Ayala denuncia um escândalo no SNBA
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de dezembro de 1984
Walmir Ayala é um dos veteranos na crítica das artes plásticas no Brasil. Arguto, bem preparado intelectualmente, Walmir é também dramaturgo e poeta, com uma obra respeitada. Como crítico de artes plásticas, passou por várias publicações nacionais e hoje assina coluna no "Jornal do Comércio", um dos mais antigos diários da imprensa brasileira. E foi ali, na edição de 28 de outubro último, que Walmir publicou corajosa denúncia em relação a fatos ocorridos em Curitiba.
O comentário de Walmir Ayala é tão claro e objetivo que dispensa maiores acréscimos. E que para os que acompanham o descalabro que se implantou na vida cultural paranaense, é apenas uma confirmação - denunciada agora em escala nacional - de que realmente estamos vivendo tristes tempos.
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Sob o título "Um caso lamentável", diz Walmir Ayala: "Lamentável o que aconteceu com o pintor Valeriano, com relação ao 40o Salão Paranaense de Artes Plásticas, realizado em São Paulo, onde participara, a convite do Museu de Arte Moderna, do Panorama da Pintura Brasileira, Valeriano dirigia-se para o Chile e parou em Curitiba. As inscrições para 40o Salão tinham se encerrado no dia anterior, mas a Comissão Organizadora, composta por Ênio Marques Ferreira e Ronaldo Simon, resolveu aceirar a inscrição das obras de Valeriano, tendo em vista principalmente o alto nível do trabalho, na ocasião, Valeriano prometeu, uma vez encerrado o salão, doar um dos trabalhos à pinacoteca do Museu de Arte Contemporânea do Paraná, ao inscrever as obras com meio dia de atraso. A comissão condicionou a participação à decisão do júri que se reuniria no dia seguinte. Alguns dias depois, Valeriano recebeu um telefonema de Mário Barata, integrante do júri, juntamente com Eduardo Zimmermann e Adalice Araújo, comunicando que não só tinham aceito as obras como lhe conferido um dos melhores prêmios do salão. Tal decisão está consignada em ata, cuja cópia está em poder de Valeriano. Ciente disso Valeriano viajou para o Chile.
Ao voltar, algum tempo depois, foi saber do seu prêmio e recebeu a triste informação de que as obras tinham sido retiradas da mostra, depois de um protesto da Associação dos Artistas Plásticos do Paraná, considerando irregular sua participação, tendo em vista a não obediência ao prazo exato da inscrição. Este protesto fez o júri voltar atrás, registrar um adendo explicativo à ata, prejudicando assim o artista e retroagindo quanto as decisões das duas comissões (a organizadora e a de julgamento), numa demonstração de insegurança e falta de autoridade lamentáveis. O mais grave de tudo é que, mesmo retirando as obras de competição, a diretora do MAC, Elisabeth Titom, mais do que depressa fez "tombar" o melhor quadro do conjunto, apresentado por Valeriano, integrando-o ao acervo do MAC., baseado na palavra dada pelo artista.
Ora, se as obras não puderam participar do salão, como fazer valer a promessa verbal, de doação implícita no processo de participação?
E como oficializar uma doação sem documento doador, inteiramente a revelia do autor da obra?
Essas indagações ficaram no ar, sem resposta de todos os implicados, principalmente o secretário da Cultura do Paraná, Fernando Ghignone.
Foi, sem dúvida, um ato arbitrário, que merece reparação. O mínimo a devolução da obra do artista, cujo "tombamento" pode ser caracterizado judicialmente como "apropriação indébita".
O artista pretende levar o caso à Justiça e merece todo o apoio da classe artística e dos críticos, no sentido de evitar, futuramente atos tão nebulosos e de triste autoritarismo".
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