Cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de fevereiro de 1974
Hoje, com duas sessões plenárias pela manhã e tarde e a sessão de encerramento, às 21 horas, chega ao fim a VIII Jornada Nacional de Cine Clubes, que trouxe a Curitiba cineclubistas de vários Estados, além de dirigentes de entidades ligadas à cultura cinematográfica em nosso País: Cinematecas, INC, Museus, etc. Interrompido desde 1968, quando foi realizada a Jornada de Brasília, o encontro de Curitiba foi uma salutar oportunidade de pessoas que se interessam pelo cinema de arte trocarem idéias, discutirem problemas comuns e proporem soluções - num ambiente de sadio congraçamento, proporcionado pela soma de esforços da Fundação Cultural de Curitiba, Conselho Nacional de Cine Clubes e a colaboração da Paranatur e Fundação Teatro Guaíra. Do encontro, sai fortalecida, por certo, a consciência da necessidade de diminuir entidades de cultura cinematográfica - seja idealisticamente através de cineclubes, sem finalidades comerciais, seja em bases empresariais como os cinemas de arte, desde que dirigidos com consciência e honestidade. O Paraná, em termos de cineclubismo, ainda engatinha: no Norte do Estado, graças ao trabalho do jovem Carlos Eduardo Lourenço Jorge, lúcido crítico de cinema da "Folha de Londrina", funcionam cineclubes em Londrina, Maringá e Apucarana - com possibilidades de virem a ser criadas outras entidades em cidades vizinhas. Em Curitiba, desde 1966, quando José Augusto Iwersen encerrou as atividades do cine clube Pró-Arte, que nada existe neste setor. Nestes últimos nove anos, as promoções de cultura cinematográfica se devem mais a iniciativas de representações diplomáticas - quando elas trazem festivais de filmes de seus países e, a partir de 1971, na esfera municipal, inicialmente através do Departamento de Relações Públicas e Promoções da Prefeitura e, a partir de junho do ano passado, pela Fundação Cultural. É claro que muitas pessoas se preocupam com o bom cinema entre nós, mas em termos concretos, foram poucas as realizações capazes de sobreviverem. A Fama Filmes, que domina 90% das casas exibidoras, embora comercialmente ponha os olhos nos gordos lucros que o chamado cinema de arte pode trazer (estão aí os exemplos da Guanabara e São Paulo) até agora não se conscientizou de que a coisa só funciona com orientação de especialistas, gente que entenda do assunto e que saiba programar com eficiência as chamadas "fitas malditas". De nada adiantará fazer do cine Palácio, quando reconstruído, um cinema de arte com uma programação inexpressiva, sem a devida promoção. Em Londrina, o recém-inaugurado Cine Com-Tour, está tendo sucesso com suas sessões de meia-noite, aos sábados, porque o proprietário, o paulista Pedrinho Pedutti, entregou a um crítico Carlos Eduardo Lourenço Jorge, esta responsabilidade. O que todos querem é ver filmes importantes como "Mama Roma" de Pasoline (foto), "Balthazar" de Robert Bresson - inéditos em Curitiba quase cinco anos após suas estréias na GB e São Paulo - ou ter a chance de rever obras-primas como "O Ano Passado em Mariembad" de Resnais, "Jules et Jim" de Truffaut ou "Os Maridos" de John Cassavetes, desperdiçados em suas anônimas estréias.
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