O álbum da ilha e a memória dos Koch
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de julho de 1988
Começa a viabilizar-se, financeiramente, o maior projeto editorial da Secretaria de Cultura para este ano: a edição do álbum Ilha do Mel, com 65 belíssimas fotos em cores de Helmuth Wagner. O Bradesco, em mais uma demonstração de mecenato, concordou em doar seis milhões e meio de cruzados - aproximadamente 80% do custo deste luxuoso livro-de-arte, que há muito vem sendo planejado.
Maria Cristina Moncelli, a bela e competente coordenadora do Centro de Desenho Gráfico da Secretaria da Cultura, designer, cujos trabalhos vêm enriquecendo a comunicação oficial (cartazes, catálogos, publicações avulsas e livros) já desenvolve o primeiro projeto deste livro, com uma tiragem de 3 mil exemplares e que como se destina a ter uma cuidadosa distribuição internacional, terá textos, poemas e legendas traduzidos para o inglês por Maria Aparecida Baptista.
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Um dos mais respeitados fotógrafos do Paraná, Helmuth Wagner, 65 anos, 38 de profissão, sempre foi um ecologista nato - antes da preservação da natureza ter se transformado em plataforma para políticos e grupelhos de interesse. Assim é que das milhares de fotos que compõem o seu arquivo, estão imagens de um Paraná natural que não há mais.
Quando Cassiana Lícia Lacerda Carolo fez o admirável - e até hoje mais sólido - trabalho editorial na então recém implantada Secretaria da Cultura, na administração de Luís Roberto Soares, desenvolveu a edição do álbum da Serra do Mar. Trabalho notável, com fotos esplêndidas e um texto inteligente, do jornalista Adherbal Foretes de Sá Júnior. Foi, sem desmerecer outros trabalhos editoriais publicados entre 1979/83, o que alcançou maior significado.
Posteriormente, já no infleliz governo José Richa - culturalmente o maior desastre que o Paraná sofreu em sua história - se pensou em copiar a idéia e fazer outro álbum com fotos de Sete Quedas, também documentadas por Wagner. O projeto demorou a deslanchar e só quando João Elysio Ferraz de Campos assumiu o governo, no madato-tampão, é que a então bem intencionada secretária Suzana Munhoz da Rocha Guimarães, procurou levar adiante a idéia que o seu infeliz antecessor havia, praticamente, bloqueado. Só que o tempo era curto e também foi falta de melhor assessoramento, o resultado foi desastroso: o álbum Sete Quedas saiu com péssima apresentação gráfica, tratamento cromático que retirou a beleza das fotos e até encadernação defeituosa - o que desagradou a Unicom - União das Construtoras (Itaipu), que haviam investido a apreciável soma de Cz$ 800 mil em seu custo.
Também a edição do volume "Tradição e Contradição", patrocinada pelo boticário, foi um desastre gráfico - a tal ponto que houve necessidade de fazer uma segunda edição, mas que não corrigiu os defeitos maiores.
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Agora, pra evitar que fatos tão lamentáveis se repitam - (e que se "queime" a disposição de grupos empresariais, dispostos a financiarem projetos editoriais, estimulados pela Lei Sarney) Teresa Cristina Montecelli preocupa-se em que o álbum Ilha do Mel tenha um acabamento primoroso. O livro terá apresentação de Renê Ariel Dotti, Secretário da Cultura, texto técnico do professor ecologista João José Bigarella e poemas de Alice Ruiz, Wilson Bueno, Reinoldo Atem e Alberto Cardoso. Neste aspecto, um reparo: o esquecimento do jornalista Nelson Padrela, que há anos não só freqüenta semanalmente a Ilha do Mel como em suas colunas (hoje na "Carta a Berta", Correio de Notícias) é um defensor daquele espaço que deveria ser um santuário ecológico, mas que devido a infelizes decretos aprovados no governo José Richa e mais a falta de respeito dos freqüentadores, vem sendo destruído. Bom texto, observador, Padrella poderia contribuir para enriquecer o álbum da Serra do Mar - e a sua omissão é lamentável.
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Um exemplo do cuidado com que Teresa Cristina vem caracterizando os trabalhos sob sua responsabilidade é o recém lançado livro "Emma e Ricardo Kock-Arte-Educadores e Artistas Plásticos" (Secretaria da Cultura, 66 páginas, circulação dirigida).
Desenvolvido graficamente em colaboração com Ivens de Jesus Fontoura, outro designer de bom curriculum, artista pláticos e coordenador dos Museus do Estado, o volume reproduz as obras mais significativas do casal Emma (1904-1975) e Ricardo Koch (1900-1976), que dedicaram praticamente toda sua vida ao ensino do desenho e das artes plásticas no Paraná, em estabelecimentos como o grupo Escolar Bacacheri, Colégio Estadual do Paraná, como, emotivamente, recorda Ivens Fontoura, por 11 anos discípulo do casal, no texto de introdução.
Adalice Araújo, professora, crítica de artes plásticas e até há três semanas diretora do Museu de Arte Cotemporânea, fez a parte biográfica do casal Koch, nascidos na Polônia, que vieram para o Brasil em 1928. Durante os dez primeiros anos, Emma e Ricardo fixaram-se na cidade do Rio Grande e, por algum tempo, em Porto Alegre, onde começaram a desenvolver um trabalho no magistério, com resultados tão expressivos que o consulado da Polônia os traria para Curitiba, para aqui dirigir um internato. Foi Erasmo Pilotto, o admirável educador paranaense - e cuja importância já nos referimos, há algums semanas, que, como secretário da Educação no primeiro governo Moisés Lupion, soube entender a importância do casal Koch para a arte-educação no Paraná, que até então, havia tido apenas o pioneiro trabalho de Guido Viaro, fundador, em 1937, por sua iniciativa particular, da escolhinha de arte do Colégio Belmiro César (mais tarde criaria o Centro Juvenil de Artes, na Biblioteca).
Ao dedicar um livro ao casal Koch, mostrando em belas imagens coloridas o talento plástico do casal e no didático texto de Adalice (que fez inúmeras entrevistas e pesquisas a respeito), a Secretaria da Cultura produziu um livro importantíssimo, justificando o investimento.
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Outras obras de arte, ligados ao nosso Estado, estão nos planos da Secretaria, desde que haja, patrocinadores. O mais caro deles é a reedição, ampliada e revista, dos "Pintores da Paisagem Brasileira". Só que o custo assusta: mais de Cz$ 12 milhões. Entretanto, talvez algum milagre via lei Sarney aconteça...
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