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Aramis

O elogio que Walmir deixou para Potocky

Poucos meses antes de morrer, o crítico de arte e escritor gaúcho Walmir Ayala, radicado há mais de 30 anos no Rio de Janeiro, havia publicado em sua coluna de artes plásticas, no "Jornal do Comércio", do Rio de Janeiro, uma das mais completas análises da obra do pintor Peter Potocky. Relegado a relativo esquecimento, embora tenha sido no Paraná que surgiu para a pintura, inesperadamente, já aos 62 anos de idade, Potocky tem, nos textos de Ayala, publicados nas edições de 5 e 6 de março deste ano, um dos mais completos retratos críticos até agora feitos em torno de sua obra. Segundo Ayala, o pintor teuto-curitibano é "um desses nomes que atravessam tendências e décadas, mantendo-se íntegros e respeitados, pela fidelidade a uma linguagem e a uma visão temporal", Ayala insurge-se contra o rótulo de pintor ingênuo geralmente atribuindo a Potocky "Chegamos - diz ele - ao mesmo momento de corrigir esta fácil classificação, já que, com o passar do tempo, a obra deste pintor paranaense foi se tornando complexa, guiada por uma liberal racionalização, sobrepondo a estrutura vitalística da composição, uma ordem vigorosa de formas oriundas da natureza, entrosadas com os pontos de um tecido perfeito. Ao contrário dos paisagistas que revelam, no primeiro instante, todo o clima de beleza disponível, explorando nuanças digestivas e bucólicas, Potocky dificulta esta transposição para o outro lado da paisagem, propondo uma leitura labiríntica num "pano de boca" paradisíaco e vibrante. Os bons tons contrastantes e mesmo as texturas de variado empastamento constróem uma tabela visual, por vezes fantástica, já que as propostas do pintor se espelham no real, a partir de composições de complexo artificialismo. Não tomemos aqui a expressão artificialismo no sentido de falsidade, mas de invenção sobre o natural. Pelo enquadramento com que a imagem pintada sangra o espaço da tela, conhecemos, além do mais, um artista que se debruçou sobre seu tema como cientista na análise da célula. E nisto a constatação de que não se trata de um cenógrafo de ambientes ideais ou desafiadores, mas de um construtor de tramas cromáticas que tomam como pretexto a energia da natureza, alcançando assim um nível de linguagem altamente pessoal. O texto de Walmir, falecido aos 58 anos, no dia 28 de agosto, sensibilizou a viúva de Peter, dona Paula Welbert Potocky, estimulando-a a persistir no esforço que vem desenvolvendo para manter viva a memória do artista, uma personalidade cativante e que deixou tantos amigos em Curitiba. Dona Paula, inclusive, está organizando material para batalhar pela edição de álbum com reproduções das principais obras do artista, falecido em 8 de dezembro de 1987. LEGENDA FOTO - Peter Potocky: exaltação póstuma de Walmir Ayala.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
11/10/1991

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