Cinema de arte, um negócio. (ainda que sejamos uma cidade universitária)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de agosto de 1975
Numa última tentativa de manter em Curitiba um cinema destinado exclusivamente a filmes de elevado nível artístico, a Fama Filmes passou desde quinta-feira, dia 24, sua programação de fitas de arte, para o Cine Excelsior, na Rua Saldanha Marinho - casa mais acessível para os espectadores motorizados. O artigo Cinema I, na Sala Scala (Rua Tobias de Macedo, esquina Riachuelo), aberto com programação de arte em março/73, com "O Diabo à Quatro Mãos", com os Irmãos Marx, em mais de dois anos de funcionamento não chegou a consolidar um público interessado. Ao contrário do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Santos, São Paulo e Porto Alegre, onde os cinemas de arte obtém excelentes rendas, em Curitiba, apesar de dita Cidade Universitária, os resultados foram decepcionantes. Hanny Rocha, ex-diretora da Columbia Pictures, principal executiva do grupo Cinema I, mostra-se pessimista:
Não entendo o que ocorre com o público universitário de Curitiba. Filmes que em outras cidades são curtidos com entusiasmo, em seu lançamento aqui não tiveram a menor repercussão. Um exemplo: o clássico musical "Cantando na Chuva" (Singing in the rain, 50, de Stanley Donen), no Rio e São Paulo ficou 4 meses em cartaz. Aqui teve 3 magras semanas, com rendas insignificantes.
João Aracheski Filho, executivo regional da Fama Filmes, atribui a localização do Scala, como uma das causas do pequeno público atraído mesmo nas fitas mais bem sucedidas.
- Principalmente após a implantação dos ônibus expressos, na Riachuelo, o acesso ao Cine Scala tornou-se problemático. Uma das razões que nos impulsionaram a transferir a programação do Cinema Um para o Excelsior, é o fácil acesso e amplo espaços para estacionamento próximo aquela casa.
A primeira experiência de cinema de arte em Curitiba foi tentada há nove anos por José Augusto Iwersen, 30 anos, que com o fim do cine clube Pró-Arte, arrendou o auditório do Colégio Santa Maria e ali investiu muitos mil cruzeiros para tentar um cinema de programação classe ª Apesar do cuidado da programação e de seus esforços, a experiência foi encerrado após três anos de elevados prejuízos. Entre 1971/74, no Teatro do Paiol, tentou-se montar um esquema de filmes de arte, limitados pela inexistencia de aparelhagem em 35mm, distancia daquela casa de espetáculos e pouco conforto oferecido. Agora, na modesta sala de exibição Arnaldo Fontana, do Museu Guido Viaro (Rua São Francisco), o esforçado Valencio Xavier , 41 anos, ex-produtor de tv vem tentando manter uma programação regular. Sem recursos, vivendo das magras contribuições dos associados - há mais de 400, embora a frequencia média nas sessões seja de 10 a 50 espectadores, Valencio recorre principalmente as filmotecadas de Embaixadas e entidades diversas (Shell, Maison de France, Goethe Institut) etc., para exibir filmes importantes - grande parte em versões originais. Outros filmes não podem ser mostrados pela falta de equipamento em 35 mm (o único a disposição que existe está instalado n auditório do Colégio Estadual do Paraná, sendo raramente utilizado). Foi o que ocorreu, ainda esta semana, com os filmes do Festival do Novo Cinema Rumeno.
É bastante comprometedor para a dita imagem cultural da cidade, o fracasso financeiro das experiências de cinema de arte. Em compensação lembra o astuto Zito Alves, 47 anos, veterano gerente do Cine Lido.
Em poucas cidades do Brasil as pornochanchadase e westerns spaghetti rendem tanto quanto em Curitiba....
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