Ballet Guaíra está em seriíssima crise
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de março de 1986
A única presença cultural do Paraná em termos nacionais com relativo prestígio - o Ballet Guaíra - está mergulhado numa seríissima crise que pode levar, a curto prazo, senão a dissolução do grupo, ao menos uma debacle artística comprometendo o trabalho de muitos anos.
Falta de apoio aos projetos desenvolvidos pelo diretor Carlos Triencheiras, pressões internas desestabilizando a companhia, ameaças de demissões sem justa causa, imposições políticas buscando o aproveitamento da companhia oficial de danças e, principalmente, a falta de um plano de ação, são, entre outros, problemas que os próprios integrantes do Ballet estão denunciando - inclusive através de cartas encaminhadas a deputados e vereadores. Num dos documentos é lembrada a situação aflitiva dos bailarinos - cujos salários variam de Cz$ 1.200,00 a Cz$ 3.500,00, insuficientes para cobrir as despesas de sobrevivência de profissionais que têm que se dedicar em tempo integral - oito horas diárias - a exaustivos ensaios, inclusive aos sábados. Alegam os integrantes do Ballet Guaíra - hoje com 50 profissionais - "que não possuímos também o adicional comissional por noite de espetáculo, fator que ajudaria no montante de salário mensal, sem contar que temos de arcar com as despesas do material de trabalho e as maquilagens de espetáculos".
Entretanto, mais do que as dificuldades econômicas, os bailarinos do Guaíra vêm sofrendo "o desgaste material e psicológico" representado pela falta de um programa definido e as constantes pressões da diretoria de arte e programação - com quem tem ocorrido sérios atritos. Uma das conseqüências do clima de insegurança dentro do Ballet Guaíra foi o afastamento da sra. Isabel Santa Rosa, esposa do maitrê Carlos Triencheiras, ex-primeira bailarina do Ballet Gulbenkian, em Lisboa, e que exercia as funções de assistência e ensaiadora do grupo. Aborrecida com problemas internos, Isabel demitiu-se de suas funções, para tristeza dos membros do Ballet Guaíra que nutriam a maior admiração e respeito pelo seu trabalho profissional - ao qual, aliás, se deve muito dos êxitos que a companhia alcançou nestes últimos anos.
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