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Aramis

Um grupo que projeta o Paraná nacionalmente

Dois dias após ter assumido o governo do Paraná, na noite de 17 de março de 1983, o governador José Richa foi (possivelmente pela primeira vez) ao auditório Bento Munhoz da Rocha Neto para assistir a estréia de "O Grande Circo Místico", pelo Ballet Guaíra, com música de Chico Buarque-Edu Lobo, em concepção de Naum Alves de Souza sobre um poema de Jorge de Lima. Inteiramente planejado e realizado na administração anterior, "O Grande Circo Místico" consagraria o Ballet Guaíra como companhia profissional de danças. Durante 3 anos este belíssimo espetáculo foi levado a dezenas de cidades e aplaudido por milhares de pessoas, inclusive em Portugal. Uma montagem elogiada pela crítica, consagrada pelo público - e que deu ao Ballet Guaíra um status profissional que, desde sua criação - em 1969, pelo então governador Paulo Pimentel - vinha buscando. Através do trabalho de entusiastas diretores - Yara de Cunto, Ceme Jambat, Yurek Shabelewski, Hugo Delavalle, Eric Waldo e, chegando em 1979, a Carlos Triencheiras - o Ballet Guaíra é hoje um corpo estatal consolidado - e com prestígio que o faz, por exemplo, ser convidado para participar, na primeira semana de abril, do Festival Internacional de Dança, no Municipal do Rio de Janeiro - em promoção que terá, entre outras, a presença do Bolshoi. Entretanto, o Ballet Guaíra vive uma crise. Nestes três anos, poucas montagens foram feitas - entre elas, "Giselle" (que já havia sido apresentada há 11 anos) e "A Pastoral", de Beethoven. Faltou, entretanto, um novo espetáculo de raízes brasileirras - como havia sido "Jogo de Danças", de Edu Lobo (estreado em 2 de outubro de 1981) ou "O Grande Circo Místico" - cujos direitos para ballet, permanecerão com a Fundação Teatro Guaíra por mais 17 anos. Carlos Triencheiras, profissional dos mais respeitados no mundo da dança, ex-coreógrafo do Ballet Gulbenkian, em Lisboa, com relacionamento internacional, tem procurado manter o Ballet Guaíra como uma grande companhia profissional. Infelizmente, bailarinas talentosas - como Bettina Dalcanalle e Cristina Kammuler, descontentes com a política interna - deixaram o grupo. Outras demissões e autodemissões podem enfraquecer ainda mais o Ballet Guaíra. O clima na companhia é tenso. Nervosos, os bailarinos discutem, brigam, reclamam. Acima de tudo, sente-se a falta de confiança na estrutura oficial. E com isto o Paraná está perdendo, mais uma vez, um grupo artístico. Formar uma companhia de dança exige sacrifícios e tempo. Aquilo que ao longo de duas décadas foi feito para que o antigo Corpo de Baile da Fundação Teatro Guaíra conseguisse, está em risco. Desmentidos, notas oficiais e releases autopromocionais não podem esconder os fatos. Basta ouvir os bailarinos(as) - que mesmo temendo represálias pessoais - mostram como a incompetência administrativa de um governo pode refletir-se em prejuízos na área cultural.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
20/03/1986

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