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Aramis

O <<conto do Papa>> já preocupa o padre Juca

O simpático e jovem padre Juca (José Orloski), hoje um dos religiosos mais ocupados do País, já que afora seus 3 programas radiofônicos diários, a editoria do jornal << Lud >> e o atendimento a uma grande paróquia, ainda foi convocado pelo CNBB para coordenar a área de comunicação social, representado a Igreja, para os preparativos da visita do Papa João Paulo II, surpreendeu-se na manhã de terça-feira última. É que foi informado de que em algumas paróquias, mais distantes, estão aparecendo espertalhões vendendo poltronas para os fiéis que desejarem assistir a missa que o Sumo Pontifice rezará na manhã de domingo, dia 6 de julho, no altar a ser montado defronte o Palácio Iguaçu. Assim, o padre Juca está coordenando com Cleto de Assis, secretário de Comunicação Social, ampla campanha para evitar que os fiéis ingênuos caiam não no conto do vigário, mas naquele que se poderia chamar de << conto do Papa >>. Não haverá lugares reservados no Centro Cívico e nem poltronas para ninguém - sendo separado, no máximo, um espaço para as autoridades assistirem a cerimônia litúrgica em pé. Também a Igreja não autorizou, nem autorizará, qualquer << merchandising >>em torno da visita do Papa: lembranças, cartões, crucifixos, fotos, discos, livros etc., que, obviamente, serão lançados, são de única e exclusiva responsabilidade de seus fabricantes, não havendo nada em relação a Igreja Isto porque há os que dizem que estes << gadgets >> seriam << benzidos >> pelo Papa ou que a renda dos mesmos reverteria em favor de obras sociais coordenadas pela Arquidiocese. xxx Uma das perguntas que mais tem sido feitas é de quanto custará a visita do Papa a Curitiba. O secretário Véspero Mendes, do Planejamento, após muitos cálculos, encontrou uma formula habilidosa para explicar: considerando que se acredita que um milhão de pessoas poderão ver o Papa - ao longo das avenidas e ruas que percorrerá, na concentração com a comunidade polonesa (que poderá ser no Estádio do Coritiba) e na missa no Centro Cívico, o custo será de Cr$ 15,00 << per capita >>. Ou seja, ao menos Cr$ 15 milhões serão investidos pelo governo do Estado na cobertura das despesas desta visita especialíssima. Só o altar gigantesco, projeto do engenheiro Euro Brandão, presidente do Badep, deve ficar ao redor de Cr$ 2 milhões, a sonorização - para o que há 3 empresas disputando o contrato - não ficará por menos de Cr$ 4 milhões e múltiplas outras despesas obrigam o secretário Edson Guimarães, das Finanças, a criar uma dotação especial. Isto sem contar que com a concentração de mais de 200 mil pessoas defronte o Palácio Iguaçu, a Praça N.S. de Salete será praticamente arrastada em sua já magra vegetação. O que, alias, apenas fará com que se apresse o projeto, já antigo, de dar um novo tratamento urbanistico ao amplo espaço, que pelas suas próprias características deve ser uma estrutura resistente a concentração populares - pois é o único grande espaço, no centro da cidade capaz de permitir uma concentração de mais de 200 mil pessoas. xxx A preocupação do padre Juca pela inevitável exploração que os espertalhões já começam a fazer em torno da visita do Sumo Pontífice tem ampla justificativas. Lembra o sacerdote que recentemente, em São João do Triunfo, apareceram vigaristas que convenceram endinheirados e ingênuos fazendeiros a entregar somas vultosas para receber << benzimento >> - que duplicaria o dinheiro. Levantaram mais de Cr$ 3 milhões - Cr$ 250 mil apenas de um cidadão que, tão envergonhado ficou por ter << caído >> em um golpe deste tipo, nem teve coragem de registrar queixa a respeito. xxx Uma preocupação especial cerca a parte da comunicação social em relação a visita: oficialmente seriam 1.300 os jornalistas estrangeiros que acompanham o Papa em sua visita ao Brasil. Embora Curitiba seja a penúltima etapa de sua visita, sendo possível que até então o número de profissionais já tenha se reduzido, de qualquer forma os preparativos são para dar condições de trabalho a todos estes profissionais - e mais os brasileiros. Para tanto o Palácio Iguaçu, durante os dias 5 e 6 de julho - as datas mais prováveis da visita, estará ocupado em dois andares quase que exclusivamente para a imprensa: 50 maquinas telex. 50 perfuradoras, 100 telefones DDI. 100 máquinas de escrever, além da ampliação do hoje pequeno laboratório fotográfico para um espaço 5 vezes maior, foram algumas das providências tomadas. Em forma de "pool", algumas solenidades serão cobertas por um número menor de profissionais. Por exemplo, do desembarque do Papa Paulo II no aeroporto Afonso Pena até o centro, antes de seu carro virá um caminhão, especialmente adaptado para que cinegrafistas, fotógrafos e operadores de vídeo para tv, façam a completa cobertura do percurso. Todo o material será distribuído, no menor prazo de tempo, a todos os profissionais credenciados para a cobertura.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
01/06/1980

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