Wilson Martins, o que se tornou um "brasilianista"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de fevereiro de 1991
Wilson Martins, o mais internacional e respeitado dos scholars saídos do Paraná - embora paulista da capital, às vésperas de completar seus 70 anos (no próximo dia 21 de março), sempre identificou-se com Curitiba - é agora, oficialmente, considerado um brasilianista. Ao menos no conceito de outro brilhante professor, José Carlos Sebe Bom Meihy, paulista de Guarantinguetá, 48 anos (a serem completados também em março, dia 15), o professor Wilson Martins está entre os 60 brasilianistas que, vivendo no Exterior há muitos anos, se mantém fiel aos estudos e questões culturais brasileiras.
Num dos mais originais e elogiados livros documentais publicados no ano passado - "A Colônia Brasilianista - História Oral de Vida Acadêmica" (Editora Nova Stella, 491 páginas, Cr$ 4 mil), José Carlos Meihy incluiu o autor de "Um Brasil Diferente" entre os 13 brasilianistas classificados como pioneiros. Partindo do conceito de que brasilianista é aquele que, exercendo em caráter constante a profissão nos Estados Unidos, participa dos recursos financeiros de instituições norte-americanas, forma estudantes e promove pesquisas sobre o Brasil, Meihy foi à Nova Iorque e gravou uma longa entrevista-depoimento com Martins, desde 1965 titular de Literatura Brasileira da Universidade de Nova Iorque.
No primeiro volume de "A Colônia Brasilianista" (a segunda parte deverá sair em 1991), o único brasileiro considerado na pesquisa foi Wilson Martins, embora Bom Meihy tivesse entrevistado mais dois professores brasileiros, que vivendo nos Estados Unidos, também merecem a mesma classificação: Naomi Muniz e Ricardo Paiva.
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Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, onde é professor, mestre-visitante da Universidade de Stanford (1984), Meihy, com uma bolsa da Capes/Fulbright (1988/89), procurou todos os professores que, em diferentes fases, voltaram-se a estudar o Brasil - em áreas específicas. Assim, seus biografados estão distribuídos em três gerações, cada uma correspondendo a determinada política norte-americana em relação a América Latina.
A geração dos chamados "Pioneiros" - no qual foi incluído Wilson Martins - corresponde a "Política da Boa Vizinhança". Foi o primeiro grupo norte-americano que fez pesquisa conseqüente no campo, iniciando, assim, o que seria hoje o brasilianismo como "área de estudos".
Os chamados "Filhos de Castro", a geração mais saliente e volumosa (11 entrevistados) despontou nos anos 60, depois da combinação de dois fenômenos que assombraram a estabilidade norte-americana sobre o continente: o lançamento do primeiro satélite artificial russo, o "Sputinik" (1957) e a Revolução Cubana (1959).
Passada a fase de profissionalização do brasilianismo, depois de estabelecida a América Latina como "área de estudo", despontou uma nova geração, os "Especialistas" (8 entrevistados neste primeiro volume). Esse novo contingente era formado pelos professores de gerações precedentes com oportunidade de aprender português no Brasil e vindo fazer pesquisas no país.
Pela importância da obra dos brasilianistas - cujos estudos em vários casos abordaram aspectos obscuros (e mesmo proibidos, especialmente durante o regime militar), o olhar que o professor José Carlos Sebe Bom Meihy faz agora em sua pesquisa - traduzida num primeiro livro de agradável leitura, transcrevendo os depoimentos colhidos, se constitui num dos trabalhos documentais mais interessantes entre os publicados no ano passado. O que faz com que se aguarde, com expectativa, o segundo volume - atualmente já em fase de editoração pela mesma casa publicadora, a Nova Stella.
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