Máquinas, rodovias e os brasiguaios
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de fevereiro de 1990
Antes de se encerrar estas anotações sobre o futuro da região atingida pelo lago de Itaipu, alguns últimos apontamentos feitos nas Diretrizes de Desenvolvimento Regional.
Por exemplo, uma grande reivindicação levantada pelas comunidades é a de criação de patrulhas mecanizadas, que teriam máquinas (adquiridas pela Itaipu Binacional) para a conservação de estradas vicinais e de apoio agrícola. Estas patrulhas mecanizadas seriam cedidas a grupos de municípios, por meio de algum instrumento jurídico formal (cessão de uso, empréstimo, aluguel não oneroso etc.). Os municípios componentes de cada grupo seriam co-responsáveis em conjunto pelos custos de manutenção e pela programação de uso da patrulha mecanizada, e, individualmente, cada um cobriria os custos operacionais correspondentes aos tempos de uso em seus territórios.
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A intensidade de utilização da rodovia federal BR-277 e os prognósticos de desenvolvimento da região fazem com que o estudo alerte também para a necessidade de um projeto de duplicação da rodovia prioritariamente no trecho entre Cascavel/Foz do Iguaçu, considerando a possibilidade de futuros anéis de contorno nas cidades atravessadas. Além do Portal de Foz - com uma possível zona de livre comércio - outra intervenção viária nesse trecho poderá ser a implantação de uma via paralela, em um dos lados da rodovia, em tratamento primário de boa qualidade, para o tráfego das máquinas e implementos agrícolas, abundantes na região e que hoje transitam pelo leito da rodovia, por falta de alternativa, contribuindo para o seu desgaste e deterioração, além de causar retenções no tráfego rodoviário e representando causa de graves acidentes.
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Da mesma forma, a intensidade da ligação Brasil-Paraguai pela Ponte da Amizade justifica também uma duplicação. Estudos técnicos devem ser iniciados para a definição dessa obra, que venham a exigir ou uma nova ponte, ou uma duplicação conjunta da atual, inaugurada há 25 anos. Como uma solução definitiva exigirá investimentos pesados, há uma proposta alternativa para cargas e passageiros: o restabelecimento, melhorado, da antiga travessia de balsa entre as cidades de Foz do Iguaçu e Cidade do Leste. A melhoria viria com a construção de acessos, embarcadouros e outras instalações de apoio.
A recuperação da rodovia BR-163, Cascavel-Toledo-Marechal Cândido Rondon-Guaíra, hoje em situação precária, é outra das observações do estudo, que destaca também a importância, do futuro Consórcio a ser criado possa assessorar os municípios no cumprimento de metas administrativas e financeiras previamente definidas por cada um, dentro de possibilidades realistas e de um conceito geral de fortalecimento municipal. Esse assessoramento seria feito por meio da capacitação e aperfeiçoamento dos profissionais em serviço em cada Prefeitura, de modo a melhorar a capacidade técnica local.
Uma preocupação final diz respeito a situação dos brasileiros que vivem no Paraguai, os chamados "brasiguaios". As recentes determinações legais daquele país visam a progressiva expulsão desse contingente das áreas de fronteira. Hoje são estimados em cerca de 350.000, vivendo na faixa de 100 km que o Paraguai considera "área de fronteira". É possível que essa determinação seja revista e abrandada, como também é possível que boa parte desse contingente resolva mudar-se para o interior do Paraguai, fora das áreas de fronteira, reinvestindo seu capital.
Porém, é preciso considerar também a hipótese mais pessimista de que a maioria desse contingente decida abandonar o Paraguai e voltar para o Brasil. Assim, adverte o projeto elaborado pelo Instituto Iguaçu de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental: "é claro que essas famílias não foram consideradas nas condicionantes de estimativa de crescimento demográfico e, se ocorrer esse evento, aquelas estimativas estarão completamente subdimensionadas, necessitando correção.
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