Um filme, muitos shows e o novo disco de Flora
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de agosto de 1986
Dois assitentes do cineasta Bob Rafelson, 50 anos, e dois câmeras estão acompanhando Airto e Flora nesta sua excursão pelo Brasil.
Dale Djerassi e Isabel Maxell, da equipe do diretor de "O destio bate a sua porta", estão já há dois anos trabalhando na pré-pré-produção do filme sobre Flora e Airto. Inicialmente, foi a CBS que adquiriu os direitos para realizar um filme de duas horas sobre o casal, tendo inclusive o pré-roteiro desenvolvido transformando-se no livro "Freedon's song".
Entretanto o tratamento dado ao argumento e a forma com que os problemas de Flora foram tratados - especialment sua prisão entre 1974/75, devido ao seu envolvimento com tóxicos - não agradou o casal. O projeto acabou congelado e, agora, é Rafelson quem está disposto a fazer um filme, para os circuitos de cinema numa produção bem mais ampla que não será apenas a cinebiografia da brasileira que chegando aos Estados Unidos em 18 de dezembro de 1967, sem conhecer ninguém no meio artístico, acabaria escalando primeiro lugar na lista das melhores cantoras de jazz no "Down Beat", onde, também Airto já esteve, por 10 vezes, como melhor percussionista.
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Como Rafelson, diretor de filmes como "Cada um vive como quer" (Five easy pieces, 70) e "Um dia de loucos" (The king of Marvin Gardens, 72), estrelados por seu amigo Jack Nicholson, deseja realizar um filme que tenha maior dimensão do que a cinebiografia, vem buscando fazer o mais completo levantamento de tudo o que se relaciona a Flora e Airto. Dale e Isabel, seus assistentes, na próxima semana estarão em Curitiba, conversando com dona Zelinda, a irmã de Airto, Oneida e outras pessoas ligadas afetivamente ao percussionista, da mesma forma que farão este trabalho em São Paulo e Rio. A intenção é ter condições de produzir um roteiro definitivo - a ser desenvolvido pelo poeta e escritor Al Young, vários livros publicados. Ou seja, um filme que só estará pronto para a temporada de 1988/89, mas que, pela competência de Rafelson vem demonstrando em seus filmes (desde que estreou com uma inventiva comédia, "Os monkees estão a solta", 68), terá condições de se afigurar como uma obra de arte. Airto, em seu jeito simples e objetivo, diz:
- Nós preferimos assim. Que o filme seja livremente inspirado em nossas vidas, mas sem a obrigação de uma narrativa linear.
Já se falaram em muitos nomes para interpretar o casal (Jane Fonda e Florinda Bulcão para o papel de Flora). Entretanto, até agora, os nomes mais fortes são o de Cher, também cantora ("Marcas do passado", "Silkwood") e Robert de Niro ou Raul Julia. Apesar de todo andamento do projeto, até agora, nem Flora, nem Airto tiveram contato direto com Rafelson.
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Esta semana, nos Estados Unidos, está sendo lançado o novo lp de Flora - "Bird of paradise" (Concord Records), título de uma de suas canções com Airto, ao lado de "Esquinas" (Djavan), "The magician" (Airto/Egberto Gismonti), "Sweet baby blue" e "Garimpo" (Marcos Silva), entre outros temas inéditos. No ano passado, o álbum "Humble People", com "20 anos blues" (Suely Costa/ Abel Silva) valeu a Flora uma nomination como "Best Jazz Vocal Performance Female" no trofeu Grammy, da The National Academy of Recording Arts and Sciences. Recentemente, por uma pequena etiqueta, saiu "Latino - aqui se puede", disco que Airto havia gravado há alguns anos, especialmente para a colônia espanhola. Estes discos - assim como "Rufus" (precioso trabalho sonoro, editado em laser) permanecerão inéditos no Brasil, mas, em compensação, o casal está em conversações com uma poderosa multinacional para fazer três elepês a serem lançados aqui simultaneamente aos Estados Unidos.
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