa Felicidade, Ernani Valle, "fac-totum" daquela famosa casa turística, chegou a reservar o estabelecimento para que a equipe pudesse fazer as fotografias durante uma noite. Grupos folclóricos como o português Alma Lusa, o espanhol Aires Gallegos, o espanhol Raza Aragonesa, o da Associação Fujishima Kenjuin do Brasil, o Dante Alighieri, o Folclórico Polonês e o Germânico, da Sociedade Beneficente Rio Branco - para só citar os de Curitiba tornaram possível a viabilização de um belo projeto de promoção turística. xxx O calendário "Brasil de Todos os Povos" - que lembra, no título, o espetáculo de Adherbal Fortes de Sá Jr./Paulo Vitola, que há 12 anos passados inaugurou o auditório Bento Munhoz da Rocha Neto - está hoje nas paredes de 120 mil lojas, escritórios e residências do Brasil. Uma mostra de como se pode mostrar a cultura, a tradição e os valores, sem que para isso tenha que se recorrer a paquidérmicos órgãos oficiais - como a Paranatur - que, com seus bilhões de cruzeiros, jamais fez nada sequer parecido em termos de divulgação do Paraná, o que, generosamente, o calendário da General Motors está conseguindo. E o trabalho da Rascunho, envolveu menos de 10 profissionais. Se a Paranatur fosse fazer algo semelhante - imaginem quantos bilhões desperdiçaria?
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
23/01/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br