Cantoras
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de junho de 1980
Se colocados ao lado os nomes até lembram uma dupla sertaneja: Teti & Tetê. Mas são duas cantoras de origens diferentes, que, com seus elepes-solos, aparecem, com muita personalidade e garra neste semestre, ampliando ainda mais o universo sonoro feminino. Ambas são veteranas, de certa forma, embora só agora com um trabalho mais pessoal. Cearense de Quizadá. Teti fez parte do núcleo que, a partir de 1966, reuniria em torno de Fagner, Belchior e outros jovens compositores intérpretes, todo um movimento cultural. Junto com Rodger, que viria se tornar seu marido e pai de sua filha de 10 anos, Teti participaria do histórico lp << O Pessoal do Ceará >>, feito na Continental e, depois, em << Retrato Marrom >>, já dividido com Rodger, na RCA. Mas enquanto Fagner e Belchior se projetavam, num trabalho regular - e que possibilitaria todo o grupo se firmar, entre 1978/80, com uma produção regular na CBS, avalizada pelo hoje consagrado Fagner - a tal ponto que as iniciais da multinacional passaram a identificar os ditos << Cearenses Bem Sucedidos >>.
Mais amadurecida e tranqüila, Teti faz agora seu lp individual (<< Equatorial >>. CBS), produção em que se somaram três grandes amigos - Fagner, Fausto Nilo e Tulio Mourão, resultando um excelente trabalho artístico. Em cinco músicas aparece como um dos autores e piauiense Clodo (que junto com Climério e Clésio também fez um lp na CBS, << Chapadão do Corisco >>): << Daniela >>, << Maracá >> e << Barco de Cristal >> e << Último Raio de Sol >>: e << Falando da Vida >>, parcerias com Rodger Rogério: O marido de Teti, Rodgers, com Zilda Mamede (<< Jumento Passarinho >>) e Dedé (<< Falando da Vida >>), tem duas outras músicas. << Girias do Norte >> (Onildo Almeida), << Pé na Terra >> (Stélio Valle/Fausto Nilo). << Vento Rei >> (Zé Maia/Calé), << Passarás, Passarás, Passarás >> (Petrúcio Maia/Capinam), << Especial >> (Belchior) e a faixa que dá título ao lp, << Equatorial >> (Café/Fausto Nilo), completam o disco. Cada uma destas músicas exige uma audição atenta, pois como diz o produto e compositor Fausto Nilo, trata-se de << um trabalho com aspectos de contemporaneidade, urbano, e não apenas regional, folclorico >>. Teti é um novo nome que se acresta a já expressivo elenco de artista cearenses - jovens, criativos, inquietos - que realmente estão posicionando muito bem aquele Estado em nosso mapa musical.
Já com relação a Tetê (Teresa Espindola, Campo Grande, 11/3/1954) também se deve prestar muita atenção: de uma família de artistas - seu irmão mais velho, Humberto, estudou em Curitiba e hoje é um nome consagrado nas artes plásticas, como criador do chamado estilo << bovino cultura >>, Tetê aos 14 anos já participava de festivais cantando músicas do irmão Geraldo e de Paulo Simões. Em Curitiba estudou craviola e há 3 anos, em São Paulo, com os irmãos Marcelo, Alzira e Geraldo, formou o Tetê e o Lírio Selvagem, grupo que estreou num disco de belas raízes, lançado pela polygram. Apesar da força da terra, canções refletindo uma região tão rica quanto ainda desconhecida em termos artísticos, o lp do Lírio Selvagem passou relativamente despercebido. Por isso, é importante que se destaque agora o << Piraretã >> de Tetê, que mostra o início de sua carreira como solista, com sua voz surpreendente, difícil e diferente, que fala e protege os campos e natureza. << Meu canto é para as pessoas que vivem no concreto e vêm a solidão tomando conta dos apartamento e das pessoas. Que elas escutem este meu disco atenção para o som diferente, relaxante e natural contratando com a carga emocional que elas carregam >>. E, realmente, ao longo das 12 faixas deste lp produzido por Marcos Maynard, encontramos uma intérprete de músicas que, de certa forma, buscam oferecer uma opção a linguagem tão desgastada que consome a nossa MPB. Assim como Elomar Figueira de Mello, com seu canto de caatinga, do Interior da Bahia, propõe novas formas. Tetê interpreta as canções do Centro-Oeste os autores - seu irmão Geraldo Espindola, mais Marcelo Ricardo, Carlos Renó, Tetê e Alzire Espindola se baseiam inclusive em temática regional, como no contundente << Piraretã >>, no estranho << Cunhàtaí Porã >> ou no << Matogrossense >>, este uma canção rural, de Carlito, Lourival dos Santos e Tião Carrero. Mas o ecletismo de Tetê - e que a faz merecer maior atenção - não fica apenas no rural: identificada com um grupo jovem, da qual faz parte inclusive Artigo Barnabé, de Londrina (radicado em São Paulo, revelação no Festival da Tupi com << Sabor de Veneno >>, interpretado por Neusa Pinheiro), gravou de Arrigo e Paulo Barnabé, seu << Tamarana >>: de Gilberto Gil, incluiu << Refazenda >>, de Chico-Milton, << O Cio da Terra >> e até há uma versão de Carlos Rennó: << Meloro >> (Black Bird), de Lennon/McCartney. O mínimo que se pode dizer a respeito de Tetê é que se preste atenção em seu nome e sua musicalidade. Tem muito para mostrar nos próximos meses.
FOTO LEGENDA- Tetê Pirareta
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