Mato Grosso recupera filme de seu Estado
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de fevereiro de 1985
José Octávio Guizzo, 44 anos, presidente da Fundação Cultural de Mato Grosso, conseguiu recuperar um filme que se considerava definitivamente perdido: "Alma do Brasil", realizado por Líbero Luxardo e Alexandre Wulfes, na década de 30. Há 10 dias, no Teatro Glauce Rocha, em Campo Grande, houve o projeção desse pioneiro filme, o primeiro brasileiro sonorizado e que, rodado em Mato Grosso, contava o episódio da Retirada da Laguna, em 1867, durante a guerra com o Paraguai.
Guizzo - ou o "Mato Grosso" - tem muitas ligações com Curitiba. Aqui passou cinco anos, cursando da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, formando-se em 1964. Fez política universitária, foi vice-presidente do Centro Acadêmico Hugo Simas - na região em que o hoje promotor Antônio Lopes de Noronha era o presidente - e sempre desenvolveu intensa atividade cultural. Ganhou vários concursos literários e foi o primeiro a fazer uma reportagem destacando o valor do trombonista Raulzinho, quando o hoje internacional músico era um anônimo sargento da Aeronáutica, atuando na banda da Escola de Oficiais e Especialistas de Guarda.
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Voltando a Campo Grande, há 20 anos que José Octávio Guizzo ali desenvolve intensas atividades culturais. Tanto é que acabou sendo o primeiro presidente da recém-implantada Fundação Cultural, que vem realizando ótimo trabalho. Pesquisador de música e cinema, José Octávio publicou um livro sobre a nova música daquele Estado e, acompanhando suas pesquisas em torno de "Alma do Brasil", também produziu um roteiro tese, resultante de oito anos de pesquisa sobre o trabalho dos dois cineastas. Aliás, a primeira notícia a respeito desse trabalho foi divulgado em nossa coluna, há mais de dois anos.
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Sempre atento ao trabalho dos pesquisadores do cinema brasileiro, Francisco Alves dos Santos, responsável pela área cinematográfica da Fundação Cultural de Curitiba, já está contatando com Guizzo para que essa cópia, agora recuperada, de "Alma do Brasil", venha a ser projetada em Curitiba. Ainda mais agora, quando a FCC além da Cinemateca e do Cine Groff, disporá de mais duas salas - o Cine Ritz, que inaugura dia 13 de março, e, dentro de alguns meses, o Cine Luz, no subsolo do edifício-sede do City Bank, na Praça Santos Andrade.
As filmagens de "Alma do Brasil" foram complicadas. Afinal, Wulfes e Líbero Luxardo (que morreu há poucos anos, em Belém do Pará) eram amadores entusiastas pelo cinema e se lançavam no projeto de fazer uma superprodução. Mas tiveram uma ajuda importante do general Bertoldo Klinger, que na época chefiava manobras militares, entre Nioaque (no antigo Mato Grosso) até Laguna, percorrendo em parte a mesma trajetória dos soldados brasileiros. As tropas do general Klinger faziam um treinamento para a (frustrada) revolução de 1932, quando São Paulo e o Sul de Mato Grosso se aliaram para tentar derrubar o governo do presidente Getúlio Vargas.
A parte documental foi enriquecida com elementos de ficção, recriando os principais personagens da Retirada de Laguna, do romance de Visconde de Taunay. Num elenco de quase 300 pessoas, apenas a portuguesa Conceição Ferreira era atriz profissional. Havia deixado Lisboa aos 20 anos e, apoio trabalhar no Rio como atriz e cantora de fatos, viajou pelo Brasil encenando a peça "Mater Dolorosa", passou por Campo Grande e ali foi convidada a participar do filme no papel de uma mãe desesperada diante da ameaça de morte de seu filho pelos paraguaios.
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