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Aramis

Clara e Paulinho em excelentes reedições

O bom senso parece que chegou nos executivos de algumas gravadoras que estão fazendo o óbvio: promover reedições dos melhores discos. A era do CD estimula remontagens das gravações de intérpretes capazes de alcançar boa vendagem, mas há também o mercado tradicional que anseia entender a chance de possuir gravações, reprocessadas eletronicamente, de intérpretes clássicos. Com isto as raridades do mercado - que chegam a valer até NCz$ 300,00 por parte de colecionadores fanáticos - perdem sua cotação e o público é beneficiado. Os que já possuem os discos originais - mas que estão gastos pelo uso - podem substituí-los, enquanto os que ainda não o tinham passam agora a ter a chance de adquiri-los. Infelizmente, as reedições nem sempre são integrais, pois conforme o caso são feitas remontagens das músicas mais conhecidas de vários elepês. Há também relançamentos fidelíssimos, inclusive com a reprodução da capa original - como os quatro relançamentos patrocinados pela loja Breno Rossi (por enquanto só encontrado nas lojas desta cadeia), com produções da Capitol americana: "The Man I Love" com Peggy Lee (e orquestra regida por Frank Sinatra), "Songs in a Midnight Moon" com Dinah Shore; "Dream Dancing" com a orquestra de Ray Anthony e "Bacchanalia!" com a orquestra de Billy May. Quatro pitéus indispensáveis. A CBS, graças ao bom gosto de Maurício Quadrio, vem fazendo muitas reedições - em produções econômicas, cobrindo tanto a área nacional como internacional. A BMG/Barclay, como herdeira do excelente acervo da RCA, criou a coleção Documento e montou dois preciosos álbuns, com os mais conhecidos temas de Cartola (Angenor de Oliveira, 1908-1980) e Johnny Alf (Alfredo José da Silva), que não deixa de ser uma homenagem aos seus 60 anos a serem completados no próximo dia 19 de maio e que merecem outros eventos - tal a sua importância para a MPB. Os cinco anos da morte de Clara Nunes (Paraopeba, MG-12/8/1943 - Rio de Janeiro, 2/4/1983) motivaram a Emi-Odeon a produzir o excelente "O Canto da Guerreira", no qual Francisco Rodrigues selecionou 14 faixas das mais expressivas, entre os álbuns que gravou naquela etiqueta. Como recorda no texto da contracapa seu último marido, o poeta (e letrista) Paulo César Pinheiros, não é fácil fazer uma coletânea de sucessos de Clara, pois "ela emplacava pelo menos três por LP". Assim mesmo com a falta de muitas músicas que imortalizou, houve equilíbrio nesta seleção, com sambas que o Brasil todo cantou como "Conto de Areia", "É Baiana", "Ilu-Ayê", "Quando Vim de Minas", "O Mar Serenou", "Ojexã", "A Deusa dos Orixás", "Canto das Três Raças", "Guerreira", "Festa de Mangaio", "Coração Leviano", de Paulinho da Viola - entre outras. Paulinho da Viola, aliás, com um novo (e belíssimo) álbum na praça após cinco anos sem gravar ("Eu Canto Samba", BMG/Ariola), também merece uma reedição da EMI/Odeon, onde começou sua carreira e fez seus melhores álbuns, valorizado com um belo texto e contracapa de Sérgio Cabral, situando Paulinho dentro da música brasileira, para nós um dos cinco nomes de maior importância em todos os tempos. Como diz Cabral, Paulinho é um artista cheio de talento, e dignidade e discrição, em matéria de elegância comparável apenas a Cartola. "No seu ofício procurou equipar-se cada vez mais, estudando música, sendo, por isso responsável pela grande maioria dos arranjos da música que grava, além de comparecer como violonista e tocador de cavaquinho". Assim, mais difícil ainda do que no caso de Clara Nunes, deve ter sido a Francisco Rodrigues selecionar as 15 faixas deste elepê - programado para edição em CD. Com exceção de "Sentimentos" (Miginha) e "Miudinho" (motivo popular escolhido e adaptado por Bucy Moreira/Raul Marques/Monarco), todas as faixas são de Paulinho. E todas perfeitas, de ótimas a obras-primas: "Foi um Rio que Passou em Minha Vida", "Sem ela eu não vou", "Coisas do mundo minha nega", "Nada de novo", "Um certo dia para 21", "Para ver as meninas", "Dona Santina e seu Antenor", "Dança da solidão", "Guardei minha viola", "No pagode do Vavá", "Argumento", "Coração Leviano" e "Pode Guardar as Panelas".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
12
16/04/1989

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