Aurea cresceu e pode deixar de ser a Anna
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de setembro de 1987
Há seis meses, o cineasta Noilton Nunes convidou a família Leminski para interpretar a família Assis em "Fronteiras - A Saga de Euclides Cardoso". Assim, a bela e mignon Aurea seria a jovem Anna Emília Ribeiro (1890-1909), aos 13 anos, enquanto Paulo Leminski seria o seu pai, um militar positivista e a poeta e publicitária Alice Ruiz, também no cinema - já que o filme de Noilton busca ser o mais autentico possível.
Só que Alice Ruiz está preocupada em que a sua filha Aurea não possa mais fazer a frágil e jovem Anna de Assis, pois o tempo está passando e a moça crescendo.
- "Ela cresceu muito e logo não terá mais físico para fazer Anna, quando conheceu Euclides da Cunha, nas comemorações da Proclamação da República", diz Alice.
Realmente, neste caso, a experiência cinematográfica da família Leminski estará sendo adiada.
O filme de Noilton Nunes, iniciado há dois anos, vem enfrentando inúmeras dificuldades de produção, conforme aqui registramos. Trata-se de uma superprodução sobre a vida de Euclides da Cunha, com seqüências rodadas em várias partes do Brasil. Estão faltando as filmagens no Acre.
Enquanto o filme não se conclui, a vida do autor de "Os Sertões" continua a merecer estudos. Há um mês, saiu pela Record, "Anna de Assis - A História de um Trágico Amor", de Judith Ribeiro de Assis, em depoimento ao escritor Jefferson de Andrade. A obra tem provocado polêmicas, com naturais protestos de descendentes do militar, engenheiro e escritor, que sofreu a tragédia familiar: o amante de Anna assassinou Euclides. Anos depois, seu filho, o Quidinho, tentou vingar o assassinato do pai e também foi morto a tiros por Dilermando. Outro filho de Euclides, Solon, foi assassinado no Acre, em data e por motivos ignorados. Os filhos de Manoel Afonso, o caçula de Euclides - Eliete, Norma, Maria Auxiliadora e Euclides - também pagaram seu pesado tributo à tragédia. "Suas vidas são poupadas mas eles não são poupados das mais cruéis privações", como escreveu recentemente Franklin de Oliveira ("O Estado de São Paulo", 23/08/1987), no qual engrandeceu, entretanto, a figura de Anna de Assis: "Não foi apenas uma mulher que desafiou o seu tempo e a sociedade patriarcal e machista que a condenou. Inclusive, como ser humano, ela foi superior aos dois homens que cruzaram sua vida: Euclides e Dilermando. Suportou a carga neurótica do primeiro. Suportou os colapsos éticos do segundo, como no início da doença - o câncer que o vitimou".
O livro também justifica a traição conjugal de Anna de Assis: Euclides praticamente a abandonou em dezembro de 1904, quando viajou para a Amazônia, ali ficando por dois anos.
LEGENDA FOTO - Alice Ruiz, agora no cinema.
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