O centro de Gil para a contra-informação
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de abril de 1987
Contra-Informação. O outro lado da notícia. Eis a preocupação de José Gil de Almeida, 30 anos, ativíssimo presidente do Conselho Nacional de Cine-Clubes, paranaense de Campo Mourão, assumidamente defensor da linha Pró-Líbia, país que visitou já por duas vezes e sobre o qual escreveu um livro.
Após editar oito números do independente "Opção Cultural", Gil decidiu reformular a publicação, a começar pelo título: "Contra-Informação". Só que, ingenuamente, reconhece, confiou que o mesmo pudesse ter ajuda oficial e após um mês de espera de que a Secretaria da Comunicação Social liberasse verbas para sua publicação, "ao menos cobrindo os custos", recebeu um sonoro não.
Honestamente, Gil entende a posição do secretário Fábio Campana. Mesmo com toda a honestidade ideológica que sempre o caracterizou, Campana ocupa hoje um cargo oficial - e se ajudar um jornal anárquico e debochado como é o de Gil Almeida, por certo terá problemas.
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No último fim de semana, Gil reuniu-se com companheiros de ideais anarquistas (sic) para estruturar o primeiro Centro Cultural de Contra-Informação. De princípio, são os dirigentes de alguns cine-clubes igualmente anarquistas que apoiam o projeto: Alberto César e Antônio Carlos Marques, do recém-fundado Cine-Clube Zaratrusta; Edson Vulcanisi, do Cine-Clube Sindicato do Delírio; Sirleide Carvalho, do Cine-Clube da cidade de Medianeira; Marilena Martins, do Cine-Clube Augusto Sandine e o mais novo dos Cine-Clubes da cidade, o Kaos, fundado pelo próprio Gil Almeida - e que já fez circular em edição xerocada, um fanzine dos mais debochados.
Com base no que observou na França e Itália, em fevereiro último, quando retornou da Líbia, Gil Almeida quer fazer do Centro Cultural de Contra-Informação uma barricada para difundir "aquilo que não é noticiado nos meios de comunicação tradicional devido às mais diferentes razões". A questão está em conseguir um espaço, "no qual o centro possa funcionar 24 horas por dia, com canais diretos e até internacionais para mostrar o outro lado dos fatos", explica Gil - que afirma ter bons contatos com entidades semelhantes, em outros países, para lhe fornecer informações confidenciais e up to date. Tem plena consciência do terreno minado que está pisando, mas, corajosa e assumidamente, não esconde suas posições. E tem mais: para que o Centro possa sobreviver economicamente, vai montar um Vídeo-Clube, que não se limitará apenas aos títulos convencionais, mas obviamente, trazer tapes muito exclusivos... e explosivos.
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