Vaias à dramaturgia
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de fevereiro de 1985
Vai mal a criatividade, na dramaturgia brasileira. Pela primeira vez em sua história, o Concurso Nacional de Dramaturgia (adulto) - prêmio Nelson Rodrigues, do Inacem - não teve premiações. E havia 257 inscrições para essa 14ª edição de uma premiação que nos anos mais duros da ditadura distinguiu peças de Oduvaldo Viana Filho (duas vezes) e outros autores, imediatamente proibidos pela Censura Federal.
A comissão julgadora (Márcio Souza, Macksen Luiz, Sílvio Zilber, Aldomar Conrado, Ivan Albuquerque, Paulo Betti, e Timochenko Webbi) explicou, alto e bom som, porque se recusou a atribuir as premiações aos três primeiros lugares, nem a indicar os textos para leituras públicas.
Disseram os jurados: "O Brasil não é um País em formação, possui tradição literário-teatral, exigindo, por essa razão, rigorosos critérios de julgamento. Esses critérios estão claros na história da nossa dramaturgia: intimidade com a carpintaria teatral e a profunda percepção da realidade humana do país. Na ausência dessas premissas, a Comissão Julgadora presente deliberou pela não premiação dos 257 textos concorrentes".
Em compensação, o XIV Concurso Nacional de Dramaturgia Infantil - Prêmio Pedro Veiga - teve vencedores. Em primeiro lugar, Ilo Krugli, diretor e criador do grupo Vento Forte e que já veio algumas vezes a Curitiba, ganhou o primeiro prêmio (Cr$ 2 milhões) com seu texto "Labirinto de Januário". O segundo lugar foi para Tonio Carvalho ("A Idade do Sonho") e "Viagem ao Coração da Cidade" deu a Adhemar de Oliveira o terceiro prêmio.
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Pelo visto, para as crianças ainda há esperanças. Aos adultos, só restam as remontagens.
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