Um filme com beleza em todas as formas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de abril de 1987
"Eu" traz um pouco de humor. Não chega a ser uma comédia, mas Khouri admite que procurou ser mais leve, um filme mais sweet como diz, "com menos agressividade, embora o personagem central tenha uma certa voracidade animal".
- "Tarcísio é o personagem e o personagem é ele. É sua interpretação que dá o nonchanlance do filme, o personagem não é levado inteiramente a sério, nem por ele nem por mim".
Como acentuou Edmar Pereira, do "Jornal da Tarde", estrela absoluta da história, Tarcísio passa todo o filme rodeado de mulheres bonitas, valorizadas pelo toque de Khouri, o cineasta brasileiro que melhor sabe captar a beleza feminina. Pela vida de Marcelo passam Bia Seidl (como sua filha), Monique Lafond, Nicole Puzzi, Sônia Clara, Christiane Torloni, Ângela Matos, Analy Alvares e duas estreantes: a sensual modelo Monique Evans e a linda Luciana Clark, filha da atriz Ilka Soares e do ex-tycoon da Globo, Walter Clark.
Sofisticado e de extremo bom gosto musical, Khouri sempre valorizou as trilhas sonoras de seus filmes. Rogério Duprat foi por anos o responsável por esta parte, mas "Eu" marca o início da colaboração com Júlio Medalha, maestro e arranjador, identificado ao pensamento de Khouri. A trilha foi lançada há um mês pelo Estúdio Eldorado e traz tanto as composições originais para o grupo formado por Amilson Godoy (piano), Walmir Gil (trumpete), Severino Gomes da Silva (trombone), Isidoro Longano, o Bolão (sax-tenor), Genson Luiz (baixo) e William Karam (bateria), como o Tradicional Jazz Band. A TJB já havia aparecido em duas seqüências de "Amor Estranho Amor", o penúltimo filme de Khouri - que lançou como atriz Xuxa Meneghell - lindamente despida (e uma das razões da ótima bilheteria que a reprise teve agora, quando Xuxa é uma superstar da Globo e já vendeu 2 milhões de cópias de seu disco).
Orçado em US$ 250 mil, "Eu" foi a primeira produção nacional mixada com som Dolby, o que também entusiasma Khouri:
- "Fui fazendo e aprendendo ao mesmo tempo. Acho que esse sistema funciona até melhor em filmes intimistas, quando se precisa de ruídos do mar, de noite e de pássaros, do que nas produções espetaculares, onde o barulho é sempre óbvio".
A fotografia é de Antônio Meliande, colaborador habitual de Khouri - mas que como cineasta tem cometido muitas pornoproduções de péssimo nível. Khouri muitas vezes tem sido acusado de explorar em demasia o sexo e a nudez de suas atrizes. Não nega que há um visual estético sensual, mas tem uma explicação clara, que já nos dizia há anos, quando de uma de nossas primeiras entrevistas:
- "É aquela tal história: close de Greta Garbo é mais erótico do que nu de "Playboy". Uma coisa é erotismo, outra é pornografia. A pornografia de Henry Miller é maravilhosa, enquanto o erotismo de "Emanuelle" é bobo, vazio. Existe o mau erotismo e a boa pornografia, como existe o bom erotismo e a má pornografia".
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