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Aramis

Yves Salgues e sua pavana para o jovem rebelde dos anos cinqüenta

"A juventude é uma coisa encantadora. Ela parte, no começo da vida, cercada de flores". (François-Renê Chateaubriand, 1786 - 1848, escritor francês). Quando decidiu escrever uma biografia de James Dean, menos de um ano após a sua morte, Yves Salgues, como jornalista e intelectual francês, não quis ficar num relato tradicional. Embora fazendo dezenas de entrevistas com todos os que participaram de sua curta e intensa vida, seu texto foi mais emoção do que a simples informação. Em muitos aspectos não se preocupou em dar os detalhes e informações que, quase 20 anos, depois, outros biógrafos como David Dalton ("The Mutant King") e, especialmente John Howlett ("James Dean") ofereceram em seus livros, nunca editados no Brasil. Na introdução, Salgues já definia o livro como "pavana para um artista morto" e, em cada um dos sete capítulos, buscou frases de entrevistas do biografado, citações e apígrafes de autores e poetas que James Dean apreciava. [Fazia], antes de tudo, uma reflexão sobre a vida e a morte, a busca intensa de viver intensamente, abrindo com uma frase de Montherland extraído de "Chant fúnebre pour les mortes de Verdun": - O que me aspante não é a morte, é a vida. Não é a morte que é santa, é a vida. Damos importância demais à morte. Passados 33 anos, em 30 de novembro de 1990, ao concluir a introdução para a reedição do livro na França (a mesma que a [LP&M] lança agora no Brasil, 221 páginas, tradução de Antônio Carlos Viana, com o subtítulo de "ou a dor de viver"), Salgues num ensaio de 37 páginas "Paradoxo sobre o Destino") aprofunda suas reflexões, com base em detalhes das entrevistas feitas entre 1956/57, na elaboração do livro. Propõe algumas colocações importantes, lembrando, por exemplo: - O caso James Dean é único neste século: uma vida relâmpago interrompida por uma morte relâmpago que lhe deu não só a celebridade mas também a posteridade, isso ao sair da adolescência e antes de se tornar um adulto de verdade. Sem distinção de nacionalidade, vencendo todas as fronteiras e oceanos, o filho do século XX é ele, James Dean. É ele o último fragmento luminoso que sobrou de um romantismo flamejante que a juventude anseia em segredo quando o chora. É ele o último herói do mal de viver - de viver assepticamente: antes da droga e da AIDS. O que a vida não conseguiu dar a James Dean - uma bela posição enquanto vivo - a morte lhe deu. "Terei tudo porque quero tudo", dizia Bonaparte. Não podemos ter tudo aos 24 anos. Mas claro que podemos! Basta que a morte nos cegue com seu flash, com a auréola transcendental que a vida não nos deu". Outra observação feliz de Salgues: o que há de mais extraordinário nessa vida transformada em destino é que a morte não matou James Dean: ela o revelou ao mundo, e com todo o seu legado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
28/06/1992

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