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Aramis

A Travessia de Novaes e a corrente de Scott

O riso catipultua as vendas não, há dúvidas. Que o diga o editor Pinheiro Machado, da L&PM, que graças ao "Analista de Bagé" conseguiu tirar a sua editora de vermelho, há alguns anos, e incluí-la entre as mais próspera editoras barasileiras. Ou o luso brasileiro Bernardes, que com os volumes de Millor Fernandes, entre outros, pode também sedimentar a sua Nódica. Dois,entre tantos, exemplos de pequenas editoras que deslencharam com obras na linha do humor - com autores do melhor nível. Carlos Eduardo Novaes, hoje um bem humorado cronista do quotidiano de tanta popularidade quando o gaúcho Luis Fernando Veríssimo ou carioca Fernando Sabino ( este com novo livro na praça, mas de novelas - "A faca de dois gumes", Record ),também foi durante alguns anos, contratado de Jaime Bernardes, da Nórdica. Agora está na Ática, que há algum tempo lançou seu delicioso " A Travessia Americana " ( coleção Autores Brasileiros, nº 92, 112 páginas ), reunindo as crônicas publicadas inicialmente em jornais ( também aqui em O ESTADO ), sobre sua deliciosa saga de 38 dias atravessando os Estados Unidos, coast to coast, na companhia de um amigo - critico de cinema Paulo Perdigão, nos textos sob o pseudônimo de Luis Paulo.E o roteiro foi, basicamente, de dois curtidores de cinema, que se lançaram á aventura para, ao vivo e por terra, pisarem em muitos Estados, conhecerem lugares em que grandes cineastas e artistas viveram momentos emocionantes de clássicos da tela - como Perdigão fala no prefácio. Assim, no texto leve e maravilhoso de Novaes - com perfeitad ilustrações de Vilmar Rodrigues - temos a imagem caleidoscópica, contraditória, dos EUA - a América de Reagan, dos marines e do visceral anticomunismo, convivendo com outra, democrática e admirável, desnuda e sensual - com imagens também de mitos - de James Dean Marilyn Monroe á Estátua de Liberdade. Assim, Novaes não tem meias palavras para revelar a mitologia da vida americana, o american way of life. Em sua escrita descontraída e cáustica, a " terra de Marinbondo,da liberdade e do hanburger " é descrita em todas as suas letras, sem fantasias, arrasando qualquer colonialismo cultural. Com seu companheiro de viagens, Luis ( ou seja, Paulo Perdigão ), ele percorreu doze Estados americanos e dois canadenses, entre gentes e costumes os mais diversos, viveu peripécias loucas, divertiu-se, assombrou-se. Além disso,viu o Oldsmobile alugado,que os transportou, ser "inscrito no Detran americano como o carro que mais sofreu infrações desde a invenção do automóvel". Muito desse on the road, alegre e cheio de imprevistos, de Los Angeles a Nova Iorque, presentifica-se, de forma, vibrante, em " A Travessia Americana". E o traço implácavel e satirico de Vilmar Rodrigues, algumas passagens, em cartuns repletos de picardia. Assim, com um pouco de audácia dos antigos pioneiros e muito de matreirice latino-americana e carioca. Novaes realizou, mais que uma crônica de viagem, um desvendamento irônico e sensivel da turma lá de cima. SCOTT E A CORRENTE - As ilustrações de vilmar Rodrigues também valorizam outro divertido livro lançado há pouco : " A Corrente de Trawis Scott " de Robert Schneider ( Editorial Nórdica, 166 páginas, Cr$ 13.900 ). Autor de um dos best-sellers de 1984 - " O Guia do Assaltado" ( também ilustrado por Vilmar ), Schneider satiriza algo original : todos nós, pelo menos uma vez na vida, já recebemos pelo correio uma corrente, prometendo fortuna e felicidade. Alguns levam a coisa adiante, respondendo. Outros simplesmnete riem e jogam fora.E Schneider, que "resolveu pesquisar a fundo a origem desta instituição universal e milenar, após anos a fio de estudos, chegou, finalmente à mais importante e temível de todas : A Corrente de Trewis Scott! ". Trewis Scott!" E em seu livro ele revela seus mistérios. Finalmente o grande público tem acesso à história secreta da carta que corre o mundo fazendo felizes milionários. E também arruinando muita gente. Diz Schneider que está "cientificamente comprovado que "A corrente Trewis Scott " alterou por completo os rumos da civilização ocidental. Os cientistas ainda não sabem se foi pra melhor ou pra pior". O próprio Schneider, reconhece, teve sua vida radicalmente alterada. Ele era feito, chato, analfabeto, desempregado e etíope. Fez a corrente e dois meses depois recebeu um titulo de cidadania do governo suíço, juntamente com uma conta numerada. Virou louro, charmoso e um papo irresistivel.Passou a falar 15 idiomas, todos ao mesmo tempo. E se transformou num dos melhores escritores de humor do Brasil. Seu primeiro livro, " O Guia do Assaltado ", se transformou num best-seller. Se você não acredita, leia "A Corrente de Trewis Scott". Mais duas informações : o livro traz o texto integral da Corrente. E o último leitor que não o comprou foi, misteriosamente, atropelado por um transatlântico, em plena Avenida Brasil. Portanto...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Leitura
21/04/1985

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