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Novaes, o espermatozóide que deu certo, no Guaíra

Os leitores de O Estado do Paraná há muito já conhecem o humor inteligente e contemporâneo de Carlos Eduardo Novaes. Suas deliciosas crônicas se transformaram em muitos livros, editados pela Nórdica - que o tem na cabeça de elenco de superstars e que ainda agora lança seu novo livro, justamente o "Confidências De Um Espermatozóide Careca", que dá título ao espetáculo em que ele, como one-show-man faz o público rir a bandeiras despregadas (auditório Salvador de Ferrante, até domingo, 21 horas). As informações sobre o espetáculo são positivas. Recebeu críticas entusiasmadas em vários jornais. Por exemplo, o ferino Walmir Ayala - que além de crítico de artes plásticas escreve também sobre teatro na "Última Hora", lhe dedicou um longo texto, no qual após fazer restrições ao título do espetáculo - de mau gosto, à primeira vista - derramou-se em elogios: "Quem vai ver o espetáculo esperando uma versão grotesca de pornografia barata está redondamente enganado. Raramente tenho visto a malícia bem-humorada, o tema e a linguagem licenciosa vertidas em tão elegante versão. Este espetáculo deveria ser de censura livre, para que os mais jovens, envenenados do erotismo mal compreendido, aprendessem uma cartilha honesta da liberalidade moral. Espetáculo, aliás, que os adolescentes deviam ver acompanhados de seus pais, para rirem juntos de seus fantasmas. Quem lê semanalmente a crônica de Carlos Eduardo Novaes, não esperava outra coisa do texto que este nível conciso e engraçado, de estilo próprio pela propriedade do vocabulário, onde o termo chulo se engrinalda num fraseado inteligente. Mas o que era de se esperar é que Novaes fosse, além do mais, um considerável ator. Partindo do perfil de que todos fomos, um dia, um espermatozóide esperando o momento de ganhar a medalha de ouro nas olimpíadas, Carlos Eduardo Novaes discorre sobre vários assuntos, da timidez ao onanismo, sempre em fábulas corretas e intensas, sem o menor desperdício de emoção e afeto. Para quem sobe ao palco pela primeira vez, o nosso cronista faria inveja a João Caetano. Está tão à vontade, inflexiona com tal charme, domina o famoso timing cênico de forma tão natural, que nos torna cúmplices gozosos de seus achados. Sem muitos dós de peito, nosso candidato campeão olímpico apoia-se em sustentações normais e redondas do espetáculo. Com mais alguns anos de fidelidade à vocação nascente, não há Latorraca ou Paulo Autran que agüente o tal Novaes. É uma pena que ele não tenha dedicado umas falas a este espermatozóide atacado pela talidomida, que é o Ministério da Cultura. De bandeira arriada, atrás de uma mulher, cobiçado pelos incautos, recusado pelos espertos, este Ministério sem perfil certo, eivado de utopias e paixões tendenciosas, dá-se ao luxo bizantino de ter um secretário da Cultura. É isso, existe um secretário da Cultura no Ministério da Cultura! Dá para agüentar! Mas acredite se quiser!" Alfinetadas a parte no Ministério da Cultura - que aliás, merece mesmo pauladas - Walmir Ayala, crítico mordaz e que no ano passado virou a mesa no Salão Paranaense de Belas Artes, elogia também o diretor do espetáculo, Benjamin Santos ("pelo sopro histriônico que deu vida ao ator Novaes") e classifica de perfeita e eficiente a trilha sonora de Geraldo Torres e de "grande valia" o apoio visual dos cenários e figurinos de Maria Carmen. "Tudo feito com discrição, na justa medida para compor a globalidade da fala de Carlos Eduardo Novaes, um espermatozóide que deu certo".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
02/04/1987

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