Clima de ficção na grande festa do Shopping Mueller
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de setembro de 1983
Foi pena que devido aos naturais problemas de última hora, obrigando a improvisar soluções, os empresários Salomão Soifer, Rubena Telg e Milton Gurtenstein, não tivessem tido a lembrança de encomendar a documentação em filme dos detalhes da Cesta de abertura do Mueller Shopping Center. Até mesmo o habitualmente organizado e tranquilo Luiz Renato Ribas passou u últimas 72 horas trabalhando cm ritmo nervoso, para aprontar "Disck-Tape", na área do lazer, nem se lembrou de determinar a sua equipe de cinegrafistas em teipe, para fazer um documentário do que foi a grande festa que na noite de quarta-feira, 31, marcou a inauguração do grande empreendimento. Realmente, imagens da multidão que se espalhava pelos 65.818 metros quadrados do Mueller Shopping Center, em seus vários pavimentos - o clima de festa não só nos corredores, mas, especialmente em mais de 120 das 173 lojas - davam ao local um clima de ficção científica. Milhares de pessoas usando as escadas rolantes, em grupos nos corredores e, especialmente, visitando as lojas, caracterizavam um evento de características especiais - talvez como nunca antes aconteceu cm Curitiba.
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Não há, ainda, estatísticas confiáveis sobre a festa: o número de pessoas que compareceram, a quantidade de caixas de uisque e vinho consumido não só no coquetel contratado pela Combrashop com vários buffets mas, principalmente, nas recepções independentes que muitos lojistas promoveram. Também nRo há números exatos de quanto soma o custo das decorações das lojas - mas a grosso modo, um pelo outro, estima-se que afora o preço de locação, e despesas físicas - houve um investimento básico de Cr$ 50 milhões por loja. Algumas vendas efetuadas na noite de inauguração embora oficialmente só a partir de Quinta-feira, as mesmas tivessem início - mostram que apesar de se falar em crise, há gente com muito dinheiro, que diga o bilionário Natan Kimelblart, cuja joalheria vendeu nada menos que Cr$ 25 milhões em jóias para alguns endinheirados clientes, só um deles, foi visto preenchendo um cheque de Cr$ 7 milhões por um anel de brilhante.
Modestamente, utilizando o bom gosto e a sensibilidade para decorar a
loja que assumiram por apenas 4 meses, Cristina Moro, uma morena sensualíssima e sua sócia, a elegante e experiente Sarita Guelmann Grupermacher, também não esperavam que já na noite de inauguração, várias das peças expostas na galeria "Momento Arte" fossem vendidas.
- "Se o movimento Cor assim sempre, até que nos acorajaremos a nos fixar permanentemente aqui", comentava Sarita.
Com aluguel médio de Cr$ 600 mil, mais despesas - cada lojista que acreditou no Mueller Shopping Center tem, obviamente, que encontrar bons clientes, e há de se considerar que o entusiasmo da festa, embalada por generosas doses de scotch e vinho branco, pode ter provocado a Sindrome comprista que no dia-a-dia doméstico exige maior reflexão.
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O amplo espaço no qual os empresário José Henrique Leão Teixeira e Ary Alonso, instalaram a "Brinquedos Modernos", parecia até o bar do Graciosa Country Clube. É que Lelo Teixeira, ex-empreiteiro de obras públicas e há 6 anos no tanquilo setor de brinquedos, é um campeão de golfe e há muitos anos, sempre que vem a Curitiba, frequenta o Country. Dai nasceu uma amizade com os golfistas da cidade - leia-se, alguns dos maiores contribuintes do imposto de renda do Estado - que, convidados a inauguração, permaneceram horas na "Brinquedos Modernos", estimulados por fartas doses do melhor uisque e deliciosos canapés.
Antes de decidir cm instalar a sétima loja de sua cadeia em Curitiba - já existem quatro no Rio e duas em São Paulo - Alonso, jovem de grande vivência publicitária, rilho de um dos grandes empresários do setor, e José Henrique Leão Teixeira, estudaram o mercado. Constataram a inexistência de lojas especializadas em brinquedos (as poucas que se dedicam a este ramo, são tímidas em suas ofertas) e com a experiência bem sucedida no eixo Rio - São Paulo, decidiram investir mais de Cr$ 60 milhões para preencher este espaço. Só em mercadoria - são mais de mil opções no mundo mágico dos brinquedos - foram Cr$ 20 milhões. Uma decoração moderna, com requintes especiais para a garotada (um escorregador espacial, por exemplo), afora uma área para video-games, constituem atrações a parte da Brinquedos Modernos, "antes de tudo um espaço para as crianças mergulharem no mundo da fantasia, independente de seus pais comprarem ou não os brinquedos oferecidos" explica Leão Teixeira, um relações públicas nato - daquelas personalidades que nos lembram a definição de Dale Carnegie: "10 minutos após a apresentação, nos dá a sensação de ser amigo de infância".
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Os suplementos e encartes especiais que a competente Silvia Dias coordenou para informar detalhadamente toda a estrutura do Mueller Shopping Center, somados as amplas campanhas publicitárias que muitas das organizações ali instaladas iniciaram, trazem, obviamente, detalhes deste empreendimento gigantesco - e impossível de ser descrito em algumas linhas de coluna. Independente dos aspectos urbanísticos-logísticos que quase levaram o prefeito Maurício Fruet a interditar a obra, alegando discutíveis questões legais, o fato de no ano em que o Brasil enfrenta uma de suas maiores crises financeiras, existir um investimento físico de mais de 10 milhões de dólares para a construção do Shopping - e mais outra metade bancada pelos 170 empresários que se instalaram - faz com que esta inauguração seja noticia - independente da publicidade natural que gerou. Não é sem motivo que Ricardo Cravo, o astuto diretor da Avand Publicidade, do Shopping Center Pinhais, levantou uma verba de Cr$ 40 rnilhões para promover mais intensamente aquele distante centro de vendas, já que o impacto da inauguração do Mueller Shopping Center, trará reflexos nas vendas de outras lojas. Se o grupo C&A, fortíssimo, garante a sobrevivência do Shopping de Pinhais (se assim não fosse, há muito já teria ido para o brejo), há dezenas de pequenos lojistas, tradicionais e conservadores, que agora, finalmente, estão acordando e pondo suas malhas de molho: os comerciantes que investiram milhões no Mueller estão entrando para valer e não vão brincar em serviço. Portanto, a guerra comercial agora tem início e esperamos que entre mortos e feridos, o consumidor seja beneficiado. Afinal, nada melhor para evitar a exploração nos preços, do que a possibilidade do cliente encontrar a melhor oferta.
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Frase do jornalista e publicitário Hélcio José Gonçalves, superintendente da Editora "O Estado do Paraná", sobre o presidente da Combrashop - empresa que construiu o Shopping Center Mueller:
- "Com essa obra, Salomão Soifer escreveu seu nome na história de Curitiba",
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