Cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de janeiro de 1974
A escolha de Curitiba para sediar a VIII Jornada Nacional de Cine Clubes, a partir de sábado, dia 2, com sessões plenárias no Teatro do Paiol, oferece uma oportunidade de reunião de todas as pessoas que diretamente se preocupam com um aspecto muito peculiar dentro da complexidade cinematográfica: a difusão e preservação dos grandes momentos do cinema. Num trabalho com lances que oscilam do heróico ao irônico, mas sempre com a preocupação de oferecer àqueles que se interessam pelo chamado bom cinema a possibilidade de conhecer os filmes citados nas enciclopédias mas há muito retirados das distribuidoras comerciais - ou em vias de o serem - os conservadores de nossas duas Cinematecas - MAM-GB e Fundação Brasileira, em São Paulo, pesquisadores como Ademar Carvalhaes (foto), do Departamento de Cinema do Museu de Arte de São Paulo para só citar alguns poucos exemplos, estão sempre dispostos a correrem em qualquer lugar onde exista uma cópia de um filme importante, que mereça ser preservado, antes que o mesmo tenha o medieval destino que a insensibilidade a falta de visão cultural reservam para todos os filmes, cumpridas a mercantilista missão dos cinco anos: o fogo. Assim, o estabelecimento de uma legislação específica para o cinema de arte, capaz de dar apoio e tirar da clandestinidade o trabalho de "salvar" obras-primas do cinema e permitir a sua exibição livre do fantasma dos mesmos serem então apreendidos pela falta do certificado de censura, é um dos temas mais sérios a serem abordados nos quatro dias de duração da Jornada. Pois embora o assunto não seja novo e já tenha sido levantado em várias ocasiões, ainda continua a espera de uma decisão oficial. E juntamente com este tema, a criação de um sólido mercado paralelo, capaz de dar vazão não somente aos filmes de arte estrangeiros mas, e principalmente, as chamadas "produções malditas" de nosso cinema, será outro assunto que preocupará os participantes das Jornadas organizadas com o máximo cuidado pelo Conselho Nacional de Cine Clubes, presidido por um veterano cine-clubista, Carlos Vieira, que desde 1951 vem se preocupando em unificar o movimento de cultura cinematográfica no Brasil. Após um intervalo de seis anos, os cineclubistas brasileiros voltando a reunir-se num encontro nacional, pois a última Jornada foi realizada em 1968. É bem verdade que hoje o movimento de cultura cinematográfica - durante anos restrito as idealísticas entidades cineclubistas - está bem mais ampliado, de um lado com a movimentação de entidades oficiais - como em Curitiba onde a Fundação Cultural, nos últimos meses tem desenvolvido um intenso trabalho neste setor, através de retrospectivas e ciclos de obras-primas do cinema mundial no Teatro do Paiol. Por outro lado, o cinema de arte, após a bem sucedida experiência de Henry Rocha-Alberto Shatovisky no Cinema I, na GB, também começa a permitir o lançamento (e mesmo a importação) de muitos filmes importantíssimos, mas marginalizados pelos insensíveis distribuidores. Por estas e muitas outras razões, o encontro de 2 a 5 de fevereiro, no Paiol, tem uma grande importância cultural. E merece a máxima cobertura e atenção de quem se interessa pelo nosso cinema, num trabalho sério, sem demagogia e interesses escusos e particulares.
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