A geração dente-de-leite vai ao vídeo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de abril de 1989
O cinema está em crise, não há recursos para novas produções mas a criatividade e o desejo de realizar obras em imagens continua a estimular dezenas de jovens. Alguns, com recursos pessoais e muitos sacrifícios, partem para a luta - hoje, com o videoteipe, mais econômico, portátil e imediato. E nesta Curitiba de pouquíssimos cineastas, começa a aparecer uma geração dente-de-leite de videomakers.
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Há um mês que quatro estudantes do último ano do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná trabalham em "Josephine", curta-metragem de ficção, tendo, livremente, como personagem-tema a cantora americana Josephine Baker (St. Louis, EUA - 3/6/1906 - Paris, 12/4/1975), numa visão surrealista e fantástica ao mesmo tempo.
Ontem, sábado, Guido Viaro, 20 anos - neto do pintor e primogênito de Constantino/Vânia Viaro, à frente de um grupo de amigos, iniciou com algumas seqüências no Cemitério Municipal a rodagem de um vídeo-ficção, 20 minutos, ao qual deu o título (provisório?) de "A Loura Fantasma". Guidinho, vindo de algumas experimentações caseiras em super 6 e de dois cursos de cinema com Ozualdo Candeias, apressa-se a explicar:
- O filme não pretende ser um documentário ou mesmo uma ficção baseada no folclore da loura fantasma que, no início dos anos 80, apareceu na madrugada curitibana. Absolutamente! Apenas é uma questão de título."
Quem trabalhou sobre o tema da loura fantasma foi outra videomaker, a bela Fernanda Montori, que fez um roteiro tão bem elaborado que acabou premiado pela Secretaria da Cultura. Já recebeu, inclusive, parte do financiamento, mas ainda não pôde começar a rodar o curta - que será em 35mm, e não em vídeo - embora trabalhe habitualmente com este equipamento.
Guido Viaro, que herdou do pai, Constantino - o entusiasmo pelo cinema (no final dos anos 50, o hoje superintendente da Fundação Teatro Guaíra foi um entusiasta animador cinematográfico e inclusive sócio da cinematografia Flag, que aqui produzia cine jornais e documentários) animou-se a partir para o seu primeiro vídeo com ajuda paterna e o entusiasmo de alguns amigos. A Fundação Cultural que dispõe de um excelente equipamento para vídeo (mas que não está sendo utilizado) cedeu a câmara para as filmagens. Fábio Pinheiros, 21 anos, ajudou no roteiro e um belga que mora há um ano em Curitiba - e que Guidinho conheceu durante o último curso que fez com Ozualdo Candeias, no Museu da Imagem e do Som, também trouxe entusiasmo para o projeto andar. Jan Van Der Bossache, consta, teria feito muitos trabalhos na Bélgica e conheceria, inclusive, a atriz Isabelle Adjani - hoje um dos nomes mais famosos do cinema europeu - ao ponto de lhe enviar um roteiro (em francês) e uma consulta da possibilidade dela vir a Curitiba para fazer o papel principal.
Sonho ou loucura, não deixa de mostrar o entusiasmo da garotada. Como a vinda de Isabelle fica na imaginação, as filmagens serão feitas a partir deste fim de semana com o próprio Jan Van Der Bossche contracenando com uma jovem curitibana, Christiane Dal Volt.
Daniele Rocha fez a assistência de produção e a fotografia é de Cido Marques, 31 anos, já veterano em produções em 16mm/vídeo realizadas em Curitiba - especialmente da hoje extinta Turma do Balão Mágico.
LEGENDA FOTO - Os jovens vão à luta pelo vídeo: em "Josephine", da esquerda para a direita, Miguel Zacarias Neto, Romano Dalanana, Tupã Seretã Matheus, Carlos Bastos e Miguel Neto. (Foto de Cláudio Graziani).
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