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Aramis

Kali, um belo som das lindas meninas

Na clássica comédia de Billy Wilder, "Quanto Mais Quente Melhor" (Some Like It Hot, 59), por sinal sendo relançado nos circuitos comerciais, Tony Curtis e Jack Lemmon perseguidos por gangsters de Chicago, vão se esconder numa orquestra só de mulheres, na qual se encontram com Marilyn Monroe (1926-1962), no auge de sua beleza e sexualidade. A idéia de uma banda musical só formada por mulheres há quase 30 anos é perseguida por muitos empresários no Brasil. Rita Lee quase chegou a formar uma, mas no final acabou faltando gente do chamado sexo feminino com suficiente disposição para enfrentar a barra de um trabalho pesado. Por estas e outras razões, que há quase quatro anos as meninas do grupo Kalil [Kali], de São Paulo, estão habituadas ao ceticismo, à descrença. "No início as pessoas não levam fé" - explica Renata (Montanari Rodrigues, 23 anos, guitarrista). Gê (Maria Eugênia Guimarães Cortes, 26), baixista, acrescenta: - "Acham que mulher não pode tocar bem. A expectativa sempre é de que no máximo vamos tocar engraçadinho, direitinho, mas não fazendo uma música de impacto." Mas Renata e Gê - mais Mariô (Maria Olinta Sena Rebouças, 32 anos, pianista) e Vera (Lúcia Figueiredo), 29 anos, ex-pianista, hoje baterista - foram à luta e conseguiram provar que é possível fazer música moderna, da melhor qualidade, sem a presença masculina. Do circuito dos bares chegam a espaços mais nobres e para isto ajuda um belíssimo lp feito há pouco na Som da Gente. O nome do grupo já lembra uma proposta: a deusa indiana da renovação, da transformação. Tanto é que o grupo começou como hepteto mas ficou como quarteto. Amadureceu sua música e trazem no disco um som "alegre, com astral para cima, marcante", como diz Mariô. Realmente, um ótimo repertório, com apenas uma música conhecida ("Upa, Neguinho", Edu Lobo/ Gianfrancesco Guarnieri). Entre as demais, duas faixas foram compostas especialmente para o grupo: "Seiralen", do guitarrista suíço Ted Barloche e "Balada pras Minas", de Rui Seleme, ex-grupo D'Alma. Há também composições próprias: três de Renata ("Funk do Tank", "Locomotiva" e "Ubachuva"), uma de Mariô ("Papai Sabe Tudo"); e ainda uma da flautista Léa Freire, integrante do grupo na primeira fase ("De Tequila"). Completando o disco, "Pitu", de Rique Pantoja. Em todas, um ponto em comum: os (interessantes) arranjos são criações coletivas. Afinal, o trabalho das meninas do Kalil [Kali] é democrático: todas as quatro têm direito a palpites e opiniões. A amostra neste lp é excelente. Vamos torcer para que o grupo sobreviva.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
2
18/05/1986

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