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Aramis

"Fronteiras", o painel da época

Em novembro do ano passado, numa das salas do Hotel Nacional, durante o III Festival Internacional de Cinema, Vídeo e Televisão, o cineasta Noilton Nunes mostrou a um grupo de jornalistas o copião das primeiras seqüências de "Fronteiras". E, mesmo sendo imagens ainda primárias, já impressionaram aos que assitiram ao início deste projeto que mais do que uma realização cinematográfica é um carinhoso mergulho não só na vida de um homem notável, Euclides Rodrigues Pimental da Cunha (Cantagalo, 1866 - Piedade, Rio de Janeiro - 1908), mas enfocando toda uma época de nossa história. Apesar do fio condutor, biográfico, "Fronteiras" não será apenas um filme sobre Euclides da Cunha e a campanha de Canudos - episódio, aliás, até hoje insuficientemente abordado no cinema (destaca-se apenas o documentário de Ipojuca Pontes, realizado há 11 anos, pouquíssimo visto). No roteiro em que vem trabalhando há dez anos - com ajuda de seu amigo Fernando Cony Campos (para quem fez a produção executiva, em 1976, de "Ladrões de Cinema"), Noilton tem mergulhado cada vez mais no universo de Euclides da Cunha, cuja obra, "longe de ser esquecida, continua hoje mais atual do que nunca". Tanto é que já participou de quatro Semanas Euclideanas, que, desde 1946, entre 9 a 15 de agosto são realizadas em São José do Rio Pardo - cidade na qual, entre 1898 e 1901, em um escritório de zinco e sarrafos, às margens do Rio Pardo, Euclides escreveu a maior parte de "Os Sertões" (primeira edição em 1902, pela Francisco Alves - até hoje detentora de seus direitos autorais). Noilton vai, entretanto, mostrar em seu filme a dimensão de Euclides na questão da demarcação das fronteiras do Brasil com o Peru - onde numa de suas viagens ao Acre, permanceu todo o ano de 1905. O Euclides da Cunha rebelde na Escola Militar - onde, jovem, em dezembro de 1888, jogou o sabre aos pés do ministro da Guerra, num protesto contra o imperador (republicano, foi considerado "louco" na época), o engenheiro militar, o jornalista que acompanhou a Campanha de Canudos, o homem preocupado com a Amazônia - onde conheceu outra figura marcante da história do Brasil, Plácido de Castro (no filme, será interpretado por Tarcísio Meira Filho) e mesmo seus últimos anos de vida, nos quais exerceu diferentes atividades (professor no Colégio Dom Pedro II, membro da Comissão de Saneamento de Santos, etc), oferecem múltiplos aspectos para uma interpretação num filme que, sobre todos os aspectos, se afigura como fascinante. Orçado em Cz$ 22 milhões (dos quais Cz$ 4 milhões já gastos) - com 45% de financiamento da Embrafilme e uma decisiva participação da iniciativa privada (Transbrasil, Skulate, Transportadora Gato Preto), haverá também a co-produção com a Ritual Filmes, de Munique, que oferecerá a fase de laboratório e finalização. O Ministério do Exército, após longo e demorados estudos do roteiro e profundas reuniões de oficiais generais com Noilton, deu o sinal verde e vai colaborar nas filmagens - especialmente as que reproduzirão a campanha de Canudos. O cronograma de filmagens prevê a partir de julho as filmagens de seqüências de interiores - no reativado armazém-estúdio da Companhia Docas do Rio de Janeiro, seqüências da Escola Militar da Praia Vermelha (reproduzindo o incidente de Euclides com o ministro da Guerra do Império, há 99 anos), e na Fortaleza Santa Cruz. Uma seqüência especial será a que reconstituirá a Proclamação da República, possivelmente com o ator Emanoel Cavalcanti como o Marechal Deodoro ("Será a primeira vez que este fato histórico será mostrado no cinema brasileiro"). Em agosto, na Bahia, serão feitas na região de Monte Santo as seqüências da campanha de Canudos e, em setembro/outubro, as filmagens no Acre, com a produção montada em Belém. De outubro a dezembro, Noilton pensa em fazer a finalização - havendo convite até para o filme participar do festival de Havana, o que não acredita. - "Na melhor das hipóteses, gostaria que pudesse ficar pronto a tempo do festival de Berlim. O que coincidiria com o lançamento da edição em alemão de "Os Sertões", numa nova tradução.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
14/06/1987

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