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Um concerto de virtuoses pode fracassar no Guaíra

Incrível, mas acontece! Um recital reunindo três dos melhores instrumentistas brasileiros - o violonista Sebastião Tapajós, o pianista Gilson Peranzetta e o flautista Altamiro Carrilho - acontecerá hoje à noite (auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, 21h, ingressos a Cr$ 6 e Cr$ 4 mil) numa produção totalmente improvisada em termos promocionais. Só ontem pela manhã é que a simpática Ana Cláudia Ferreira, cunhada do produtor Pedro Paulo Carneiro, do Rio de Janeiro, começou a viabilizar a divulgação para um espetáculo que aconteceria menos de 48h depois. Apesar desta trindade instrumental merecer a maior admiração - e ter em Curitiba um público fiel, que sempre prestigiou suas apresentações (especialmente o querido Tião Tapajós, que chegou a residir no Guaíra Palace Hotel durante mais de 2 anos, entre suas excursões nacionais e européias), é impossível que se consiga, em tão curto prazo, motivar um público capaz de pelo menos ocupar a metade das 2.300 poltronas do grande auditório do Guaíra. De quem é a culpa? O superintendente da Fundação Teatro Guaíra, o carioca Oswaldo Loureiro, consta, é amigo de Altamiro Carrilho há muitos anos e, obviamente, não desejaria ver este seu concerto - comemorativo aos seus 50 anos de carreira (nasceu em Santo Antônio de Pádua, RJ e completará 67 anos no próximo dia 21 de dezembro), se tornar um lamentável fracasso artístico - sem ao menos o número mínimo de espectadores que o encontro do mais conhecido flautista brasileiro com o talento de Tapajós e Peranzetta merece. Segundo Ana Cláudia, a administração do Guaíra retardou a confirmação da data - que havia sido também prometida a um misterioso balé chinês, que acabou não confirmando. Resultado: uma produção da melhor música instrumental brasileira - que será inclusive levada à Europa, a partir do circuito na Alemanha que Tapajós faz todos os anos - tem uma estréia local sem o cuidado, promoção e apoio - sem falar em respeito artístico - que pela folha corrida dos artistas, mereceria. Aliás, são três pessoas tão extraordinariamente amigas, com a simplicidade dos grandes e reais talentos, que não deixarão de apresentar o espetáculo mesmo que não haja mais de 200 ou 300 espectadores - pois sabem ter o respeito profissional que, infelizmente, não existe em outras áreas. Não deixa, entretanto, de ser lamentável que fatos como este, continuem a acontecer em Curitiba - o que coloca em discussão a sempre vulnerável política de programação dos espaços oficiais. Será o caso de se verificar de quem foi realmente a culpa por um concerto desta dimensão acontecer de forma tão inesperada, prejudicando os artistas - em seu aspecto profissional, os produtores - no lado econômico e o público - já que mesmo com as chamadas de rádio e televisão tentadas nas últimas horas - e a tênue cobertura da imprensa - ainda não foi suficientemente sensibilizada para comparecer hoje ao Guaíra. Assim como o disco que a Vison lançou comemorativo aos 50 anos de carreira de Altamiro não teve até agora a menor divulgação - e sequer chegou às lojas da cidade, também esta apresentação do chamado "Trio Camerístico Brasileiro" ocorre em (quase) brancas nuvens. O ator carioca Oswaldo Loureiro, que vem criticando a distribuição de ingressos e pretendendo mesmo a elevação dos bilhetes mesmo para apresentações de espetáculos subsidiados pelo Estado (que não é o caso de hoje à noite), caso não viaje ao Rio de Janeiro neste fim de semana - como tem feito quase todas as semanas - talvez ao contemplar o auditório semidesértico, sensibilize-se, como homem de teatro que sempre foi, que o pior que pode ocorrer para um artista é chegar a um teatro e ver a platéia vazia. Quando, tantas e tantas pessoas gostariam de aplaudir os artistas que tem no reconhecimento público a sua maior gratificação. LEGENDA FOTO - Peranzetta e Tapajós: com Carrilho, um show que o Guaíra deveria valorizar.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
30/08/1991

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