Aplausos de Velloso para Anna
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de junho de 1988
Fernando Velloso, 55 anos, um dos nomes mais conhecidos das artes plásticas no Paraná, por três décadas atuando nos organismos culturais, aliando a condição de pintor (inclusive com cursos em Paris, onde residiu por 2 anos) a de crítico de artes plásticas - membro da AICA, associação nacional - sempre foi comedido em seus elogios. Ao contrário, irônico e satírico, sua língua ferina, muitas vezes, disse verdades que não agradam aqueles que buscam os elogios fáceis, a badalação das generosas colunas da mídia impressa que, ao menos no Paraná, se abrem sem maiores critérios para "artistas" que, numa cidade mais rigorosa, jamais chegariam sequer a uma coletiva.
Portanto, o fato de Fernando não só ter programado em sua Galeria Contemporânea uma individual de Anna Maria Prince Comodo, que se dedica à original arte da colagem, como ter feito o texto de apresentação para o catálogo, confirma que esta artista curitibana chega a sua primeira individual com uma maturidade marcante.
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Didaticamente, Fernando começa o texto lembrando que embora o processo de colagem tenha sido utilizado em diferentes épocas e nas mais diversas regiões do mundo (mesmo em tempos bastante remotos), foi sem dúvida o artista alemão Max Ernst que, a partir de 1918, se apropriou dessa técnica. Usou-a como linguagem autônoma de expressão artística bastante diversa das aplicações de "papiers collés" dos cubistas que reconhecemos fartamente nas obras de Braque, Picasso, Gris, entre outros, a partir da segunda década deste século e mesmo nos "apliques" de Matisse e nas "assemblages" de Shwitters, Grosz e Picabia, feitos posteriormente. Entre nós - diz Fernando - entretanto a linguagem da "collage", como tantas outras expressões importantes do Século XX, interessou apenas a um pequeno número de artistas, sendo que no Paraná, em especial, até o momento, não se registraram mais que episódicas presenças desta técnica. "Assim é com o mais vivo interesse que acompanhamos o trabalho de Anna Prince Comodo desde seus primeiros experimentos de colagem, chegando ela agora finalmente a produzir e reunir um representativo número de obras nesta técnica, o que habilita a realizar a sua primeira individual".
Os trabalhos que compõem a exposição, todos de produção recente, mostram a preocupação da artista em transmitir seu sentimento de inconformismo com os valores tradicionais da arte, e com um constante atrelamento do criador aos procedimentos e a disciplina artesanal convencional, dos quais a maior parte dos movimentos modernos não logrou livrar-se. Ela se expressa com muita harmonia, dando aos espaços que maneja o equilíbrio de valores que sinto nascidos de forma espontânea e insiste, como alías tudo que flui de Anna que, desde os tempos que vivenciamos a experiência de participar da primeira turma da recém-nascida Escola de Belas Artes do Paraná, sempre foi - pelo menos aos meus olhos - um exemplo perfeito de autenticidade".
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Suzana Lobo, artista plástica e orientadora do atelier livre do Museu Guido Viaro (hoje desativado devido à insensibilidade da atual diretoria da Fucucu), foi uma espécie de orientadora de Anna Maria, coordenando sua criatividade que resultou em trabalhos que nos últimos quatro anos vêm sendo expostos em várias coletivas e ganham agora (Galeria Contemporânea, dia 15, vernissage às 20h30) sua individual.
Portanto, a palavra de Suzana também não poderia faltar no catálogo e em seu texto, diz que "as situações sugeridas nas colagens de Anna são decodificadas pelo espectador que, a partir de elementos esparsos, num processo lúdico, vai organizando o todo e desvendando o sentido não aparente. Solventes, pastel e crayon são os materiais que Anna Maria utiliza para criar passagens cromáticas e unir a composição".
LEGENDA FOTO: Anna Maria: a arte da colagem
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