A boa Xica
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de novembro de 1977
A demora no lançamento em Curitiba de "Xica da Silva" (Cine Astor, 4ª semana), motivada por divergências entre os exibidores/produtores prejudicou sem dúvida, a carreira deste filme que no ano passado, em muitas capitais, dividiu com "Dona Flor e Seus Dois Maridos", de Bruno Barreto, as maiores bilheterias. Apesar de tímida estréia e da pequena capacidade do cinema, "Xica da Silva" continua em exibição e atraindo um público razoável. É claro que falta a este filme ambientado na segunda metade do século XVIII o mesmo apelo mercadológico que sobrava na comédia inspirada no "best-seller" de Jorge Amado e rodada na turística Bahia. Em compensação, que tem assistido o filme de Cacá Diegues não nega os aplausos: trata-se de uma das melhores produções já realizadas no Brasil, uma comédia de costumes de alto nível, com excelente trabalho de cenografia e figurinos (Luiz Carlos Ripper) interpretações perfeitas, uma fotografia que captou muito bem a beleza arquitetônica de Diamantina e das paisagens de Minas Gerais, trilha sonora (Roberto Menescal/Jorge Bem) integrada à ação. Enfim, um filme de categoria, que merece ser visto. No elenco, o destaque é claro, vai para Zezé Mota, no papel título, incrivelmente liberta, explosiva, em sua alegria, sensualidade, comunicação. Walmor Chagas, José Wilker, Altair Lima e até Elke Maravilha funcionam a contento. Numa ponta, mas com muita graça, aparece João Felício dos Santos, que pela segunda vez forneceu o roteiro para Cacá (a primeira foi em "Ganga Zumba", até hoje inédito em Curitiba). Assim como aconteceu em recente "thrilling" europeu, onde Friedrich Durrenmatt, além de ser o autor da peça que o inspirou, aparecia num papel marcante, também Felício dos Santos, co-autor do roteiro está muito bem no papel do padre. Muito já se escreveu sobre "Xica da Silva" e não seremos nós que iremos dizer nada de novo. Apenas a dica! Vale a pena ser visto.
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