Um plano para atender reivindicações gerais
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de fevereiro de 1990
O projeto para o desenvolvimento regional dos municípios lindeiros do lago de Itaipu nasceu da necessidade de disciplinar as dezenas de solicitações que, com toda razão, as comunidades atingidas pelo lago de 1.350 quilômetros quadrados vinham fazendo há anos a administração da Binacional. Tendo perdido áreas férteis, sete municípios lindeiros - Guaíra, Marechal Cândido Rondon, Medianeira, Missal, Santa Helena, Santa Terezinha do Itaipu e São Miguel do Iguaçu (correspondente a três por cento da área do Paraná) passaram a fazer reivindicações diversas. Foz do Iguaçu, por sua própria condição de cidade-sede do projeto - e que teve os impactos mais diretos (e benefícios em termos de boom desenvolvimentista) caracterizou-se sempre em condições especiais.
Assim, numa intenção de fazer um atendimento global, em bloco, à região atingida diretamente pelo lago foi que a diretoria de coordenação da Binacional, desenvolveu através do Instituto Iguaçu de Pesquisa e Preservação Ambiental um projeto amplo, capaz de fazer um diagnóstico de toda uma situação e, principalmente propor soluções para os próximos anos. Um documento de tamanha importância para o futuro não só da região - mas do próprio Estado - que, sucintamente, estamos, em primeira mão, divulgando em alguns pontos.
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A consultoria econômica que funcionou no projeto, formada pelos economistas Alceu Carnieri e Alberto Paranhos e as arquitetas Eleny Costa e Cristina Sato, num relatório prévio, de quase 200 páginas, estudou exaustivamente todas as potencialidades - bem como os problemas da chamada microrregião homogênea 288, que compreende 30 municípios encravados numa área de aproximadamente 23.128 km2 - o que equivale a 11,6% do Estado e com uma população superior a um milhão de habitantes.
Para a execução de uma fase básica do trabalho, foram utilizados contatos diretos com as administrações municipais, reunidos com as comunidades envolvidas em pesquisas em fontes oficiais de dados. Esse conjunto de informações possibilitou a organização de um banco de dados na Itaipu Binacional. Nos contatos com as companhias, foi efetuado um levantamento do rol das reivindicações locais, analisando-se suas prioridades apontadas, a competência administrativa e o âmbito de abrangência, posteriormente cotejadas e complementadas com as opiniões das associações comerciais, industriais e agrícolas dos municípios envolvidos.
Assim, o resultado é um projeto que, embora nesta primeira fase esteja aberto a debates, alterações e modificações, já reflete aquilo que a equipe constatou na região: o interesse natural das comunidades em consolidar na região um polo econômico centrado na própria utilização do lago de Itaipu, tanto pelo seu potencial turístico como pelas perspectivas de apoiar verdadeiras "fazendas aquáticas" para cultivos diversos. O dinamismo próprio da região, mais voltada à agricultura do trinômio soja-milho-trigo, complementada pela avicultura e suinocultura, mantém as áreas em franco desenvolvimento, embora dependendo das oscilantes políticas governamentais para esse setor econômico.
De acordo com projeção do IBGE, estima-se que neste ano a população total dos municípios lindeiros a lago (exceto Foz do Iguaçu) já esteja aproximando-se dos 250 mil habitantes, distribuídos em aproximadamente 56% nas áreas urbanas e os restantes 44% nas áreas rurais.
Esta região está frente a um fato novo, que mudou a geografia da região - e, naturalmente, interfere em todos os outros segmentos: economia, meio ambiente, lazer etc. Afinal, não custa repetir: em linha reta são cerca de 150 km de frente d'água, o que significa um novo litoral paranaense - três vezes mais extenso do que a distância de Paranaguá a Guaratuba, sem considerar os meandros e reentrâncias que chegam a triplicar essa frente lacustre. Se o Litoral tradicional tem todo um mercado de demanda na Região Metropolitana de Curitiba, é preciso despertar para o fato de que o mercado adjacente ao lago de Itaipu também é muito expressivo. Sem contar as demandas paraguaia e argentina, e os outros grandes pólos urbanos paranaenses (Londrina, Cascavel e Maringá) estão mais perto do litoral lacustre que do Litoral marítimo. Portanto, não há falta de demanda potencial: seguramente o que falta são ofertas atrativas.
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