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Aramis

Os novos da MPB de Mato Grosso

Primeiro foram os baianos. Depois os pernambucanos e cearenses. Agora é a vez dos mato-grossenses dentro da MPB - sem falar que os gaúchos, com mais de 400 lps já gravados, há muito são auto-suficientes em sua produção musical. Com "Escrito nas Estrelas", Tetê Espíndola conseguiu, afinal, o reconhecimento nacional para sua voz originalíssima (e maravilhosa), vendendo mais de 150 mil cópias do disco-mix e catapultuando [catapultando] as vendas do lp na Polygram - o terceiro de sua carreira. Mas nem só de Tetê vive a música de Mato Grosso. Por exemplo, Almir Sater, esplêndido violonista, bom cantor e ótimo compositor, tem como parceiro o letrista Paulo Simões, que há alguns meses lançou sua primeira produção independente. Trata-se de um compacto simples, com o grupo Expresso Arrasta-Pé, interpretando "Coração Teimoso", dele próprio e "Pinha no Pinheiro" (Geraldo Meirelles/Nhô Fio). Paulo é o vocalista e violonista, acompanhado por Maurício também no violão e vocais, mais Sandra, Pingo e Regiane e, em participação especial, Capenga (baixo/cavaquinho), Carneirinho (bateria/percussão) e César (acordeon). Como este disco não se encontra nas lojas de Curitiba, quem desejar deve solicitar à JCB - Rua Rio Grande do Sul, 1.754, Campo Grande, MS. xxx Outra produção independente de Mato Grosso é o compacto simples com Celito Espíndola, irmão de Tetê e que com ela integrou, anos atrás, o grupo Lírio Selvagem (que chegou a fazer um lp na Polygram). São duas composições de Celito - "Gata Vadia" e "Última Edição", esta em parceria com Paulo Simões, que foram gravadas em ocasiões diferentes - a primeira em março do ano passado, a segunda só em agosto/85, no estúdio Eldorado. Foi uma luta para conseguir recursos para prensar o compacto, mas o esforço valeu e embora pequeno no tamanho, é grande em seu significado cultural, mostrando que talento é comum na família Espíndola - haja vista que outro irmão, Humberto, que durante anos aqui residiu, estudando jornalismo na Católica, é hoje nome nacional - só que nas artes plásticas. Quem desejar adquirir o disco de Celito Espíndola pode solicitar à Musicanto Disco, Praça do Patriarca, 78, 2º andar, s/24, São Paulo, que o está comercializando. xxx O peso é imenso: filho do mais famoso (e talentoso) dos Beatles, enteado da astuta Yoko Ono, e, aos 23 anos, tendo que aguardar ainda até 1989 para entrar de posse de sua parte na imensa fortuna deixada pelo pai, John, Julian há pelo menos 10 anos tenta trilhar seus próprios caminhos musicais. Aos 11 anos já tocava bateria num álbum do pai e apesar do sobrenome famoso, sua carreira tem sido muito pessoal. Há dois anos fez o primeiro lp, "Vallota" (RCA) e agora, a propósito do lançamento de "The Secret Value of Day Dreaming" (RCA, março/86), sua carreira deslanchou, com uma excursão iniciada nos dias 12 e 13 de maio, pelo Royal Albert Hall, em Londres, e que inclui teatros em Birmingham, Dublin, Edinburgo e Manchester. O elepê é agradável. A voz não lembra tanto a do pai famoso, embora tenha os mesmos timbre e sotaque e suas composições (todas do álbum) são suaves e agradáveis. Faixas como "Everyday", "Let me tell You" e "I've Seen Your Face" trazem algumas referências Beatles, obviamente, como anotou o crítico Antônio Carlos Miguel. Mas a canção onde ele lembra mais de seu pai é "Coward till the end?", uma balada pacifista. É difícil carregar o peso de um sobrenome famoso. Mas Julian Lennon mostra neste seu "The Secret Value Of Day Dreaming" um grande mérito: suavidade e ternura. Virtudes que faltam em tantos discos jovens. xxx Depois de um primeiro elepê, que passou meio despercebido, há quase dois anos, o Kid Creole and the Coconuts começa a ter um público mais amplo no Brasil. Na estrada musical desde 1982, o grupo liderado por August Darnell (o Kid Creole) primeiro fez sucesso na Europa para depois se voltar aos Estados Unidos e a partir de agora, aos países da América do Sul. Em março, veio a São Paulo e lotou suas apresentações, estimulando a WEA a apressar a edição deste "The Best of...", síntese dos êxitos de seus seis lps, como "Armie, I'm not your Daddy", "I'm a Wonderful Thing, Baby" e "The Lifeboat Party". Novaiorquino do Bronx, Darnell antes de conseguir o sucesso na fórmula descontraída (e quase circense, nas apresentações ao vivo), do Coconuts trilhou vários caminhos e integrou grupos como a Savannah Band, onde, aliás, conheceu o segundo membro do Kid Creole: Andy Hernandez (ou Coate Mundi), na época o orquestrador daquela banda. xxx Como crianças e adolescentes são público alvo perseguidos pelos diretores de marketing das gravadoras, a RCA está investindo o que pode para fazer o minigrupo Trem da Alegria correr nos mesmos trilhos do Balão Mágico, embora os vôos do quarteto da CBS estejam, por enquanto, mais altos em termos de consumo. A exemplo da Turma do Balão Mágico, o Trem da Alegria também cresceu para quarteto e, em muitas faixas de seu novo lp tem presenças especiais - como Xuxa ("A Patinha da Vovó" e "Na Casca do Ovo"), Joe ("Tic-Tac do Amor"), Evandro Mesquita, dos Paralamas do Sucesso ("Fera Nenem") e o grupo Roupa Nova ("Zeppelin"). Como se vê, na briga pelo público infantil, vale tudo... LEGENDA FOTO 1 - Trem da Alegria: marketing infantil. LEGENDA FOTO 2 - Expresso Arrasta-Pé: música de Mato Grosso. LEGENDA FOTO 3 - Kid Creole: música com visual. LEGENDA FOTO 4 - Julian: responsabilidade de sobrenome.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
18/05/1986

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